A executiva pediu demissão após Zuckerberg anunciar mudanças nas políticas de conteúdo das plataformas da empresa. Em entrevista ao Deu Tilt, Scapin conta que o relato de Sarah, demitida em 2017, se conecta com a postura adotada atualmente pela Meta.

Para a ex-executiva, o relato de Wynn-Williams ajuda a identificar a guinada na cultura corporativa, de uma busca obsessiva pela neutralidade política para um cenário em que as lideranças notaram a sobreposição entre crescimento do Facebook e poder político.
Eu acho fascinante como eles vão ficando constrangedoramente confortáveis nessa cadeira
Daniela Scapin
O título "Careless People" é uma referência ao clássico "O Grande Gatsby". Logo no começo, Wynn-Williams cita um trecho em que F. Scott Fitzgerald apresenta os protagonistas como pessoas interessadas apenas em dinheiro e poder.
Eles eram pessoas descuidadas, Tom e Daisy. Eles destruíam coisas e criaturas e depois voltavam para o dinheiro, para o descuido ou para o que quer que os mantivesse juntos, e deixavam outras pessoas limparem a bagunça que eles tinham feito.
"O Grande Gatsby", de F. Scott Fitzgerald
A tese dela é que o Facebook é liderado por pessoas más
Daniela Scapin
Ponto de Virada
Para Scapin, a experiência é a de "ler uma revista de fofocas" e a maneira como Wynn-Williams descreve as pessoas é "brutal".
Ponto-chave do texto é o relato da mudança do envolvimento de Mark Zuckerberg na tomada de decisão sobre os pedidos de exclusão de conteúdo feitos fora dos Estados Unidos. Antes distante desse, ele passou a centralizar as requisições e autorizar apenas aquelas que, caso não atendidas, poderiam resultar na prisão de executivos da empresa.
Ela conta como isso é frustrante porque passou muito tempo criando a primeira versão das normas da comunidade. Existia um protocolo, uma equipe trabalhando nisso e regras publicadas para as pessoas terem uma expectativa do que podia ser postado e do que não podia e uma série de decisões difíceis sendo tomadas
Tinha uma governança. Imperfeita, mas que existia e estava funcionando até o momento em que, quase de maneira monocrática, o Mark resolve que quer estar envolvido nesse fluxo de certos tipos de decisão
Daniela Scapin
Andy Stone, diretor de comunicações da Meta, apontou que o livro é "falso e difamatório" e que Wynn-Williams foi demitida por ter baixo desempenho e comportamento tóxico.
A Meta tem usado cláusulas contratuais para impedir a ex-funcionária de divulgar o livro. Ainda assim, ela depôs perante senadores norte-americanos. Na audiência, disse que a empresa estava disposta a "trair valores americanos" para abrir operações na China. Ela alegou que a empresa construiu um negócio de US$ 18 bilhões no país e contribuiu secretamente com a IA avançada feita pelos chineses.
'Inaceitáveis': ex-líder da Meta diz por que saiu após ações de Zuckerberg

Mark Zuckerberg, CEO da Meta, pegou muita gente de surpresa quando anunciou o fim da checagem de fatos e da moderação automática, além do retorno do conteúdo político para Facebook, Instagram e Threads. Isso inclui os funcionários da empresa.
Descontentes com a novidade, muitos deles saíram silenciosamente da empresa. Não foi o caso de Daniela Scapin, ex-head de políticas públicas do WhatsApp no Brasil. Em seu último dia de trabalho, Scapin expôs a situação no LinkedIn. Agora, ela conta com exclusividade a Deu Tilt, o podcast do UOL para humanos por trás das máquinas, por que tomou a decisão.
Trump e Big Tech vão influenciar eleições 2026 no Brasil, diz ex-executiva da Meta

Para Daniela Scapin, ex-head de políticas públicas do WhatsApp no Brasil, Donald Trump já anunciou suas intenções e as plataformas digitais mostraram o que pretendem fazer. Como o Brasil vai reagir? Ainda mais diante do desafio das discussões sobre a regulação das Big Tech e na véspera das eleições de 2026? "A Europa exporta regulação, os Estados Unidos exportam tecnologia, e a gente aqui consumindo? Já houve momentos no Brasil em que a gente estava numa posição diferente. eu acho que é possível retomar esse momento", comenta.
'Energia masculina': 'Mark deve desculpa a mulheres', diz ex-líder da Meta

Daniela Scapin, ex-head de políticas públicas do WhatsApp no Brasil, afirmou que Mark Zuckerberg deve desculpas às mulheres que trabalham na Meta (dona do aplicativo de mensagem, Facebook e Instagram) por ter dito que faltava "energia masculina" às empresas.
Em entrevista a Deu Tilt, o podcast do UOL para humanos por trás das máquinas, a ex-executiva da Meta contou por que se demitiu após Zuckerberg encerrar a checagem de fatos e a moderação automática de posts controversos, além de definir o retorno dos conteúdos políticos. Ela criticou a mudança de postura do CEO, que já defendeu a diversidade no ambiente de trabalho.
De repente você substitui isso pela retórica de que está faltando energia masculina. No dia seguinte a essa frase, conversei com mulheres da empresa. A Meta é uma empresa de liderança masculina carregada por muitas mulheres. A minha sensação é que o Mark deveria pedir desculpas para as mulheres que trabalham aqui
Daniela Scapin
DEU TILT
Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.
