Até meados da década passada, o Gol era líder, com o Palio sempre ameaçando. Na época, era a principal rivalidade do mercado de carros. Então veio o Onix. De 2015 a 2020, ele liderou. De 2017 em diante, com uma vantagem humilhante sobre os concorrentes - que variavam entre Palio, Ka, Gol e H20.
Então, em 2021, tudo acabou. O Chevrolet foi superado pela Strada. Culpou-se a pandemia. Especulou-se que era fenômeno passageiro, e os hatches logo voltariam ao topo.
Quatro anos se passaram. Quatro anos de liderança da Strada. Os hatches, até agora, não conseguiram voltar. E provavelmente jamais vão conseguir. Ao menos, não de maneira consistente, por anos e anos, como fizeram no passado e a Strada faz agora. Isso porque, aos poucos, eles vêm sendo substituídos na linha das próprias montadoras.
Quem é quem
Mas, antes de falar sobre o futuro, vamos falar sobre o presente dos hatches. Atualmente há quatro carros na lista dos dez mais vendidos: Polo, Onix, HB20 e Argo. Kwid e Mobi visitam eventualmente esse grupo, mas não têm presença garantida.
Fora esses seis, quais são os outros hatches compactos do Brasil? Você consegue se lembrar sem pensar um pouco? Pois é! O segmento está cada vez mais enxutos. Há ainda o C3 e o 208, respectivamente de Citroën e Peugeot, além do Honda City. O Toyota Yaris está saindo de linha (leia mais abaixo).
Nomes como Gol, Sandero, up!, Ka e March disseram adeus sem substituto. Ao menos, sem um substituto do próprio segmento.
O Polo estava de mal a pior no ranking de vendas. No fim de 2022, a VW deixou o modelo mais simples (e barato). Em 2023, veio a versão Track, voltada a frotistas. Então, o carro começou a brigar com a Strada pelo topo.
Em 2024, foi o segundo modelo mais vendido do Brasil. Onix e HB20, por sua vez, estão brigando pelo terceiro lugar desde 2022, ano em que o Hyundai levou vantagem. Em 2023 e no ano passado, foi a vez do Chevrolet. O Argo foi o quinto mais emplacado de 2024.
No primeiro bimestre deste ano, o Polo manteve seu segundo lugar. Já o Onix caiu para o quinto lugar e o HB20, para 11º (o Argo subiu para a quarta posição). E quem são os demais modelos desse top 10? SUVs e picapes, produtos de maior valor agregado.
Início de 2025 mostra tendência
É lá na parte de trás do ranking que os hatches mostram mais sua fragilidade. O C3, que era 39º colocado no ano passado, caiu para a 50ª posição no primeiro bimestre. A razão é o avanço do Basalt, SUV cupê que chegou no fim do ano passado e tirou clientes do hatch.
A Volkswagen, por sua vez, mostrou o Tera no carnaval do Rio de Janeiro. O modelo é classificado como SUV, de uma categoria que surgiu a partir do Nivus: a de subcompactos. Hoje tem também o Pulse, o Kardian e o Basalt.
Subcompacto, aqui, não tem a ver só com tamanho, e sim com posicionamento de preço na linha. Ou seja: são os SUVs de entrada. Mas por que a VW terá o Tera, se já tem o Nivus?
Porque a função desse novato é outra. Antes de ele ser mostrado, estavam dizendo se tratar de um novo Gol. O conceito está errado se pensarmos em um carro popular. No entanto, está correto considerando que, a médio prazo, é grande a possibilidade de que o Tera seja o produto de entrada na Volkswagen (para o varejo).
E o Polo? Vai continuar, mas a tendência é que esse novo crossover substitua as versões mais caras. E isso não deve demorar a ocorrer. Afinal, o Basalt deixou claro que, entre hatch e SUV, o segundo ganha.
Modelos como Tera, Kardian, Pulse e outros subcompactos são hatches com altura do solo suficiente para serem chamados, no Brasil, de utilitários-esportivos - de acordo com a classificação do Inmetro. Há quem prefira se referir a eles como crossovers, mas a verdade é que as marcas vão sim usar o padrão técnico definido pelo instituto para chamá-los de SUVs. Afinal, é isso o que o consumidor quer.
Já houve tentativa de fazer versões aventureiras de hatches no passado - a exemplo do CrossFox. Desta vez, é diferente. Os crossovers, ou SUVs subcompactos, têm nome próprio e visual exclusivo. Assim, são aceitos como modelos diferentes daqueles com que dividem plataforma - os hatches e sedãs compactos.
Com a chegada do Kardian, a Renault deixou de oferecer as versões que ainda existiam do Sandero. O Yaris vai sair de linha para dar lugar ao Yaris Cross. A Nissan ficou muito tempo sem um hatch para chamar de seu, após aposentar o March.
Agora, com a chegada do novo Kicks, volta a ter um carro de entrada. Esse posto, porém, não será de um hatch. Passa a ser ocupado pela atual geração do SUV (agora chamada de Kicks Play).
Carro de frotista
Então todas as marcas vão substituir seus hatches por SUVs subcompactos? A curto prazo, nem todas. Este ano, por exemplo, chega o novo Onix, com boas atualizações. Para 2026, está prevista a nova geração do HB20.
Porém, em 2026, a Chevrolet terá um SUV subcompacto. Daí em diante, o Onix pode ter sua linha simplificada, perdendo as versões mais caras. Assim, a tendência é que, a médio prazo, a maioria das marcas passe a ter hatches compactos apenas para desempenhar as funções de modelos simples como Mobi e Kwid, e também do Polo Track: ser carro de frotista.
Para o consumidor de carro zero que compra no varejo, a melhor opção passará a ser o SUV subcompacto. Mas eles não são mais caros que as versões bem equipadas dos hatches? Sim. Só que desde que o consumidor de carros básicos perdeu poder aquisitivo, e se voltou aos usados (algo que começou ainda no fim década passada, antes mesmo da pandemia), as marcas demonstram pouco interesse por segmentos de entrada.
Agora, lançam para o consumidor pessoa física carros mais bem equipados, tecnológicos e caros, além de seguros (até porque a legislação está mais exigente nesse aspecto). Os basicões sobrevivem sem grandes investimentos para atender um público fundamental, o frotista.
E assim, mais um segmento vai deixando de existir (ao menos nas classificações definidas pelo Inmetro e pelo marketing das montadoras) para dar lugar aos SUVs. Hoje, entre compactos e subcompactos de marcas generalistas (fora do segmento premium), há apenas dez hatches a combustão no mercado. Utilitários-esportivos? Quinze!
Isso sem contar os médios. Acrescentando produtos como Compass, Corolla Cross, Taos, chineses e mexicanos, são pelo menos mais 10.
Vendas de hatches a combustão em 2025 (primeiro bimestre)
1º Volkswagen Polo - 13.761 exemplares
2º Fiat Argo - 11.480
3º Chevrolet Onix - 10.290
4º Fiat Mobi - 9.573
5º Hyundai HB20 - 8.239
6º Renault Kwid - 6.998
7º Honda City - 2.926
8º Citroën C3 - 1.951
9º Toyota Yaris - 1.495
10º Peugeot 208 - 1.365
Fonte: Fenabrave
Opinião
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