A incerteza fiscal segue movimentando os ativos brasileiros e levando a mudanças nas visões sobre como será o próximo ano em termos de política monetária no Brasil. Em meio à baixa confiança dos agentes de mercado, na última quarta-feira, as taxas de juros futuros passaram a embutir 70% de chance de o Copom elevar a taxa básica de juros – hoje em 12,25% ao ano – em 1,5 ponto, contra 30% de probabilidade de um aumento de 1,25 ponto, em sua próxima reunião em janeiro.
Enquanto isso, entre os economistas, a visão também é de uma Selic mais alta no ano que vem. Analistas do Itaú BBA projetam que a taxa Selic deve atingir 15,00% ao ano até o fim do ciclo, com dois aumentos adicionais de 100 pontos-base e um último ajuste de 75 pontos-base, previsto para a reunião de maio de 2025.
O relatório ainda compara as previsões do Copom com os dados do mercado, destacando as expectativas de inflação e taxa de juros extraídas do boletim Focus. As projeções indicam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2024 e 2025 está estimado entre 4,0% e 4,5%, números que permanecem acima da meta oficial do Banco Central.
Os estrategistas do BBA afirmam que a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na terça-feira (17), foi regida por um tom unânime e conservador da equipe em relação às perspectivas econômicas do Brasil. O banco aponta que o cenário inflacionário justificou a resposta na política monetária, que incluiu um aumento de 100 pontos-base na taxa Selic e orientações claras sobre os próximos passos.
Segundo o relatório, o comitê reforçou a sinalização de continuidade no ciclo de aperto monetário, com mais dois aumentos de 100 pontos-base previstos, a menos que ocorram mudanças expressivas no ambiente inflacionário, consideradas improváveis. O BBA também destaca a elevação da estimativa do Copom para a taxa neutra de juros, que subiu de 4,75% para 5,00% ao ano. Esse ajuste, diz o relatório, reflete uma visão mais rígida sobre as condições econômicas necessárias para equilibrar inflação e crescimento.
Os analistas também abordam os riscos mencionados pelo Copom nas últimas reuniões. Entre os fatores de alta, o documento enviado ao mercado destaca a possibilidade de um período prolongado de desancoragem das expectativas de inflação, a resistência da inflação de serviços e o impacto de políticas econômicas internas e externas, como uma depreciação persistente da moeda brasileira.
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Por outro lado, os riscos de baixa incluem uma desaceleração maior do que o esperado na economia global e os efeitos de políticas monetárias sincronizadas sobre a inflação global. Para o Itaú BBA, a postura do Copom é um reflexo da necessidade de consolidar a credibilidade em meio a um ambiente macroeconômico difícil. O banco acredita que o comitê dificilmente se desviará de sua estratégia, especialmente em direção a medidas mais brandas.
Conflito fiscal
De acordo com o relatório do JPMorgan, o núcleo da inflação (IPC – Índice de Preços ao Consumidor) deve continuar acelerando ao longo do primeiro trimestre de 2024, impulsionado por fatores como alta na inflação de alimentos, depreciação cambial e inflação de serviços acima do nível considerado compatível com a meta. Nesse contexto, o JPMorgan, assim como o BBA, agora prevê um aumento de 100 pontos-base na Selic em janeiro, seguido por outro aumento de 100 pontos-base e dois ajustes adicionais de 50 pontos-base em maio e junho, elevando a taxa terminal para 15,25%.
O relatório do banco norte-americano também aponta para um conflito crescente entre as políticas fiscal e monetária no Brasil. Enquanto o Banco Central busca controlar a inflação com sucessivos aumentos na taxa de juros, o crescimento do crédito e a política fiscal expansionista estão a impulsionar a demanda agregada e estimulando o crescimento do PIB acima do potencial.
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Apesar das pressões de curto prazo, o banco revisou sua projeção de inflação para 2026, de 3,5% para 3,2%, um patamar mais próximo do centro da meta estabelecida. Contudo, o relatório enfatiza que as perspectivas de médio prazo estarão fortemente condicionadas às decisões de política fiscal e ao desempenho do câmbio.
Embora o cenário de curto prazo continue apontando dificuldades, o JPMorgan acredita que a economia brasileira poderá retomar uma trajetória mais equilibrada no médio prazo. Para 2026, o banco prevê cortes na Selic, acompanhando a desaceleração esperada da inflação. No entanto, o relatório destaca que a consolidação de um cenário mais positivo dependerá de fatores externos, como a evolução da economia global, e internos, especialmente as decisões fiscais do governo e o comportamento do câmbio.
A Asa Investments também destacou que o Banco Central indicou maior disposição por elevar a taxa básica para patamar ainda mais contracionistas, passando então a projetar Selic de 15,25% ao final do atual ciclo de elevação, que deve chegar até maio (altas de 1 pp, 1 pp, 0,75 pp e 0,25 pp são esperadas nas primeiras quatro reuniões do Copom em 2025).
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Crescimento econômico e inflação
Já o Bradesco BBI afirma que as medidas fiscais anunciadas pelo governo, que priorizaram renúncias de receitas em detrimento de ajustes mais consistentes na dívida pública, contribuíram para a deterioração das condições econômicas e a ausência de vetores claros de melhora no curto prazo. Os estrategistas dizem ainda que o apoio de uma política fiscal mais firme era essencial para sustentar suas previsões iniciais. No entanto, as medidas adotadas revelaram uma preferência por uma convergência mais lenta da dívida pública, o que gerou incertezas no mercado.
Diante do atual cenário de incertezas, o Bradesco BBI ajustou suas previsões, trabalhando agora com uma taxa de câmbio constante em torno de R$ 6 nos próximos anos. Esse patamar, combinado com a falta de apoio fiscal, levou o banco a projetar uma taxa de juros Selic de 15,25% na primeira metade de 2025.
Segundo o relatório, os cortes na Selic devem começar apenas na última reunião de 2025, com a taxa recuando para 11,25% em 2026. O Bradesco BBI ainda alerta que, caso o Banco Central opte por uma estratégia mais agressiva de convergência da inflação para o centro da meta, os juros poderão se manter em níveis ainda mais elevados. O cenário traçado pelo banco também prevê uma desaceleração no crescimento econômico nos próximos anos. Após uma alta estimada de 3,6% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, o crescimento deverá cair para 2,2% em 2025 e 1% em 2026.
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Em relação à inflação, o IPCA deverá registrar alta de 4,9% tanto em 2024 quanto em 2025, porcentagem acima da previsão do Itaú BBA. O índice só deverá atingir o centro da meta de 3% em 2026, refletindo o impacto das medidas monetárias e da lenta recuperação do equilíbrio fiscal.
O Bradesco BBI diz que os riscos permanecem inclinados para um cenário ainda mais complicado. No curto prazo, de acordo com os analistas, a volatilidade nos preços dos ativos e a ausência de vetores de melhora sugerem que o cenário de incertezas persistirá. O banco reitera a importância de uma política fiscal consistente para estabilizar o câmbio e restaurar a confiança do mercado, importantes para um ajuste sustentável na economia brasileira.