O dólar tinha queda nos primeiros negócios desta terça-feira (3), com os investidores repercutindo os dados do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro do segundo trimestre.
Às 10h04, a moeda norte-americana recuava 0,57%, a R$ 5,583 na venda. Na segunda-feira, fechou em queda de 0,29%, aos R$ 5,615, e a Bolsa recuou 0,81%, aos 134.906 pontos.
A economia brasileira cresceu 1,4% no segundo trimestre deste ano, na comparação com os três meses iniciais de 2024, apontam dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A alta mostra uma aceleração da atividade econômica após avanço de 1% no primeiro trimestre. O desempenho de janeiro a março foi revisado para cima nesta terça pelo IBGE —de 0,8% para 1%.
O crescimento de 1,4% é o maior desde o quarto trimestre de 2020, quando a variação havia sido de 3,7%, sob impacto da base de comparação fragilizada pela pandemia.
O novo resultado (1,4%) veio acima da mediana das projeções do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam crescimento de 0,9%.
O dado vem em um momento de atenção às próximas decisões do BC (Banco Central) quanto à taxa básica de juros do país, a Selic. Dirigentes da autarquia têm sinalizado, nas últimas semanas, que um aperto monetário está à mesa para levar a inflação de volta à meta de 3%.
"Mesmo em um ciclo monetário restritivo, um dado forte do PIB traz tranquilidade [sobre a atividade do Brasil], mas também dá um pouco de apreensão. O BC, que está muito movido por dados, deve tender para um aperto de 0,25 ponto percentual na próxima reunião, porque a economia está muito forte e resiliente", diz Pedro Lang, economista e sócio da Valor Investimentos.
Quanto maior os juros no Brasil e menor nos Estados Unidos, pior para o dólar, que se torna menos atraente a agentes financeiros conforme os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, os Treasuries, caem.
Na segunda-feira, a sessão foi de baixa liquidez em função do feriado do Dia do Trabalho nos Estados Unidos, o que costuma trazer mais volatilidade aos ativos de risco, como o real e os mercados acionários.
Com as negociações americanas fechadas, o foco dos agentes econômicos se voltou à cena doméstica. O BC realizou um leilão extra de 14.700 contratos de swap cambial, o equivalente a US$ 735 milhões, no que foi a terceira intervenção no câmbio desde sexta-feira.
A autarquia fez duas vendas para tentar conter a alta do dólar no fim da semana passada: uma no mercado à vista, de US$ 1,5 bilhão, e outra de 15.300 contratos de swap cambial, de US$ 765 milhões.
Já os contratos de swap funcionam como injeção de dólares no mercado futuro, e quem compra está protegido em caso de desvalorização. São uma forma de dar saída aos investidores, como se abrisse uma porta alternativa em uma festa lotada, exemplificam economistas.
Folha Mercado
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Na prática, os leilões visam estimular a circulação de dólares no país, seguindo a lei da oferta e demanda: quanto mais disponível, menor o preço.
O motivo para as três intervenções foi uma saída atípica de dólares do Brasil para os Estados Unidos, o que tende a elevar o valor da moeda. No caso, foi devido a um rebalanceamento do MSCI (Morgan Stanley Capital International), um índice composto por ações de empresas de médio e grande porte com atuação global.
"Tivemos a entrada de empresas brasileiras na Bolsa de Nova York: o Banco Inter, o Nubank, a XP, a PagSeguro e a Stone", diz Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital. Isso, segundo ela, exigiu movimentações no câmbio para atenuar os impactos no real.
No cenário externo, a moeda norte-americana operou sem direção única, uma vez que investidores adotaram maior cautela antes da divulgação de nova bateria de dados econômicos dos Estados Unidos.
O grande evento na agenda dos investidores será a publicação do relatório de emprego dos EUA na sexta-feira, o chamado "payroll". A expectativa de analistas consultados pela Reuters é de criação de 165.000 postos de trabalho, ante 114.000 no mês anterior.
A divulgação acontece em meio à procura por sinais sobre os próximos passos do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano). As leituras sobre o mercado de trabalho por lá têm ditado apostas sobre o ritmo de cortes nos juros, com a próxima decisão marcada para os dias 17 e 18 de setembro.
A percepção de um afrouxamento gradual pela autoridade dos Estados Unidos tem mexido com os mercados. Quanto mais o Fed cortar os juros, melhor para ativos de risco como o real e mercados acionários, que se tornam mais atraentes diante da queda dos rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro dos EUA.
Operadores veem 68% de chances de uma redução de 0,25 ponto percentual nos juros e 32% de probabilidade de um corte maior, de 0,50 ponto, segundo a ferramenta CME FedWatch.
Com Reuters