Sistemas eletrônicos, motores, peças de acabamento, pneus e até materiais básicos como o aço são, em boa parte, atrelados ao mercado internacional e precificados segundo a moeda norte-americana.
"Quando a gente olha para a cadeia automotiva, percebemos que grande parte dos componentes vem de fora. Com o dólar a R$ 6, as montadoras são obrigadas a repassar esses custos para o preço final dos veículos", explica o economista Igor Lucena.
O especialista projeta que o impacto será ainda mais perceptível nos modelos que chegam ao mercado a partir de 2025, quando os reajustes acumulados forem repassados de maneira integral.
Além disso, o cenário também afeta os veículos importados. Carros chineses, que chegaram recentemente ao Brasil com preços competitivos, começam a perder essa vantagem à medida que a cotação da moeda americana se mantém alta.
Efeito colateral invisível
O impacto do dólar não se limita à compra de veículos novos. Peças de reposição, serviços de manutenção e até insumos básicos para oficinas - como óleos lubrificantes - também sofrem os efeitos da valorização da moeda americana.
"Custos de oficina, peças de reposição, tudo vai subir. O dólar está embutido em quase todos os produtos de manutenção", alerta Lucena. Para os motoristas, isso significa que revisões de rotina e consertos inesperados pesarão cada vez mais no orçamento familiar.
Combustíveis
Outra área onde o dólar faz estragos diretos é nos preços dos combustíveis. Apesar da recente queda no preço do barril de petróleo no mercado internacional, a valorização do dólar anula esse benefício para o consumidor brasileiro.
A Petrobras adota uma política preços que, apesar de não ser mais baseada apenas na paridade de importação, considera o câmbio e a cotação internacional do barril. Com isso, mesmo em um cenário de estabilidade global, o motorista brasileiro sente o impacto diretamente no bolso.
"A Petrobras entra no jogo tentando suavizar o aumento, mas, mesmo com a queda no preço do barril de petróleo, a alta do dólar acaba elevando o custo em reais dos combustíveis no Brasil", avalia Lucena.
Nem a transição para veículos eletrificados é uma solução para escapar da alta dos combustíveis. O dólar a R$ 6 também encarece a produção e importação desses modelos. As baterias, principal componente dos veículos elétricos, são importadas, o que significa que os preços desses carros também podem sofrer reajustes significativos se o câmbio for mantido nesse patamar.
Impacto generalizado
A alta do dólar não afeta apenas quem tem carro. Produtos do dia a dia, como alimentos e medicamentos, também sofrem reajustes porque seus preços estão, de alguma forma, atrelados ao mercado internacional.
Lucena aponta que pelo menos 60% da valorização do dólar é fruto de fatores internos, como o aumento do risco fiscal e a instabilidade política no Brasil.
"Os outros 40% vêm de motivos externos, como as políticas monetárias dos Estados Unidos, sobre as quais o Brasil não tem controle", afirma.
Como os motoristas podem se preparar
Diante desse cenário, algumas medidas práticas podem ajudar a reduzir os impactos:
Planejar a manutenção preventiva: antecipar revisões pode evitar gastos maiores no futuro.
Optar por carros com melhor eficiência energética: modelos que consomem menos combustível tornam-se ainda mais vantajosos.
Pesquisar preços de combustíveis: aplicativos e programas de fidelidade podem ajudar a reduzir os gastos no dia a dia.
O que esperar do futuro?
Com o dólar em patamares elevados, é provável que os preços continuem pressionados nos próximos meses. A combinação de alta do câmbio e aumento dos custos de produção compromete o acesso dos brasileiros a carros mais modernos e econômicos, além de elevar o custo geral de manter um veículo.
Por enquanto, o melhor que os motoristas podem fazer é ajustar suas finanças e buscar alternativas para minimizar os impactos.
Afinal, a influência do dólar a R$ 6 já não é algo restrito ao mercado financeiro, mas uma realidade que afeta o dia a dia de todos os brasileiros.
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Opinião
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