Fiscalizar a administração, monitorar riscos e assegurar o cumprimento de normas legais e estatutárias são algumas das funções dos conselhos fiscais. Essas instâncias autônomas desempenham papel estratégico na governança de empresas, ao mesmo tempo que se reportam diretamente aos acionistas.
Apesar de sua relevância, os conselhos fiscais no Brasil ainda carecem de representatividade. Companhias de destaque no Diversidade nas Empresas, porém, contrariam essas estatísticas. São elas o Grupo CCR e a AES Brasil, em que todos os membros efetivos da divisão são mulheres, além do Banpará (Banco do Estado do Pará) e da Americanas, que se destacaram pela participação de pretos, pardos e indígenas.
O levantamento das empresas mais diversas do país foi feito pelo Centro de Estudos em Finanças da FGV (Fundação Getúlio Vargas) em parceria com a Folha. Os pesquisadores utilizaram dados de companhias de capital aberto declarados à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
A pesquisa avalia de forma separada companhias de 100 a 4.999 funcionários, como a Banpará e a AES Energia, e a partir de 5.000, tal qual o Grupo CCR e a Americanas, que está em recuperação judicial. No total, um universo de 418 empresas foi levado em consideração. A diversidade foi mensurada em cargos de média liderança, diretoria e conselhos de administração e fiscal.
Uma pesquisa do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) publicada em março deste ano revelou que conselhos fiscais são majoritariamente compostos por profissionais do gênero masculino e brancos. Entre os conselheiros fiscais efetivos, 77,5% se declaram brancos, enquanto apenas 6,47% são pardos, 1,4% são autodeclarados amarelos, 0,6% se veem como pretos e 0,15%, indígenas.
Quando se trata de diversidade de gênero, os números são mais promissores. Do total de organizações pesquisadas, 32,2% contam com mulheres em seus conselhos fiscais.
Segundo o Diversidade nas Empresas, o Grupo CCR tinha 22,3% dos cargos de média liderança ocupados por mulheres em 2023. Nos postos de alta liderança, de acordo com a companhia, a participação feminina atual é de 45%. Em posições de média e alta liderança somadas, a meta é alcançar 51% de representatividade até 2035, diz a companhia.
"Fazemos o mapeamento e a busca ativa de candidatas para cargos de alta liderança, além da definição de uma shortlist de candidatos que priorize a diversidade, com a inclusão de pelo menos uma mulher na fase final dos processos seletivos", diz Raquel Cardoso, vice-presidente de pessoas e desenvolvimento organizacional do grupo, que atua na área de infraestrutura de mobilidade (aeroportos, rodovias e gestão de metrôs, trens, VLTs e barcas).
O Grupo CCR busca cumprir suas metas internas e ser reconhecido como líder em diversidade e inclusão no setor de infraestrutura de mobilidade, estabelecendo um padrão a ser seguido por outras empresas. A estrutura interna que está sendo construída é um passo crucial para que a companhia consiga refletir a diversidade da sociedade brasileira em seus quadros de colaboradores e de lideranças
Entre as empresas com o conselho fiscal mais diverso, um dos destaques é o Banpará (Banco do Estado do Pará), em que 2 dos 3 efetivos se declaram como pretos, pardos ou indígenas. Outro é a Americanas, em que 1 dos 3 efetivos se declaram da mesma forma.
"Essa diversidade é potencializada pelas parcerias que temos, por exemplo, com o Mover [Movimento pela Equidade Racial], com foco em gerar lideranças negras", diz Eduardo Noronha, vice-presidente de gente e gestão da Americanas.
A diversidade nos torna mais fortes. Como uma empresa genuinamente brasileira, trabalhamos para que nossos clientes sintam-se representados pelos nossos 32 mil associados, que aqui encontram um ambiente de trabalho onde não importa sua raça, gênero, orientação sexual ou religião
A AES Brasil, também destaque da divisão, não quis dar entrevista ao Diversidade nas Empresas.
Para Jandaraci Araujo, mulher negra, executiva e cofundadora do Instituto Conselheira 101, que visa a inclusão de mulheres negras e indígenas em conselhos de administração, consultivos e comitês, a questão da representatividade é estrutural e de aculturamento organizacional.
"Tem homens que ocupam de 7 a 10 conselhos. Enquanto isso, existem mulheres de todo o Brasil com formação sólida, mais de 20 anos de experiência, qualificação, mestrado, que falam outros idiomas e que simplesmente os algoritmos não deixam aparecer nos processos seletivos", afirma Araujo, que ocupa assento como conselheira fiscal da Motriz e é suplente da Vale, além de atuar em conselhos administrativos de organizações como o Instituto Inhotim e o Future Carbon Group.
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No programa de formação do Conselheira 101, uma parceria com o IBGC, foram diplomadas 150 mulheres negras e indígenas entre 2020 e novembro deste ano —49% delas já estão atuando. Uma das razões do sucesso é o networking.
Para Luiz Martha, diretor de conhecimento e impacto do IBGC, a diversidade nos conselhos é cada vez mais importante para o êxito dos negócios. "Perfis diversificados proporcionam uma pluralidade de argumentos e consolidam uma tomada de decisão com mais segurança e qualidade, além de impulsionar a inovação", afirma.
Saiba mais sobre os destaques na categoria Conselhos Fiscais
As notas de participação feminina e de pretos, pardos e indígenas, que vão de 0 a 100, foram calculadas levando em consideração a presença dos grupos em cargos de alta e média liderança. Os autores do estudo deram pesos diferentes para cada uma das categorias analisadas: enquanto diretoria e conselho de administração têm peso maior, uma vez que os membros têm maior poder decisório, a média liderança e o conselho fiscal têm peso menor.
- Empresas de 100 a 4.999 funcionários
AES BRASIL
Fundação 1997
Funcionários não informado
Negros 8,15
Mulheres 32,32
BANPARÁ
Fundação 1959
Funcionários 2.600
Participação de pretos, pardos e indígenas 55,26
Participação feminina 24,64
Também levou nas categorias Bancos, Seguros e Serviços Financeiros; Norte e Participação Geral de Pretos, Pardos e Indígenas
- Empresas com 5.000 funcionários ou mais
AMERICANAS
Fundação 1929
Funcionários 32 mil
Negros 13,32
Mulheres 10,58
GRUPO CCR
Fundação 1999
Funcionários 17.700
Negros 3,67
Mulheres 32,97