Do Tesouro ao vermelho: onde foi parar o rendimento dos seus títulos?

há 1 semana 1
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Imagine que você decidiu comprar um bilhete de cinema para um filme que só começa daqui a alguns anos. Lá na frente, a sala de cinema promete poltronas confortáveis, pipoca incluída e uma tela gigantesca. Mas enquanto a data não chega, você começa a notar que, ao invés de ganhar valor, seu ingresso parece estar ficando... meio amassado. Com os títulos públicos do Tesouro Direto, muita gente se sente assim em 2024: comprou o ingresso esperando um retorno certo, mas com o cenário econômico atual, viu o "bilhete" desvalorizar. Dois terços dos títulos vendidos pela plataforma estão no vermelho no ano, e a expectativa inicial de retorno deu lugar a um cenário bem diferente.

Isso porque, no início de 2024, esperava-se que as taxas de juros fossem cair para 9% ao ano. Era o plano. Só que, como aquele amigo que promete chegar cedo e acaba se atrasando, o plano mudou. As taxas de juros de médio e longo prazo, ao invés de caírem, subiram. E adivinha? Os títulos prefixados e aqueles referenciados ao IPCA, com vencimento posterior a 2030, ficaram "no vermelho".

O título referenciado ao IPCA com maior prejuízo perde no ano 35,5% de seu valor. Dos títulos no azul, os que ainda apresentam algum resultado são aqueles atrelados à taxa Selic. Para os outros, mesmo aqueles com retorno positivo, o rendimento esperado ficou na promessa.

Mas, afinal, por que os juros subiram assim de uma hora para outra? A explicação está na política fiscal brasileira. Imagine um vizinho que vive pedindo dinheiro emprestado no condomínio, mas continua gastando mais do que ganha. Uma hora, os moradores começam a pedir uma taxa de juros maior para cobrir o risco no empréstimo. Esse é o caso do governo: ao gastar mais e acumular dívidas, ele acabou gerando uma preocupação nos investidores. Eles agora pedem uma taxa de juros maior, o que reflete diretamente nos títulos de médio e longo prazo. Ninguém quer correr risco sem um bom retorno, certo?

E o que isso significa para quem já investiu? Quem puder manter os títulos até o vencimento não precisa se preocupar tanto. No final das contas, a taxa de juros combinada na compra será entregue até o vencimento, sem prejuízo. Mas para os que precisarem vender os títulos antes do tempo, o filme é outro. Como o preço do título varia de acordo com os juros, vendê-lo antes do vencimento pode significar realizar um prejuízo. Por isso, um bom planejamento das necessidades é fundamental para evitar surpresas.

Agora, a grande pergunta: vale a pena investir nesse momento? Meus leitores mais assíduos vão lembrar que eu já recomendei no passado. É verdade, mas o cenário mudou. E muito. Se não houver pressa e a ideia for realmente aproveitar uma boa taxa, talvez seja o caso de deixar a pipoca estourar no tempo certo. As taxas de fato estão atraentes, mas podem subir ainda mais. Estamos em um ciclo de alta dos juros, e com a Selic subindo, a dica é esperar até o final desse ciclo para captar uma taxa mais vantajosa. Afinal, como diz o ditado: não faz sentido segurar uma faca caindo.

Mas, se decidir comprar agora, faça isso com uma condição: garanta que não precisará vender antes do prazo. E lembre-se, nada de correr com o ingresso amassado para o caixa: só mantenha a carteira no bolso e, quando o filme estrear, você garante seu lugar na primeira fileira — com a pipoca e o retorno combinados!

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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