O que rolou?
O app do banco, tradicional ou moderninho, não abre. É impossível agendar uma consulta médica. Comprar passagem online? Nem pensar. Por trás dessas inconveniências cotidianas pode haver um ataque às infraestruturas que mantêm esses serviços funcionando. E isso pode ser mais comum do que parece, já que:
- Em 2024, o Brasil sofreu 871.632 ataques. Trocando em miúdos, foram: 2.388 por dia; 99,5 por hora ou 1,65 por minuto. O salto de um ano para outro foi grande, mas...
- ... Partiu de um patamar elevado, afinal as 688.565 investidas contra serviços de 2023 já não eram pouca coisa. Isso acontece, porque...
- ... O Brasil chama a atenção no mundo por abrigar grandes empresas nacionais e multinacionais e ter uma representatividade regional. E...
- ... Os setores que figuram como alvos prioritários são aqueles ligados à infraestrutura de rede, como as teles e as companhias de nuvem:
- Telecomunicações sem fio (exceto satélite): 48.845 ataques
- Infraestrutura de computação e hospedagem: 28.923
- Transporte local de frete: 11.697
- Telecomunicações em geral: 10.585
- Operadoras de Telecomunicações com fio: 8.157
- Bancos: 4.587
- Portais de pesquisa na web e outros serviços de informação: 4.528
- Organizações Religiosas: 2.173
- Corretoras de Seguros: 2.162
- Distribuição de filmes e vídeos: 1.458
- ... Uma vez atacadas, as líderes do ranking precisam correr para estabilizar o serviço e não deixar suas clientes, as plataformas conectadas que os brasileiros, caíam como peças de dominós. Pelo caráter crítico, elas também encaram os incidentes mais brutos. O maior registrado chegou a 433,86 Gbps de largura de banda e 251,09 Mpps de taxa de transferência.
O Brasil sempre está entre os cinco países mais atacados e também sempre está entre os cinco países onde se geram muitos ataques
Geraldo Guazzelli, diretor geral das operações no Brasil da Netscout
Por que é importante?
O nome técnico das investidas contabilizadas pela Netscout é DDoS, sigla em inglês para ataques distribuídos de negação de serviço. São uma avalanche de pedidos de acesso a um serviço que, por não dar conta, acaba saindo do ar. Mas como diferenciar um grande volume de acessos mal intencionados de uma turba de fãs louca para ver o novo episódio de sua série favorita?
Segundo Guazzeli, a detecção passa pela análise da origem do tráfego para identificar se há botnets envolvidas. Essas redes de equipamentos eletrônicos contaminados ficam inativas a maior parte do tempo, como zumbis adormecidos. Ao estalar de dedos do criminoso que as comanda, desandam a enviar requisições aos serviços até tirarem-no do ar. Em paralelo, a Netscout investiga o submundo da internet, onde bandos de criminosos se reúnem e relatar suas proezas. Só que o DDoS são apenas parte do plano, não é o objetivo final.
O ataque DDoS é muito usado em uma sistemática de invasão de empresas. Depois que o hacker consegue invadir, descobrir uma fragilidade e executar um plug-in de software, bloqueando um servidor, um serviço, uma aplicação. Ele invariavelmente faz um ataque DDoS para tirar a tensão de toda a equipe de segurança dessas empresas. Com isso, eles focam na mitigação do ataque, enquanto o hacker faz o que ele pretende fazer lá: encriptar um servidor para depois pedir um resgate. São os famosos ramsowares
Geraldo Guazzelli
Atento, Fleury, JBS são algumas empresas que passaram por isso recentemente, lista o executivo. "O hacker extraiu informações, ficou de posse delas para chantagear e obter vantagens financeiras, pagamento de resgate."
Não é bem assim, mas tá quase lá
Em outros países, a motivação financeira ficou em segundo plano em 2024, e o motor da expansão criminalidade cibernética foi a motivação política.
Em Israel, o volume de incidentes cresceram 2.844%, com forte relação ao resgate de reféns mantidos pelo grupo terrorista Hamas. Na Geórgia, a alta de ataques foi de 1.489%, antes da aprovação da "Lei Russa" —controversa, a legislação obrigou organizações não governamentais e veículos de comunicação com mais de 20% do faturamento vindo do exterior a se declararem como "agentes de influência estrangeira".
O caso da Geórgia é bastante típico e remete a um ataque de estado. Nesse caso, muito possivelmente, entidades pró-Rússia ou eventualmente da Coreia do Norte. Quando você a olha a situação da Geórgia e a tentativa dela de entrar para a OTAN, o que é uma ameaça política à Rússia e ao bloco liderado por ela, você vê ataques de estado aí.
Geraldo Guazzelli
DEU TILT
Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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