Walter Braga Netto, ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL)e vice em sua chapa de 2022, foi preso neste sábado (14), sob suspeita de obstrução de Justiça, ao tentar arrancar informações do delator Mauro Cid.
Veja cinco etapas marcantes da trajetória do general da reserva investigado por suposta participação num complô golpista que incluiria um plano para assassinar Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSB) e Alexandre de Moraes.
Formação militar
Braga Netto se formou no curso de cavalaria da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em 1978, um ano após Bolsonaro terminar seu ciclo na mesma instituição —também fizeram parte dessa geração Luiz Eduardo Ramos, outro que serviria à Esplanada bolsonarista, e Edson Pujol, que comandou o Exército nessa mesma temporada.
O belo-horizontino, segundo seu currículo, é mestre em operações militares e doutor em aplicações, Planejamento e estudos militares, títulos conquistados em escolas ligadas às Forças Armadas.
Ocupou vários cargos oficiais antes de virar a chave para a política partidária. O primeiro foi assessorando, durante a gestão FHC, a estruturação e implantação do Sistema de Proteção da Amazônia.
Também atuou no Timor Leste, chefiando na ONU um grupo de observadores militares. Outros postos: adido do Exército na Polônia e nos Estados Unidos, além de coordenar o plano de segurança dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Rio, em 2016.
Braga Netto chegou ao topo da carreira militar, como um dos generais de quatro estrelas da corporação —hoje são 19 desses na ativa. O próprio Exército não tem informações sobre algum quadro seu dessa patente ter sido preso antes na história.
Pediu passagem à reserva antes de virar ministro no governo Bolsonaro.
Intervenção no Rio de Janeiro
Sua projeção nacional começou em 2018, quando o então presidente Michel Temer (MDB) o nomeou interventor federal na segurança pública do Rio de Janeiro, estado acossado por milícia e tráfico.
Por dez meses, ele teve mais poder do que o governador fluminense sobre a área. A vereadora Marielle Franco (PSOL) e Anderson Gomes, seu motorista, foram assassinados pouco mais de um mês após Netto assumir a posição.
Exercia o cargo quando o general da reserva Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército à época, postou no Twitter (atual X) uma mensagem incendiária pressionando o STF (Supremo Tribunal Federal) na véspera do julgamento de um habeas corpus contra Lula. O petista foi preso dois dias depois.
O próprio Villas Bôas disse anos depois que enviou o texto antes de publicá-lo para alguns generais de quatro estrelas. Braga Netto era um deles.
O general entrou no governo Bolsonaro em 2020, substituindo Onyx Lorenzoni na Casa Civil. Sua nomeação consolidou a retomada de prestígio do núcleo militar naquela Esplanada, que já contava com os colegas de generalato Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno, além de um major da reserva da PM, Jorge Oliveira.
"Ficou completamente militarizado meu terceiro andar. Quatro ministros lá. Nada contra civis, são excepcionais", disse Bolsonaro na ocasião.
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Em 2021, Braga Netto assumiu outro ministério, o da Defesa, com parte da cúpula do Exército ainda ressentida com a troca dos principais postos de comando efetuada por Bolsonaro dias antes. A ação detonou então a maior crise militar já vista desde a redemocratização.
À frente da pasta, autorizou uma ordem do dia para celebrar o golpe militar de 31 de março de 1964, retratado como "marco histórico".
Braga Netto se filiou ao PL, partido de Bolsonaro, às vésperas do aniversário de 58 anos do dia um da ditadura militar. Já era cotado como vice na chapa em que o presidente tentaria a reeleição. A parceria se consolidou, e a dupla acabou perdendo a eleição para Lula e seu número dois, Geraldo Alckmin (PSB).
Recado a manifestantes
Em mais de uma ocasião, Braga Netto encorpou a descrença bolsonarista nas urnas eletrônicas, um dos apitos para questionar o resultado eleitoral de 2022.
Já derrotado, em novembro de 2022 Braga Netto cumprimentou apoiadores que esperavam Bolsonaro no cercadinho do Palácio da Alvorada e disse uma frase entendida como senha para a continuidade das manifestações que pediam intervenção militar para impedir a posse do governo eleito. "Vocês não percam a fé, tá bom? É só o que eu posso falar para vocês agora", afirmou.
O contexto da declaração ficou mais claro após a divulgação do relatório da Polícia Federal que mostrou movimentação de militares naquela época para a trama golpista. Braga Netto é um dos indiciados.
Ele nega ter atuado para a ruptura institucional, assim como diz não ter havido plano de golpe.
Prisão
Braga Netto foi preso em Copacabana, bairro da zona sul onde mora. Teve o celular apreendido na mesma manhã. Segundo a Polícia Federal, a prisão preventiva ocorreu porque o general teria obstruído investigações sobre a tentativa de golpe.
A suspeita tem a ver com a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Cid relatou a Moraes que Braga Netto usou auxiliares para acessar detalhes de seus depoimentos. Braga Netto teria tentado, inclusive, falar com o pai do delator, o general Mauro Lourena Cid. "Tentaram saber o que eu tinha falado", disse Cid, o filho, à PF.
Cid afirmou também que o general entregou dinheiro vivo, guardado numa sacola de vinho, para um tenente-coronel indiciado pelo complô homicida contra Lula, Alckmin e Moraes.
A defesa de Braga Netto nega que ele tenha tentado interferir nas investigações e diz que se manifestará nos autos após ter "plena ciência dos fatos que ensejaram a decisão".
O ex-ministro de Bolsonaro foi preso após retornar de Alagoas, onde estava de férias com a família. Está sob custódia do Comando Militar do Leste, que liderou entre 2016 e 2019.