A missão era simples: achar Fernanda Torres nas baladas de Los Angeles do sábado, véspera da premiação do Globo de Ouro. Quatro horas e algumas tacinhas de champanhe depois, a missão falhou. Mas vi tanta gente famosa e ouvi tanta fofoca boa que a operação valeu a pena.
Fernanda Torres tinha três festas para ir no sábado, todas parte dos festejos do evento que ocorre neste domingo. Eu tinha convite apenas para uma delas, a da revista Variety e do estúdio Amazon MGM no Bar Marmont.
A entrada era uma tenda preta levantada no estacionamento, meio apertada, com bar open, mesa de caviar e uma estante gigante de queijos. Uma portinha quase secreta levava ao bar do hotel Chateau Marmont, um dos mais famosos da cidade, com corredores intimistas, mais dois bares e uma pistinha de dança.
Era tanta celebridade por metro quadrado que me senti numa festa de conhecidos, como se meus personagens favoritos tivessem resolvido ir à mesma balada, num grande "crossover".
Jodie Foster estava elegantérrima com um terninho preto. Sua colega de cena em "True Detective: Terra Noturna", Kali Reis, estava estonteante com um complicado penteado de trancinhas. Kevin Bacon veio com uma camisa do Iron Maiden. Ele era o centro das atenções numa rodinha com quatro jovens loiras. Mikey Madison, atriz do momento por conta de "Anora", passou voando de tubinho branco.
De fato, a noite parecia muito com meu hobby de passarinhar. Muitas vezes avistava um rosto famoso, familiar, mas não tinha ideia do nome, nem do trabalho.
Foi assim com Kyle MacLachlan, o eterno agente Dale Cooper de "Twin Peaks", e Titus Welliver, o policial durão de "Bosch". E também com Kiernan Shipka, que anos atrás fez a pequena Sally de "Mad Men" e agora está bem adulta. Ela está no incrível "The Last Showgirl", filme estrelado por Pamela Anderson, que disputa com Torres o Globo de Ouro de melhor atriz.
Shipka estava atrás de mim enquanto eu conversava com gente como a gente –uma funcionária da cabine de fotos da Variety. Ela me contou que uma vez deu "match" com Shipka num aplicativo de namoro, embora não tenha levado o flerte adiante. Ela também me falou sobre os piores anos da sua vida, quando foi assistente de Kylie Jenner por seis meses.
Assim como passarinhar, onde é raro interagir com as criaturas no mundo selvagem, as celebridades também pedem um certo distanciamento. Porém, depois de algumas tacinhas de champanhe, não perdi a chance quando cruzei com Scoot McNairy num corredor apertado.
Ele sorriu para não trombar comigo, pegou no meu ombro, e eu me declarei. Disse que tinha ficado deprimida com o fim de "Halt and Catch Fire", uma série obscura sobre hackers. McNairy colocou a mão no peito e disse que também tinha ficado triste com o final.
O ator está em dois filmes grandes da temporada de prêmios. Ele faz Woody Guthrie em "Um Completo Desconhecido", sobre Bob Dylan, e faz o marido da personagem de Amy Adams em "Canina", sobre uma mulher à beira de um ataque de nervos que vira um cachorro.
O ápice da noite foi encontrar o astro japonês Hiroyuki Sanada, favorito ao Globo de Ouro de melhor ator de série de drama por "Xógum". Ele estava sozinho e descíamos uma escadinha até o bar. Brindamos e conversamos sobre Tóquio, uma cidade que conheço bem.
Sanada me agradeceu por ter escrito reportagens sobre seu país e por ter trabalhado nos Jogos Olímpicos em 2021. Claramente eu já não estava sóbria para estar me gabando de trabalhos jornalísticos com uma celebridade do alto escalão. Fui salva do vexame por duas jornalistas japonesas que quase caíram para trás ao ver Sanada-san.
Deixei os três conversarem em paz e ainda ofereci para tirar uma foto do trio, uma blasfêmia numa festa de gente tão cool. Mas eles toparam e, com isso, achei que era a hora de ir embora.
Na saída, conheci uma jornalista suíça com 30 anos de Los Angeles. Ela disse que havia visto Fernanda Torres no início da festa, numa entrada diferente do hotel. Tentei tirar os mínimos detalhes de informação, sem sucesso. Assim como uma "avis rara", Fernanda Torres bateu asas e voou.