Na semana em que deve formalizar sua pré-candidatura à Presidência da República, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), endureceu o tom contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e criticou abertamente a nova composição ministerial, sobretudo a nomeação de Gleisi Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Caiado afirmou que Lula “voltou às origens” ao entregar o cargo a Gleisi e rompeu o diálogo com o centro político:
“Durante um período, ele quis dar sinais para a centro-direita. Agora, já decidiu. Já botou a Gleisi ali. Qualquer político que entende que ‘pingo é letra’ sabe qual é a posição que ele vai tomar a partir de agora. Vai endurecer nessa linha, voltar às origens, estruturar o ministério com ‘companheiros’.”
Acusações de retaliação
Caiado também disse estar sendo perseguido politicamente pelo governo federal. Segundo ele, obras de concessão de rodovias em Goiás foram retiradas de programas federais, e um empréstimo de R$ 700 milhões com o Banco Mundial foi vetado por Rogério Ceron, secretário do Tesouro Nacional, mesmo após aprovação técnica.
“As ações do governo são direcionadas, não com viés técnico, mas como retaliação a um governo que está dando certo. Então, ela [Gleisi] deve ter se confundido.”
Críticas à política de segurança
O governador goiano também reagiu a uma declaração recente de Lula sobre não querer um país conhecido como “República dos ladrões de celular”: “Não é só isso. Ele tem que entender que está patrocinando a transição do Brasil de um Estado democrático para um Estado do narcotráfico, pela omissão dele.”
Caiado foi além e associou o Partido dos Trabalhadores a uma suposta complacência com o crime: “Eles são complacentes com o crime. Isso faz parte do eleitorado deles. É o habitat deles. Convivem com essa engrenagem e participam dela.”
Sobre Bolsonaro e a direita
Caiado negou que sua candidatura esteja condicionada à inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), que se tornou réu na semana passada por suposto envolvimento na tentativa de golpe de Estado:
“Estou aguardando o desdobramento dos fatos, mas isso não pode ser um fator inibidor. Ele tem todo o direito de buscar a liberdade dele, como foi dado ao Lula.”
Apesar da crítica indireta ao ex-presidente, Caiado ressaltou que foi o primeiro governador a defender a anistia aos condenados pelos atos de 8 de Janeiro: “Deveria ter sido encaminhado com a inteligência que Juscelino Kubitschek teve, de anistiar todo mundo. Parar com essa discussão que se arrasta há dois anos. Cansou a população.”