O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes disse ser favorável à criação de uma agência única de avaliação e incorporação de novos tratamentos que atenda tanto a saúde pública quanto a privada.
Essa agência unificaria os trabalhos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que libera um novo medicamento para uso no país, e da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias), ligada ao Ministério da Saúde e que decide se o novo remédio tem custo efetivo para ser ofertado no SUS.
Em entrevista após sua participação no CNN Talks-Saúde, na segunda (21), Mendes disse que, como os planos de saúde já são obrigados a fornecer medicamentos incorporados pela Conitec, faz sentido que haja um único sistema de avaliação, a exemplo do que ocorre em outros países, como a Inglaterra.
"O pessoal da saúde suplementar reclama que seria preciso haver o mesmo tratamento que se dá ao SUS", disse o ministro.
Hoje, quem decide se os planos devem ou não ofertar novos remédios e procedimentos aos seus usuários é a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). Paulo Rebello, presidente da agência, tem defendido uma maior integração dos setores público e privado, mas diz que falta vontade política por parte do ministério.
Gilmar Mendes afirmou que já existem "propostas, esboços", para a criação de uma agência única. O projeto deve partir do governo federal e ser levada ao Legislativo, em uma "grande reforma do sistema". Procurado, o Ministério da Saúde não respondeu até a publicação desta reportagem.
Essa ideia de uma agência única de avaliação e incorporação de novas tecnologias já foi debatida em vários fóruns da saúde suplementar nos últimos anos, mas nunca prosperou no âmbito do Executivo ou do Legislativo.
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"Fico feliz quando vejo um ministro do Supremo trazendo esse tema [da criação de uma agência única] porque significa que ele entendeu a importância disso tanto para a saúde pública quanto para a suplementar", diz Gustavo Ribeiro, presidente da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde), que também esteve no evento.
Para ele, com uma agência única, haveria uma coesão e uma equidade maior na saúde brasileira. "Não existe nada que seja bom para o setor público que não seja para o setor suplementar e vice e versa. Um setor e o outro se complementam, se ajudam de uma forma ou de outra."
Dados do STF apontam que nos últimos quatro anos o número de novas ações judiciais relacionadas à saúde quase triplicou. Passou de 21 mil por mês, em 2020, foram 61 mil neste ano. O total acumulado passou de 347 mil em 2020 para 600 mil nesse ano, um salto de 72,9%.
Mendes afirmou que várias medidas estão sendo estudadas como forma de conter a judicialização da saúde. "Queremos reduzir com consistência, não deixando pessoas desprovidas na proteção do seu direito", completou.
Foi o ministro que esteve à frente de um acordo recente com a União e os Estados que culminou em uma decisão inédita do STF. A partir de agora, medicamentos não ofertados pelo SUS não poderão mais ser obtidos por via judicial, exceto em casos muito específicos, por exemplo, situações em que a eficácia e a segurança estejam comprovadas e em que não há outra opção de tratamento.
Para Gustavo Ribeiro, da Abramge, essa decisão do STF deveria valer também para os planos de saúde. "Se não é adequado para o público por que seria para o privado? O dinheiro que administradoras gerem não é delas. É dos beneficiários. Por que o dinheiro deles pode ser gasto com algo que não tem eficácia comprovada ou não tem custo e efetividade avaliadas e o do SUS não? Isso não faz o menor sentido."
Ribeiro diz que o setor está avaliando caminhos técnicos e jurídicos para buscar uma abrangência desse entendimento do STF para a saúde suplementar.
No evento, Gilmar Mendes também sinalizou que está em estudo um acordo de compartilhamento de risco para baratear o Elevidys, medicamento de custo médio de R$ 17 milhões usado no tratamento da Distrofipa Muscular de Duchene.
Em setembro, Mendes suspendeu liminares que obrigavam o Estado a custear o medicamento a pedido da União. Depois, recuou e abriu exceção para obrigar o pagamento do Elevidys para crianças com até 7 anos.
O medicamento ainda não está disponível no SUS e está em avaliação pela Anvisa. Devido a essa situação, famílias têm recorrido à Justiça para que o Ministério da Saúde cubra os custos.