Diferentes empresas podem trabalhar juntas? Essa é uma pergunta que respondo com frequência. Para chegar à resposta, é preciso considerar que há questões que ultrapassam a competição entre marcas. Um dos exemplos é a agenda de equidade racial.
Os esforços e a intencionalidade para criar estratégias de inclusão devem estar na dinâmica específica de cada negócio e são capazes de melhorar os índices das empresas de forma individual. Mas, para resultar em um avanço real, é necessário orquestrar ações em conjunto e até mesmo compartilhar boas práticas. Ou seja, as organizações devem olhar para além da concorrência.
Em primeiro lugar, estamos falando de combater um racismo que é estrutural, que está enraizado nas bases da sociedade e, também, das instituições.
O problema é enorme: temos 56% de pessoas negras no Brasil e apenas 23% delas estão em cargos de liderança, enquanto menos de 5% ocupam cadeiras no C-Level (Fonte: Instituto Ethos). Então, se queremos construir soluções, precisamos gerar um impacto coletivo.
Promovemos essa união no MOVER (Movimento pela Equidade Racial), ao dialogar com empresas que são concorrentes, mas que, aqui, se unem em iniciativas de inclusão e diversidade racial, participando dos mesmos grupos de trabalho.
São marcas como Nestlé e Mondelēz, Coca-Cola e PepsiCo, Ambev, Diageo e Heineken, que, em seus diferentes níveis de maturidade na jornada de DEI, têm uma potência gigante de provocar mudanças efetivas, principalmente quando estão juntas em projetos de equidade; compartilhando experiências e implementação de ações de diversidade; e permitindo que os membros de uma empresa aprendam com os de outra.
Um exemplo prático disso aconteceu este ano, com o primeiro Fórum de Marketing do MOVER, onde reunimos CMOs de todas as empresas associadas em uma tarde de debates. Entre diversas lideranças, tivemos apresentação de cases premiados da L´Oréal, Kraft e da própria Coca-Cola, que foi a anfitriã do evento, mostrando como a pauta é estratégica para o posicionamento de marca no mercado.
Outra amostra desse trabalho se deu no Fórum de Líderes que realizamos rotineiramente. Em uma das edições, tivemos Rita Oliveira, representante da Coca-Cola, e Leia Santos, representante da PepsiCo, dividindo o palco para compartilhar ações de "mentoria reversa" de diversidade em suas companhias e quais foram os principais resultados alcançados.
Como mercado, sabemos que muitas oportunidades de negócio podem ser geradas quando colocamos a agenda de DEI no planejamento estratégico das organizações. E qualquer empresa que queira falar com a população brasileira precisa se fazer relevante nas diferentes realidades que temos no país.
Será que seus produtos e soluções estão sendo pensados por e para cada um desses públicos? Será que a comunicação da sua organização é acessível e se conecta à realidade dos consumidores?
Como MOVER, entendemos que é parte do nosso papel unir marcas e pessoas, de forma coletiva, para, a partir da visão de DEI, amplificar o impacto da agenda individual. Isso só nos fortalece e prova que estamos no caminho certo na construção de uma jornada onde acreditamos que "para ser maior, é só fazendo juntos".
O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço "Políticas e Justiça" da Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Luciene Rodrigues foi "Asas", de Luedji Luna.