Cosan avalia vender fatia na Vale diante de dívida alta, diz agência

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A Cosan, do bilionário Rubens Ometto, está considerando vender ativos, incluindo sua participação de US$ 2,2 bilhões na Vale, em uma tentativa de desmontar uma aposta frustrante na mineradora para reduzir a dívida alta, disseram pessoas familiarizadas com o assunto ouvidas pela Bloomberg.

A empresa disse a investidores que todas as opções estão sobre a mesa para melhorar seu balanço, incluindo a venda de parte ou de toda a sua participação de 4,1% na Vale, uma das maiores mineradoras do mundo, disseram as pessoas, que pediram para não ser identificadas porque as discussões não são públicas. A joint venture da Cosan com a Shell Plc, a Raízen, também cogita a venda de seu ativo de distribuição de gasolina na Argentina, disseram as pessoas.

A Cosan —um império de açúcar e etanol que expandiu desde produção de lubrificantes e distribuição de gasolina até transporte ferroviário e fornecimento doméstico de gás natural— viu suas ações despencarem para o nível mais baixo em mais de quatro anos neste mês. Os investidores estão céticos quanto à sua capacidade de investir de forma eficiente desde a sua decisão, em 2022, de fazer dívidas para comprar uma participação minoritária na Vale, que desde então perdeu valor e proporcionou retornos considerados "medíocres" pelo BTG Pactual.

A Cosan disse que "observa continuamente as melhores oportunidades de desalavancagem e segue comprometida com a otimização na alocação de capital, principalmente em um cenário de altas taxas de juros e ambiente macroeconômico desafiador".

As ações da Cosan avançaram 2,4% na máxima após a notícia, enquanto os papéis da Vale recuaram 1,7% na mínima.

A Cosan tem mais desafios pela frente, como as altas taxas de juros e os lucros menores do seu negócio de açúcar e etanol. A empresa também tem lutado para abrir o capital de seus negócios de lubrificantes e gás.

"A alavancagem da Cosan cresceu muito nos últimos anos e claro que isso assusta um pouco o investidor", disse Marcelo Ornelas, gestor de renda variável da Kínitro Capital. "Uma janela de IPO ajudaria a desalavancar, mas com esse ciclo de alta de juros agora provavelmente não tem espaço para isso, o que dificulta o cenário."

Ometto, que tem 74 anos, disse que o mercado não gostou do investimento na Vale "porque não entendeu". Desde que a operação foi anunciada, em outubro de 2022, as ações da Cosan caíram mais de 32% em dólar. No acumulado deste ano, os papéis recuam cerca de 39%, o que levou a uma redução de US$ 2,9 bilhões no valor de mercado da companhia.

A Vale passou por um processo de sucessão confuso envolvendo interferência do governo, vazamentos de informações e brigas entre os membros do conselho. Ometto propôs que o ex-presidente-executivo da Cosan, Luiz Henrique Guimarães, assumisse o papel de liderança na Vale, disseram as pessoas, mas o cargo será ocupado pelo atual diretor financeiro da mineradora, Gustavo Pimenta.

O diretor financeiro da Cosan, Rodrigo Araujo, reconheceu a necessidade de reduzir a dívida, dizendo aos investidores em teleconferência em agosto que a empresa está "altamente focada na alocação de capital e, obviamente, a alavancagem é uma prioridade da agenda". Araujo acrescentou, ainda, que o tema é um "ponto preocupante".

Folha Mercado

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A oferta pública inicial de ações recentemente anunciada da unidade de lubrificantes da Cosan, a Moove, ocorrerá em Nova York, mas o plano fez pouco para acalmar os investidores. As ações tiveram pouca oscilação desde que a Bloomberg reportou pela primeira vez que a Cosan tinha contratado bancos para a listagem da Moove. A empresa também busca uma oportunidade para retomar seus planos de IPO da Compass, companhia do ramo de gás, uma transação que poderia levantar mais recursos, disse uma das pessoas.

Nível da dívida

A dívida da Cosan eleva o mal-estar dos investidores que já têm sofrido com uma decepção geral sobre as ações brasileiras. O índice MSCI Brazil de ações cai 16% em dólar no acumulado do ano, desempenho abaixo do índice mais amplo de ações emergentes.

Ao adquirir sua participação de 5% na Vale, a Cosan pagou cerca de R$ 66,70 por ação, ante R$ 64,25 no fechamento de quinta-feira (26), segundo dados compilados pela Bloomberg. A visão de Ometto de que as empresas trabalhariam juntas também não se concretizou. "A Cosan ainda não conseguiu concretizar plenamente esta cooperação, com a governança se tornando uma área de preocupação recentemente", escreveu Thiago Duarte, analista de ações do BTG Pactual, em nota aos clientes.

Os analistas seguem questionando se a Cosan tem tido retornos suficientes para as suas aquisições e investimentos. Por meio de sua unidade Compass, a Cosan comprou recentemente uma participação na Cia. Paranaense de Gás por R$ 906 milhões, um preço que o Citigroup considerou cerca de R$ 325 milhões acima de sua estimativa de valor justo.

As taxas de juros não estão ajudando. O Banco Central contrariou a tendência global de cortes de juros ao subir a Selic para 10,75%, em uma tentativa de reancorar as expectativas de inflação. Nos primeiros seis meses de 2024, a Cosan gastou R$ 2,17 bilhões com juros sobre a dívida líquida, um aumento de 19% em relação ao primeiro semestre de 2023.

"Isso leva a uma menor rentabilidade desses investimentos quando levado em consideração o custo do financiamento", segundo Regis Cardoso, analista da XP, acrescentando que a empresa está trabalhando para reduzir os níveis de alavancagem.

A holding provavelmente também evitará usar mais caixa para entrar em novos negócios, pelo menos por enquanto. Ometto e Araújo reconheceram em reuniões privadas com investidores que a empresa perderá alguns investimentos enquanto leva tempo para balancear seu caixa.

Um exemplo foi a privatização, no início deste ano, da maior empresa de saneamento da América Latina, a Sabesp. Ometto ficou tentado pela ideia de se tornar um investidor estratégico na empresa, o que acrescentaria ao seu império a gestão de água da maior cidade da América Latina, mas acabou decidindo não seguir em frente, disseram as pessoas.

A participação na Vale é apenas uma entre uma série de opções que a Cosan poderia considerar para reduzir a sua dívida, observou Cardoso.

"No entanto, na ausência de maiores desinvestimentos, esta desalavancagem deve ser gradual ao longo do tempo", disse ele.

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