A ESA (Agência Espacial Europeia) investiu 862 milhões de euros (R$ 5,2 bi) em sua meta de se tornar um ator relevante na exploração lunar e concedeu um contrato à Thales Alenia Space para construir seu primeiro veículo de carga para a Lua.
Daniel Neuenschwander, chefe de exploração humana e robótica da ESA, disse que o acordo para começar a desenvolver e construir o módulo lunar robótico Argonaut é um marco importante na estratégia da Europa para garantir maior autonomia no espaço.
Isso ocorre enquanto o continente se prepara para possíveis mudanças na política espacial dos Estados Unidos sob o presidente Donald Trump.
"Se a Europa quer desempenhar um papel substancial na exploração lunar, precisa ter suas próprias capacidades", disse Neuenschwander ao Financial Times. "O Argonaut é realmente o acesso autônomo e versátil da Europa à Lua."
O contrato também é uma grande vitória para a Thales Alenia Space, uma joint venture que é 67% de propriedade da francesa Thales e 33% da italiana Leonardo.
A Thales Alenia Space superou a concorrência da Airbus para construir o elemento de descida lunar do módulo —essencialmente um caminhão espacial projetado para transportar 1,5 toneladas métricas de carga para a Lua.
A alemã OHB fornecerá elementos de controle de navegação e comunicação.
O Argonaut deve realizar sua primeira missão por volta de 2031 e espera-se que transporte carga para a Lua aproximadamente a cada dois anos depois disso.
A primeira missão, que está em discussão agora, pode envolver a entrega de cargas úteis de navegação e telecomunicações, ou sistemas de geração e armazenamento de energia.
O Argonaut não é apenas para aumentar a independência da Europa na exploração lunar, mas para aproveitar o programa Artemis da Nasa, que visa levar humanos à Lua até 2027.
A vitória "significa muito para a empresa", disse o CEO da Thales Alenia Space, Hervé Derrey.
Para a Europa, ele acrescentou, "pode ser visto como um precursor de uma capacidade tecnológica crescente e aprimorada, oferecendo um ativo importante para o transporte de experimentos e materiais em apoio às missões de exploração lunar".
A instalação da Thales Alenia Space em Turim tem uma longa história na construção de módulos espaciais.
Ela fabricou quase metade dos módulos pressurizados para a Estação Espacial Internacional e é um fornecedor chave nos programas espaciais dos EUA e da Europa.
Derrey disse que a exploração era "um mercado em grande crescimento" para seu negócio. A Thales Alenia Space em 2023 gerou receitas anuais de 2,2 bilhões de euros.
A vitória no contrato também é uma boa notícia para os proprietários da joint venture, que estão vendo uma consolidação de certos ativos espaciais com a Airbus em meio a uma queda no mercado de grandes satélites de comunicação.
O mercado de exploração está em expansão em parte devido ao crescente interesse global em colocar humanos novamente na Lua e, potencialmente, em Marte.
A Nasa incentivou uma participação significativa do setor privado no programa Artemis para ajudar a reduzir os custos de exploração.
Funcionários da Nasa insistiram repetidamente que o desenvolvimento de uma chamada economia lunar será fundamental para garantir o sucesso dos esforços futuros de exploração, incluindo uma presença humana permanente na Lua.
Várias empresas em todo o mundo estão desenvolvendo módulos lunares para transportar tripulação e carga para a Lua como resultado.
A Analysys Mason, consultoria espacial, estimou em seu relatório de mercado lunar que as missões à Lua entre 2023 e 2033 poderiam gerar US$ 151 bilhões em receitas, três quartos dos quais serão de clientes governamentais. As receitas de infraestrutura e transporte deveriam representar cerca de 43% desse montante.
Neuenschwander disse que o principal motor para o módulo lunar europeu era garantir autonomia e fortalecer o valor da Europa como parceira.
No entanto, o módulo teria que ser competitivo e, eventualmente, o Argonaut evoluiria para ser reutilizável, acrescentou.
Derrey disse que módulos que transportam carga para a Lua eram uma área onde a Europa poderia desenvolver uma vantagem "já que ninguém demonstrou a capacidade de pousar com segurança na Lua para essa necessidade específica até agora".
"A Europa e as indústrias europeias têm todas as capacidades tecnológicas necessárias para competir no mercado de pouso lunar", acrescentou.