Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e alguns de seus aliados mais próximos reforçam o discurso de que o mercado financeiro é o grande responsável pela disparada do dólar nas últimas semanas, a maioria dos brasileiros aponta que foram as decisões do próprio governo federal que levaram ao movimento do câmbio, assim como o descontrole das contas públicas.
É o que mostra uma pesquisa da consultoria de negócios Timelens, com base em citações nas redes sociais e buscas pelo tema nas plataformas digitais nos últimos 30 dias. Foram mapeados 54.873 comentários no YouTube e no X (antigo Twitter) nesse período.
De acordo com o levantamento, exclusivo para o InfoMoney, mais de um terço do universo pesquisado afirma que as decisões econômicas do atual governo foram o fator que mais contribuiu para a alta do dólar frente ao real (37,2%), com a reação negativa do mercado a propostas como a isenção do Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil.
Na sequência, com 26,42% das menções, aparece o descontrole nas contas públicas, com aumento de gastos sem contrapartidas claras – justamente uma das maiores preocupações do mercado e dos economistas em relação à situação brasileira.
Em terceiro lugar, com 18,19%, foram mencionadas especulações no mercado financeiro, corroborando o discurso de Lula e de parte do governo de que movimentos especulativos serviriam para manipular o câmbio e supostamente desestabilizar a atual gestão.
Já para 14,16% do público pesquisado, a forte alta da moeda americana é resultado da disseminação de notícias falsas (“fake news”) – como as declarações falsamente atribuídas ao diretor de Política Monetária do BC e futuro presidente da autarquia, Gabriel Galípolo.
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Também foram citados, na pesquisa, a atuação do Congresso Nacional (1,81%); a taxa básica de juros praticada pelo Banco Central (0,99%); fatores internacionais (0,49%); as notícias sobre o estado de saúde de Lula (0,41%); e declarações do presidente da República (0,33%).
“Os dados mostram que os brasileiros ainda não chegaram a um consenso sobre quem é o verdadeiro culpado pela alta do dólar: seria o Banco Central, o governo, ou o mercado? O debate segue acalorado”, comenta o sócio e diretor de dados e Analytics na Timelens, Renato Dolci.
“Decisões econômicas e o descontrole nas contas públicas dominam o debate sobre a alta do dólar nas redes sociais, somando juntos mais de 60% das menções sobre o tema”, explica Dolci.
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“Esses fatores refletem a grande preocupação dos brasileiros com a gestão fiscal e a instabilidade econômica, que têm gerado desconfiança e incertezas no mercado.”
Veja os números:
Decisões econômicas | 37,20% |
Descontrole nas contas públicas | 26,42% |
Especulações no mercado financeiro | 18,19% |
Disseminação de “fake news” | 14,16% |
Atuação do Congresso e Senado | 1,81% |
Juros altos do Banco Central | 0,99% |
Fatores internacionais | 0,49% |
Notícias sobre a saúde do presidente | 0,41% |
Declarações do presidente Lula | 0,33% |
Dólar
Na quinta-feira (19), o dólar à vista fechou em forte baixa, a R$ 6,12, após atingir o patamar de R$ 6,30, em uma sessão marcada pela forte volatilidade. O avanço do pacote fiscal no Congresso, com a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) com as principais medidas de corte de gastos na Câmara, influenciou positivamente o câmbio. Mais tarde, o texto também seria aprovado em dois turnos no Senado.
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O BC realizou dois leilões cambiais pela manhã, que também ajudaram a conter a moeda americana. Logo na abertura, a autarquia já havia vendido US$ 3 bilhões à vista em leilão anunciado na véspera.
Com as vendas de quinta-feira, o BC totaliza mais de US$ 20,75 bilhões vendidos desde a semana passada, em uma série de intervenções no câmbio que incluíram leilões à vista e leilões de linha (dólares com compromisso de recompra).
Campos Neto e Galípolo
Mais cedo, também na quinta, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, concedeu entrevista coletiva ao lado de Gabriel Galípolo, que será seu sucessor. Em suas falas, o atual mandatário do BC refutou a possibilidade de estabelecimento de preço para o dólar e garantiu que a intervenção acontecerá apenas quando necessário.
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Galípolo, por sua vez, afirmou que a ideia de um ataque especulativo contra o real como movimento coordenado não explica bem a situação do câmbio neste momento.
“Eu acho que não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, vamos dizer assim, como se fosse uma coisa só, que está coordenada, andando em um único sentido. Basta a gente entender que o mercado funciona, geralmente, com posições contrárias”, explicou Galípolo, indicado por Lula para a presidência do BC.
“Para existir um mercado, precisa existir alguém comprando e alguém vendendo. Então, toda vez que o preço de algum ativo se mobiliza em alguma direção, você tem vencedores e perdedores. Eu acho que a ideia de ataque especulativo enquanto algo coordenado não representa bem”, concluiu o futuro presidente do BC.