A família Bolsonaro abriu fogo contra o influenciador Pablo Marçal (PRTB), escalando os ataques nesta quinta-feira (22) —mesmo dia em que o Datafolha mostra que o empresário disparou nas intenções de voto para a Prefeitura de São Paulo entre eleitores do grupo.
Ao mesmo tempo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato oficial do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em São Paulo, perdeu fôlego entre os bolsonaristas.
Desde a noite de quarta (21), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) vem fazendo críticas duras ao empresário nas redes sociais, e os dois passaram a trocar farpas. A conta Bolsonaro também fez frente ao influenciador.
Em vídeo publicado na quarta-feira, Eduardo pediu que apoiadores "tomem cuidado", citando suspeitas que ligam a sigla de Marçal à facção criminosa PCC, e associou a conduta do influenciador a uma tentativa de "lacração".
"Começa a perder um pouco da moral para ficar fazendo aquela gracinha acusando os outros de cheirador. Inclusive falou que havia dois, e um não apontou quem é. Enfim, tem gente que gosta da lacração", disse.
Nesta quinta (22), a discussão continuou. Eduardo repercutiu comentário de Marçal em que disse que a situação já estaria resolvida com Bolsonaro.
"Se tivesse resolvido com meu pai não precisaria editar meu vídeos retirando-os de contexto para enganar eleitores de Bolsonaro de que eu vou votar em você. Isso é estelionato eleitoral", rebateu o deputado federal.
Marçal também trocou farpas diretamente com o ex-presidente. Ele comentou em uma publicação de Bolsonaro: "Pra cima capitão. Como você disse: eles vão sentir saudades de nós". O ex-presidente então respondeu: "Nós? Um abraço."
O influenciador, em seguida, disse que doou R$ 100 mil para a campanha de Bolsonaro em 2022 e o ajudou com a estratégia digital.
"Entendo sua palavra ao Valdemar Costa Neto [presidente do PL], mas a honra e a gratidão são frutos de um homem sensato (...) Se o capitão quiser me tirar do 'nós', me ajude devolvendo os 100 mil reais depositando na minha campanha aqui de prefeito a São Paulo", afirmou.
Por volta das 16h, Eduardo Bolsonaro publicou um vídeo no Instagram voltado apenas para críticas a Marçal. Na imagem fixa da publicação, o influenciador aparecia com uma plaquinha de criminoso abaixo do seu rosto, com os dizeres "Quem é este?". Mas, menos de uma hora depois, o parlamentar já havia apagado o vídeo.
Eduardo também publicou um vídeo em que simula uma entrevista com Nunes, abrindo espaço entre os seguidores bolsonaristas para que o prefeito explicasse por que gravou um vídeo em apoio à candidata a vereadora Joice Hasselmann (Podemos), ex-deputada federal considerada "persona non grata" pelo grupo desde que rompeu com Bolsonaro em 2019. A gravação gerou irritação entre a família.
No vídeo, Nunes diz que tem "zero relação" com Joice e que gravou mensagens em apoio a todos os 600 candidatos a vereador de sua coligação. Nos comentários, diversos seguidores de Eduardo lamentaram o apoio ao prefeito e afirmaram que estão com Marçal.
Na semana passada, o caso Joice somou-se a uma insatisfação contínua dos bolsonaristas com Nunes, que se deve ao fato de que, mesmo depois de ter aceitado o indicado de Bolsonaro a vice, o prefeito vinha evitando explorar a imagem do ex-presidente em sua campanha. Nunes segue numa corda bamba: precisa do eleitorado bolsonarista, mas teme herdar a rejeição do aliado e perder votos do campo moderado.
O ex-presidente chegou a elogiar Marçal em entrevista à Rádio 96 FM, de Natal, no dia 15 de agosto. Ele disse que o influenciador "fala muito bem", é "uma pessoa inteligente" e "tem suas virtudes". Afirmou, ainda, que o prefeito não é o "candidato dos sonhos", ainda que tenha assumido o compromisso de ajudá-lo.
Poucos dias depois, porém, Bolsonaro ajustou o discurso e afirmou à CNN que Marçal mentiu ao dizer que nunca buscou seu apoio. No início da semana, o PL publicou nas redes um vídeo no qual o ex-presidente reforça o apoio à candidatura de Nunes.
Segundo uma pessoa próxima de Bolsonaro, caciques partidários pressionaram o ex-presidente a manifestar, mais uma vez, que está com o prefeito. O pedido teria partido do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, do presidente do PP, Ciro Nogueira, e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Tarcísio já manifestou a aliados, diversas vezes, preocupação com o crescimento do influenciador. Ele foi peça-chave no processo de aceitação de Mello Araújo como vice de Nunes, defendendo que a indicação seria importante para amarrar o ex-presidente com o prefeito e estancar a onda Marçal.
Ao longo dos últimos meses, o influenciador tem ativado símbolos que são caros para o eleitor do ex-presidente, aproveitando-se do baixo entusiasmo de apoiadores de Bolsonaro com a candidatura do prefeito.
Nunes não empolga os aliados de Bolsonaro por ser visto como alguém que evita o confronto e que não é verdadeiramente alinhado às pautas do grupo.
No conjunto de elementos reforçados pelo influenciador estão acenos ao nacionalismo, a Deus, à família conservadora, a valores morais conservadores, ao caráter antissistema e ao empreendedorismo.
Aliados do ex-presidente afirmam que o perfil de Marçal, alguém mais agressivo, que vai para o confronto nos debates e que tenta parecer autêntico, agrada o eleitor bolsonarista. O influenciador também tem apostado em reforçar a imagem de virilidade e masculinidade, um aceno para os homens conservadores.
Políticos do grupo afirmam que não irão fustigar Nunes ou declarar apoio público a Marçal. Mas ponderam que o ecossistema digital revela que os eleitores estão animados com o influenciador e que líderes conservadores sem amarras com Bolsonaro podem acabar manifestando apoio ao empresário.
A estratégia de acionar símbolos bolsonaristas ficou clara na convenção do PRTB que confirmou a pré-candidatura de Marçal. Ele foi mencionado por dirigentes do partido como alguém que defende os valores "Deus, pátria e família", lema de origem fascista que compôs a fundamentação ideológica do governo Bolsonaro.