Imagine tentar montar um quebra-cabeça sem saber a imagem final ou quantas peças ele tem. Cada peça que você encaixa traz mais dúvidas do que certezas: será que estou perto do fim ou ainda nem comecei? Para muitos, planejar a aposentadoria é exatamente assim. Sem uma visão clara de quanto é necessário acumular ou de como os rendimentos se encaixam, o processo de garantir uma vida tranquila no futuro se torna um enigma frustrante e até assustador.
Se você já tem clareza sobre como construir essa segurança, parabéns. Mas sei que, para a maioria, essa clareza ainda está distante. Este texto é para aqueles que sabem que contar apenas com a renda do INSS não será suficiente para uma aposentadoria digna.
Talvez o título tenha capturado sua atenção. Se espera encontrar soluções rápidas e fáceis, este não é o lugar. Mas, se você está genuinamente preocupado com seu futuro financeiro, continue. Como uma luz azul que atrai insetos para uma armadilha, muitas promessas de soluções mágicas acabam eletrocutando o dinheiro de quem está despreparado.
Nas minhas conversas, vejo que, mesmo pessoas informadas, muitas vezes adiam o planejamento. Pensam: "Posso começar a poupar mais tarde e tudo dará certo" ou "Deixo isso para depois". Esse é o maior erro. Não entender o quanto de patrimônio será necessário e o quanto esse patrimônio realmente pode gerar de renda no futuro é como tentar montar o quebra-cabeça sem saber o que está construindo.
A construção de um patrimônio sólido exige paciência, disciplina e tempo, como em um quebra-cabeça.
Recentemente, conversei com um investidor de 45 anos que desejava viver com R$ 10 mil de renda mensal. Ele nunca poupou, mas recebeu uma herança de R$ 1 milhão. A pergunta era: é possível se aposentar?
É claro que há sempre uma pequena chance de isso funcionar. Mas, para isso, a carteira precisaria render IPCA + 12,65% ao ano, líquido de impostos, pelos próximos 50 anos. Isso parece realista para você?
De maneira conservadora, é mais plausível projetar um rendimento de IPCA + 4% ao ano, líquido de impostos. Nesse cenário, ele poderia retirar cerca de R$ 3,8 mil por mês, corrigidos pelo IPCA, que é distante da meta esperada.
Em ambas as simulações, ao completar 95 anos, ele não teria mais nenhum centavo de herança para deixar.
Portanto, não se iluda: se você deseja uma aposentadoria confortável, precisará acumular algo em torno de 250 vezes o valor que deseja receber como renda mensal. Mesmo que alcance esse valor, é preciso cautela ao parar de trabalhar. Se você ainda é jovem, desejos simples como trocar de carro, dar entrada em um imóvel, fazer uma viagem ou até enfrentar uma emergência médica podem desestabilizar todo o planejamento.
O segredo está em começar o quanto antes. Contribuições pequenas e regulares, com o tempo, podem se transformar em um patrimônio considerável. Quanto mais cedo você começar, menores serão os sacrifícios futuros. Assim, quando o quebra-cabeça da aposentadoria finalmente se completar, a imagem formada será de uma vida tranquila, bem planejada e financeiramente segura.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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