Empresas de moda apostam em diversidade nas roupas e na gestão executiva

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Modelos negros, indígenas, plus size, pessoas com deficiência e LGBTQIA+ aparecem, aqui e ali, em desfiles e campanhas publicitárias. Marcas estão se preocupando em vestir corpos diversos, retratar a ancestralidade nas roupas e trazer à tona coleções afirmativas.

As mudanças se refletem também nas empresas de destaque da categoria Moda e Vestuário do Diversidade nas Empresas, levantamento feito pelo Centro de Estudos em Finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas) em parceria com a Folha. São elas C&A, Renner e Pettenati Indústria Textil.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores utilizaram dados de 2023 de companhias de capital aberto declarados à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

O estudo avalia de forma separada organizações de 100 a 4.999 funcionários, como a Pettenati, e a partir de 5.000, casos de C&A e Renner. No total, um universo de 418 empresas foi levado em consideração. A diversidade foi mensurada em cargos de média liderança, diretoria e conselhos de administração e fiscal.

A C&A busca refletir inclusão em sua publicidade há 25 anos, quando contratou Sebastian Soul como garoto-propaganda. Mais recentemente, o movimento se estendeu às araras das lojas e ao quadro de colaboradores. Em 2022, a rede lançou a coleção Identidades, assinada por estilistas negros e indígenas, que reuniu as marcas Dendezeiro, Isaac Silva Brand, Nalimo e KF Branding.

O levantamento FGV/Folha mostra que o conselho de administração da empresa tem 40% de participação feminina. A divisão é reconhecida pelo selo Women on Board da ONU Mulheres.

"Sabemos que ainda há um caminho a percorrer, mas a inclusão é, também, um investimento no futuro da empresa e na construção de uma moda com impacto positivo", diz Carolina Borghesi, vice-presidente de gente, cultura e ASG (sigla para boas práticas ambientais, sociais e de governança) da companhia.

Pessoas autênticas e respeitadas são mais engajadas e criativas, fortalecendo nossa capacidade de inovar e conectar nossos produtos e serviços às demandas reais da sociedade

Na Renner, foi implementado o programa de diversidade e inclusão Plural. De acordo com o estudo FGV/Folha, 37,5% de seu conselho de administração e 33,3% da diretoria são formados por mulheres.

O censo interno atualizado aponta ainda que elas respondem por 61,7% das posições totais liderança e 45% dos cargos de alta hierarquia. Em relação à diversidade racial, 34% dos postos totais de líderes hoje pertencem a colaboradores que se identificam como negros.

"O compromisso é que eles ocupem 50% dos cargos de liderança até 2030", afirma Regina Durante, diretora de gente e sustentabilidade da Renner.

O comprometimento com a diversidade acompanha toda a trajetória da nossa companhia. Promovemos continuamente a evolução de nossas práticas para proporcionar oportunidades de pleno desenvolvimento a todos e refletir cada vez mais a pluralidade da sociedade brasileira

No recorte de orientação sexual, 22,2% das vagas dessa hierarquia são ocupadas por pessoas LGBTQIA+. "Promovemos a evolução de nossas práticas para proporcionar oportunidades de desenvolvimento a todos e refletir, cada vez mais, a pluralidade da sociedade brasileira", diz Durante.

Já na Pettenati, que tem sede em Caxias do Sul (RS), mulheres compõem 60% da diretoria e 66,6% do conselho de administração, aponta o levantamento. Procurada pela Folha, a Pettenati não quis dar entrevista para o Diversidade nas Empresas.

"A liderança plural impacta tudo que a empresa faz e puxa essa agenda da diversidade", diz Isabella Luglio, coordenadora do Índice de Transparência na Moda. Produzido pela ONG Fashion Revolution, o levantamento analisa dados públicos das companhias de moda e vestuário para questões socioambientais e de governança.

De acordo com os últimos relatórios, a divulgação de dados sobre diversidade racial e de gênero na força de trabalho tem crescido entre as empresas do setor, mas ainda é pequena.

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Em 2021, 35% delas haviam informado publicamente índices que discriminavam a identidade de gênero de seus funcionários, percentual que subiu para 38% dois anos depois. Sobre a questão racial, esses números cresceram de 5% em 2021 para 18% em 2023.

Em relação a iniciativas de desenvolvimento de carreira, os números são tímidos. No ano passado, 27% das companhias divulgaram programas voltados a mulheres e 13% reportaram ter projetos de capacitação para pretos, pardos e indígenas.

"Pessoas pretas, pardas e indígenas precisam acessar cargos de liderança para que essa prática chegue a todos os níveis da empresa e acabe se espalhando também pela cadeia produtiva", diz Luglio. "Assim, a diversidade será real, não apenas cosmética."

Folha Mercado

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Saiba mais sobre as empresas de destaque na categoria Moda e Vestuário

As notas de participação feminina e de pretos, pardos e indígenas, que vão de 0 a 100, foram calculadas levando em consideração a presença dos grupos em cargos de alta e média liderança. Os autores do estudo deram pesos diferentes para cada uma das categorias analisadas: enquanto diretoria e conselho de administração têm peso maior, uma vez que os membros têm maior poder decisório, a média liderança e o conselho fiscal têm peso menor.

  • Empresa de 100 a 4.999 funcionários

PETTENATI
Fundação 1964
Funcionários 1.347
Participação de pretos, pardos e indígenas 0,64
Participação feminina 49,46
Também levou nas categorias Participação Geral Feminina e Sul

  • Empresas com 5.000 funcionários ou mais

C&A
Chegada ao Brasil 1976
Funcionários 15 mil
Participação de pretos, pardos e indígenas 10,28
Participação feminina 33,36
Também levou na categoria Sudeste

RENNER
Fundação 1965
Funcionários 24.364
Participação de pretos, pardos e indígenas 3,33
Participação feminina 37,46
Também levou na categoria Sudeste

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