Crítica: 'Oeste Outra Vez' tem trama com conflito vazio e tende à monotonia

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"Oeste Outra Vez" traz, no título, referência óbvia ao velho oeste, ao faroeste. Gênero épico cujo centro era a conquista do território norte-americano pelos colonos que vinham do leste dos Estados Unidos.

Nesse sentido, o faroeste representa um momento superado da história do cinema, embora seus ecos cheguem com força até nós. Uma de suas convenções era de que, quase sempre, dois homens disputavam a atenção e o amor de uma mulher, cabendo ao mocinho demonstrar que o caráter e valentia valiam mais que os apelos sedutores do homem mau.

É nesse território que começa o filme de Erico Rassi. Ao longo da história, dois homens se enfrentam por causa da mulher que trocou Totó, papel de Ângelo Antônio, por Durval, personagem de Babu Santana. Estamos num lugarejo de Goiás, portanto, oeste do Brasil, lugar de combates simbolicamente primitivos.

Aqui essa dimensão é suprimida: não há terras a perder ou conquistar, nem mesmo territórios a surrupiar dos indígenas. Disputa-se a mulher e ponto. Logo de cara, Totó investe contra Durval, que dá dois dele, e leva uma surra assustadora.

Mas não desiste. Totó pensa estar apaixonado pela mulher. Parece mais preocupado com o embate com o rival. As coisas vão crescendo, mas não o filme. Ele continua a se beneficiar das belas paisagens escolhidas por Rassi —basicamente na Chapada dos Veadeiros—, mas não existe real oposição entre os dois homens.

Durval parece mais sábio: esse duelo não vale a pena, porque a mulher já não tem interesse em Totó. Mas a mulher, diga-se, não tem interesse em Durval tampouco: quando a briga começa ela desaparece,

De modo que sobra apenas o conflito vazio, apenas machista, entre dois homens, sendo que a mulher já tirou o corpo e a alma fora dessa história. E, como os dois rivais são pessoas bem iguais, não se notabilizam por virtude, caráter ou lá o que seja superior ao rival, o filme tende a certa monotonia.

Ao menos até o momento em que se intrometem na história os matadores. Há o velho matador, vivido por Rodger Rogério, contratado por Totó; figura excelente, ele propicia ao diretor um momento excelente: quando, conduzindo uma carroça, se dirige lentamente ao local onde pretende emboscar Durval, ele faz lembrar "A Carruagem Fantasma", que Victor Sjostrom realizou em 1921, onde a carruagem é dirigida por ninguém menos que a morte.

A ideia de fatalidade contida nesse momento luminoso —a lentidão da carroça, dos gestos, evoca mais a placidez de uma pintura bucólica do que a presença da morte— contrastará com o tiroteio quase burlesco que se segue, dada a falta de pontaria dos participantes.

A trama segue, criando habilmente ideia do vazio dessa disputa, de modo que Erico Rassi significa aqui o vazio do machismo, que se sobrepõe à paixão e a encobre. Ou por outra: revela uma única paixão autêntica e bem narcisista, a da demonstração sem fim do machismo, da qual a mulher não é mais que um pretexto.

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