Expansão do cérebro humano determinou também sua deterioração

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O mesmo processo que permitiu a grande expansão do tamanho do cérebro humano ao longo da milhões de anos também deixou nossa espécie muito mais vulnerável à degeneração cerebral que ocorre durante o envelhecimento, indica um novo estudo.

O trabalho chegou a essa conclusão comparando detalhes da anatomia do órgão em pessoas, chimpanzés (os parentes vivos mais próximos do Homo sapiens) e duas espécies de macacos de parentesco mais distante conosco, os babuínos e resos.

Segundo a análise, embora os chimpanzés já apresentem algum grau de atrofia no cérebro conforme envelhecem, o processo é bem mais acentuado nos membros da nossa espécie, e afeta de forma mais intensa justamente as áreas que passaram por uma expansão maior nos últimos 7 milhões de anos, depois que a linhagem que daria origem aos seres humanos se separou da dos grandes macacos africanos.

Detalhes da pesquisa acabam de sair em artigo na revista especializada Science Advances. O trabalho foi coordenado por Sam Vickery e Felix Hoffstaedter, ambos ligados à Universidade Henrich Heine, na Alemanha, e contou ainda com a participação de pesquisadores da Universidade do Texas, nos EUA, local onde foram feitas as análises cerebrais de chimpanzés. O estudo foi completamente não invasivo —os primatas, que vivem num centro especializado para cuidar deles em cativeiro, passaram por exames de ressonância magnética idênticos aos que são feitos com seres humanos.

O cérebro do Homo sapiens tem volume cerca de quatro vezes maior que o dos chimpanzés (cerca de 1.200 cm³ versus 300 cm³, respectivamente). Já se sabe há muito tempo que essa diferença de tamanho não vem de um aumento geral e proporcional de todas as áreas cerebrais, como se o órgão humano fosse apenas uma "versão GG" do símio.

Algumas regiões da anatomia cerebral foram privilegiadas por esse crescimento, em particular o chamado córtex pré-frontal —localizado, grosso modo, na região da testa, e importante para a complexidade do repertório comportamental humano, afetando capacidades de autocontrole e planejamento de longo prazo, entre outras coisas.

O córtex pré-frontal é também uma das últimas regiões do cérebro a amadurecer, frequentemente depois dos 20 anos de idade, e uma das primeiras a serem afetadas por problemas neurodegenerativos, como o mal de Alzheimer.

É por isso que alguns pesquisadores defendem uma hipótese resumida pela frase "o último que entra é o primeiro que sai". A ideia é que, justamente por ser uma "cereja do bolo" evolutiva, com desenvolvimento mais complexo e frágil, essas regiões também seriam mais vulneráveis ao longo do ciclo de vida humano.

Para testar essas ideias, os pesquisadores examinaram os processos de deterioração da chamada matéria cinzenta do cérebro, parte do órgão rica nas estruturas principais dos neurônios. É algo que acontece naturalmente com o envelhecimento, embora esse processo seja mais curto com os chimpanzés, cuja expectativa de vida em cativeiro dificilmente chega aos 60 anos. Por isso, para que a comparação fosse coerente com níveis de envelhecimento similares, os pesquisadores não incluíram no trabalho pessoas com mais de 50 anos de idade.

Os dados comparativos revelaram, de um lado, que não houve uma tendência de aumento dos danos neurológicos no envelhecimento quando o cérebro de tamanho equivalente ao dos macacos menores (resos e babuínos) se tornou similar ao dos chimpanzés. No entanto, foi exatamente isso o que aconteceu quando o cérebro humano cresceu muito mais do que o nível visto nos grandes símios —um processo que ganhou fôlego um pouco antes de 1 milhão de anos atrás, grosso modo.

As razões para isso não estão claras. Uma possibilidade é o fato de que as áreas com maior crescimento cerebral incluem regiões com alta densidade de conexões entre neurônios. Por isso, seriam mais vulneráveis diante das perturbações do envelhecimento.

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