A peça musical "Wicked", do universo de "O Mágico de Oz", encanta nos palcos de teatro desde que foi lançada, em 2003. Agora nos cinemas, a trama tenta agradar os fãs saudosistas e ainda conquistar um novo público.
O filme, que estreia nesta quinta-feira, conta a história de origem da Bruxa Má do Oeste, a esverdeada Elphaba, papel de Cynthia Erivo. Rejeitada pela sociedade por causa da sua cor, a maga sonha em conhecer o magnânimo Mágico de Oz para tentar virar uma pessoa que aquele mundo considera normal.
Assim, vem a calhar a vaga que ela ganha na Universidade de Shiz, onde é forçada a dividir quarto com a Glinda, interpretada pela cantora —e atriz— Ariana Grande, uma garota popular e aparentemente fútil que vive em meio a privilégios. Apesar das diferenças, as duas desenvolvem uma improvável amizade que será posta à prova ao longo do filme.
A britânica Cynthia Erivo, estrela do musical "A Cor Púrpura" na Broadway, faz uma Elphaba determinada, mas vulnerável. Com dor no olhar, a atriz emociona ao soltar seus vocais potentes. Fica difícil não torcer por ela, ainda que saibamos que no futuro ela será uma vilã.
A Glinda de Ariana Grande, por sua vez, vacila entre a soberba e a falta de noção, o que rende momentos engraçados. Mas ela prova não ser de todo superficial, e Ariana Grande acerta ao mesclar pesar e alegria em expressões faciais que mostram quão complexa sua personagem é.
Em termos de cenários e ambientação, "Wicked" mostra uma Terra de Oz encantadora. O departamento de arte dá conta de misturar cores vibrantes e estruturas grandiosas para montar um lugar que é ancestral e moderno ao mesmo tempo.
A biblioteca da Universidade de Shiz, por exemplo, tem estantes de madeira em formato de roda. Há também a famosa Cidade das Esmeraldas, lar do poderoso Mágico de Oz, exuberante com seu verde brilhante que, quando preciso, ganha uma aura ameaçadora.
"Wicked", mesmo nos cinemas, ainda é um musical, e tem performances boas e outras nem tanto. O diretor Jon M. Chu, que tem outros musicais no currículo, como "Em um Bairro de Nova York", cai na armadilha de abusar de elementos visuais que não cabem no palco do teatro.
Essa ambição favorece a apresentação da música "O Mágico e Eu", por exemplo, que exibe campos vastos onde Elphaba grita seus desejos, mas atrapalha o impacto de "Desafiar a Gravidade", no clímax do filme. Nesse caso, a música perde espaço para as firulas que M. Chu quer fazer com efeitos computadorizados.
Quem não é familiarizado com a peça não deve sentir muita emoção. Para um filme de quase três horas, e que é o primeiro de dois, falta desenvolver melhor personagens e tramas secundárias. Apenas Madame Morrible, a diretora da universidade, papel da vencedora do Oscar Michelle Yeoh, parece ter mais de uma camada.
E, para piorar, pouco se vê das casualidades que permeiam a amizade de Elphaba e Glinda, mesmo que sua relação pareça bem construída na superfície.
"Wicked" é uma adaptação bem-sucedida e um bom filme. Mas é difícil dizer se vai além disso. O legado da peça parece estar garantido, com uma temporada já anunciada em São Paulo para março do ano que vem, mas seu irmão nas telas precisa de mais para mostrar a que veio.