Estimulação cerebral ajuda 2 pacientes a restaurar movimentos após lesões na medula

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O uso de estimulação cerebral profunda em uma região do cérebro melhorou a recuperação dos movimentos dos membros inferiores em dois pacientes com lesões graves na medula espinhal, segundo pesquisadores.

A estimulação cerebral profunda aplicada ao hipotálamo lateral "aumentou imediatamente a caminhada" em camundongos e ratos e em dois humanos, de acordo com estudo publicado na última segunda-feira (2) na revista Nature Medicine.

Esse tipo de estimulação tem sido adotada para tratar a doença de Parkinson e outros distúrbios de movimento, mas até então não havia sido utilizada em casos de lesões na medula espinhal.

Em ambos os pacientes, embora a medula espinhal estivesse danificada, ainda existia a capacidade de enviar alguns sinais para ou do cérebro.

De acordo com os autores do estudo, assim que recebeu o eletrodo e houve a estimulação, a primeira paciente afirmou ter sentido as pernas. Ainda segundo os pesquisadores, quando houve o aumento da estimulação, a paciente disse ter vontade de andar.

"Esse feedback em tempo real confirmou que tínhamos direcionado a região correta, mesmo que esta região nunca tenha sido associada ao controle das pernas em humanos", disse a líder do estudo, Jocelyne Bloch, da Escola Politécnica Federal de Lausanne (Suíça), em um comunicado.

"Naquele momento, eu soube que estávamos testemunhando uma descoberta importante."

O outro paciente, o suíço Wolfgang Jäger, 54, estava em uma cadeira de rodas desde um acidente de esqui em 2006. Esse disse que após o tratamento conseguiu andar "alguns passos" e "alcançar coisas nos armários da cozinha".

Ambos os pacientes também apresentaram melhorias a longo prazo que persistiram mesmo quando a estimulação foi desligada, segundo os pesquisadores.

"Agora, quando vejo uma escada com alguns poucos degraus, sei que posso subi-la sozinho", afirma Jäger.

"É agradável não ter que depender dos outros o tempo todo", diz o suíço, para quem subir e descer as escadas durante as férias "não foi um problema" após a ativação do dispositivo.

Jäger recebeu eletrodos em uma área específica do cérebro, conectados a um dispositivo implantado no peito. Quando ligados, os dispositivos enviam impulsos elétricos ao cérebro.

A técnica, ainda experimental, é destinada a pessoas com lesões incompletas na medula espinhal —quando a conexão entre o cérebro e a medula espinhal não se rompeu completamente— e com capacidade de movimento parcial.

A equipe suíça que chefiou o estudo já tinha se destacado anteriormente por seus avanços no uso de implantes cerebrais ou medulares que permitiram que pessoas paralisadas voltassem a caminhar.

No novo estudo, os pesquisadores buscaram determinar a área do cérebro mais envolvida na recuperação de pacientes com lesões na medula espinhal.

Os cientistas usaram técnicas de imagens tridimensionais para mapear a atividade cerebral em camundongos com essas lesões e criar uma espécie de "atlas cerebral".

A área identificada se situa no hipotálamo lateral, conhecido por regular o estado de consciência, a alimentação e a motivação.

Um grupo de neurônios nessa área parece estar envolvido na recuperação da capacidade de caminhar após uma lesão medular, disse à AFP Grégoire Courtine, professor de neurociências na Escola Politécnica Federal de Lausanne e também autor do estudo.

'Vontade de caminhar'

A primeira pessoa a participar dos testes foi uma mulher, e os testes ocorreram em 2022. Quando seu dispositivo foi ativado pela primeira vez, ela afirmou sentir as pernas, segundo a neurocirurgiã Jocelyne Bloch. Depois, com o aumento da intensidade da corrente, ela disse sentir vontade de caminhar.

Os pacientes incluídos no teste, que conseguiam ativar seu estimulador quando precisavam, também cumpriram meses de reabilitação e treinamento muscular.

Para a mulher, o objetivo era caminhar sem andador; para Wolfgang Jäger, subir as escadas por conta própria.

"Ambos alcançaram seu objetivo", disse Bloch.

Apesar dos avanços, ainda são necessárias mais pesquisas, e essa técnica não seria efetiva para todos os pacientes, alertou Grégoire Courtine.

Tudo depende da quantidade inicial de sinal cerebral que se possa estimular para a medula espinhal.

Além disso, embora o estímulo cerebral profundo seja cada vez mais comum, algumas pessoas não se sentem "confortáveis" com esse tipo de intervenção no cérebro, acrescentou o professor.

No futuro, segundo os pesquisadores, a melhor opção para se recuperar desse tipo de lesões poderia incluir o estímulo conjunto do hipotálamo lateral e da medula espinhal.

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