Deputados que integram a cúpula da Câmara avaliam que o presidente Lula (PT) precisa intensificar seu contato com os congressistas e atuar mais na articulação política de seu governo. Além disso, dizem que se o petista quiser azeitar a sua base de apoio no Congresso, uma eventual reforma ministerial deverá incluir trocas no Palácio do Planalto —hoje ocupado somente por petistas.
Há uma crítica que se arrasta desde 2023 de que o núcleo político do Executivo é formado somente por petistas, o que acaba prejudicando o diálogo com o Legislativo: Alexandre Padilha na Secretaria de Relações Institucionais, Paulo Pimenta, na Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República), e Rui Costa, na Casa Civil.
Parlamentares do centro se queixam também da concentração de ministérios da área finalística com integrantes do PT, enquanto o partido tem uma bancada que representa cerca de 15% das 513 cadeiras da Câmara.
Eles dizem ainda que nessas trocas ministeriais é preciso considerar que o contexto hoje é outro do início do governo Lula e, sobretudo, da votação da PEC da Transição naquele momento. Ali o petista distribuiu nove ministérios para obter o apoio de três partidos de centro e de direita que não pertencem ao centrão, o PSD, o MDB e a União Brasil. Em 2023, atraiu duas siglas do centrão, o PP e o Republicanos, com mais dois ministérios.
Na avaliação de um cardeal no centrão, essa configuração da Esplanada não saiu "equilibrada" desde a transição. Agora, isso fica evidenciado ainda maior, segundo ele, com as entregas de cada partido nas votações do Congresso Nacional e sua representatividade na Esplanada.
E que, mais dia menos dia, o governo terá que se debruçar sobre isso. Apesar disso, afirma que cabe ao próprio presidente Lula tomar as decisões.
Há uma insatisfação grande, por exemplo, na bancada do PSD na Casa, que já fez chegar ao governo que não se sente representada pelo Ministério da Pesca, ocupado por André de Paula, diante da baixa capilaridade política da pasta. O partido tem votado de acordo com o Executivo em uma série de matérias.
Nesta semana, a insatisfação da bancada com o governo foi vocalizada nas palavras do líder Antonio Brito (BA) em plenário, ao anunciar que PSD votaria favoravelmente às medidas do pacote de contenção de gastos. Brito falou em "dar um voto de confiança ao governo federal, ao ministro Rui Costa e ao líder do governo José Guimarães".
O União Brasil, por sua vez, entregou poucos votos nessas propostas e hoje têm três representantes na Esplanada: Celso Sabino (Turismo), Juscelino Filho (Comunicações) e Waldez Góes (Desenvolvimento Regional), que é indicação do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Já o PP e o Republicanos, por sua vez, têm contribuído nas votações e possuem somente um indicado cada no ministério de Lula.
Com a saída de Arthur Lira (PP-AL) da presidência da Câmara, deputados aliados do parlamentar defendem que ele ocupe uma pasta, já que isso poderia ajudar a articulação política do governo na Casa.
O próprio Lira, no entanto, tem afirmado publicamente que não cria expectativas e que essa possibilidade nunca foi tratada com integrantes do governo.
Um outro fator também é lembrado pelos parlamentares: uma eventual federação entre PP, Republicanos e União Brasil poderá trazer alterações ao cenário nacional. Um político que acompanha as tratativas diz que esse tema, que já se arrasta em negociações há meses, deverá ter um desfecho até fevereiro.
Se concluída, poderá formar uma bancada de cerca de 150 deputados. Nesse sentido, essa força também deverá ter representatividade na Esplanada.
A cúpula da Câmara também avalia que o próprio presidente Lula precisa intensificar o contato no dia a dia com os parlamentares. Deputados dizem que foram raros os encontros dos petistas com as lideranças da Casa e que isso contrasta com a postura de Lula em seu primeiro e segundo mandatos —quando o presidente organizava confraternizações com os parlamentares e tinha um diálogo mais próximo com eles.
Um líder do centrão diz que Lula é conhecido por ser um político do diálogo, mas que isso não está refletido em sua atuação neste ano. Ele afirma que essa relação mais próxima "faz falta" e que "não é bom ficar somente na relação pragmática" entre presidente e congressistas.
"Acabamos de sair de reunião de bancada e vamos dar um voto de confiança ao governo federal, ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, ao líder Guimarães e vamos votar 'sim’ ao pacote fiscal do governo federal", afirmou Brito. "Estaremos articulando a bancada para dirimir as dúvidas e para que possamos cooperar com o desenvolvimento do Brasil."