Entenda como a internet reinventou o mercado de livros usados no Brasil

há 2 horas 1

Os mercados de livros novos e usados compartilham uma trajetória parecida no que se refere ao impacto da internet sobre eles.

Ambos testemunharam um rearranjo de forças radical com a chegada dos marketplaces, isto é, plataformas que conectam compradores a vendedores. E, mais recentemente, ambos passaram a ser cada vez mais diretamente influenciados pelas redes sociais —vide, no caso dos livros novos, o fenômeno do BookTok.

O mercado brasileiro de livros usados tem, no entanto, uma especificidade quando se fala em marketplace. Diferentemente do que ocorreu nos Estados Unidos, onde o setor foi desde o princípio assumida pela Amazon, ou no restante da América Latina, em que esse papel coube ao Mercado Livre, o Brasil viu nascer em 2005 uma plataforma específica para a comercialização de títulos de segunda mão.

Era o Estante Virtual que, ao concentrar os acervos de sebos espalhados pelo país em uma única plataforma, aumentou exponencialmente os clientes em potencial desses estabelecimento.

O site também permitiu que muita gente que nunca tinha pensado em virar livreiro se aventurasse no negócio sem grandes riscos, inicialmente vendendo livros das próprias coleções.

O Estante Virtual reúne hoje cerca de 3.600 vendedores de todas as regiões do Brasil, menos do que os 6.000 que tinha em 2020, quando foi comprado pelo Magazine Luiza. A maioria deles está concentrada na região Sudeste.

Do total, afirma a diretora da plataforma, Christiane Bistaco, aproximadamente 80% são pequenos empresários. Os 20% restantes incluem editoras e redes de livrarias. A plataforma permite desde 2015 a venda de livros novos, decisão criticada por muitos de seus livreiros até hoje —eles também reclamam das mudanças promovidas em seu buscador em agosto do ano passado, segundo Bistaco necessários para a continuidade operacional do site.

Os números do Estante Virtual são alguns dos poucos disponíveis sobre o mercado secundário de livros no país. O próprio site não sabe dizer a porcentagem que os seus vendedores cadastrados representam em relação à totalidade de sebos no Brasil. Bistaco diz que a comparação que eles costumam fazer é com as livrarias, que segundo ela são cerca de 5.000 no Brasil.

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Foi por meio do Estante Virtual que Cristina Pizarro, moradora de Itajubá (MG), montou o Casa Sebo da Cris, por volta de 2011. Ela, que é formada em fisioterapia, mas trabalhava administrando franquias ao lado do marido, conta que passou cinco anos vendendo livros de casa.

"Percebi que estava meio demais quando o carro começou a ficar fora da garagem para os livros ficarem dentro", relembra. Ela alugou um ponto para servir de estoque mas, três anos depois de abrir o espaço, em 2020, veio a pandemia. Ela então voltou para casa e, em 2022, oficializou sua garagem como a Casa Sebo da Cris após uma obra.

Pizarro afirma que, como o lugar fica na ladeira de uma área residencial, há poucos clientes, o que permite a ela conciliar eventuais atendimentos com seus negócios em marketplaces. Hoje, além do Estante Virtual, estes incluem Amazon, Mercado Livre, Americanas, Shoptime, Submarino e até Shoppee.

Pizarro também aluga seu espaço para atividades das mais diversas, que incluem saraus, oficinas de artes manuais e até um cineclube. Com isso, tornou-se uma espécie de centro cultural não oficial de Itajubá, história que se repete com vários sebos situados fora das grandes cidades do país.

A livreira afirma que esses eventos ajudam a reforçar o vínculo direto com seus clientes. Segundo ela, hoje 40% de suas vendas são feitas diretamente para eles, via Instagram e WhatsApp.

Sebos com perfis muito diferentes também encaram com seriedade as redes sociais. O tradicional Nova Floresta —que abriga quase 150 mil livros nos três andares de sua sede no centro de São Paulo—, por exemplo, posta uma seleção de livros quase diariamente em seus stories no Instagram. Sua conta tem 110 mil seguidores.

Embora eles ainda estejam à mercê das súbitas mudanças de algoritmo dessas plataformas, a comunicação direta com o cliente que elas viabilizam é um incentivo forte para que os livreiros continuem lá.

A maioria deles diz não temer pelo futuro do setor, no entanto. Afinal, eles dizem, seus produtos são únicos. Às vezes literalmente.

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