Os cupês esportivos Ford Mustang e Porsche 911 driblaram a escassez de recursos naturais e resistiram a fusões, crises financeiras e iminentes substituições. Assim chegaram aos 60 anos fiéis aos seus conceitos originais, e por isso podem ser considerados os esportivos mais importantes do século 20.
Foi no Salão de Frankfurt de 1963 que a Porsche mostrou o sucessor do 356, modelo que dera início à trajetória da marca alemã apenas 15 anos antes. Tratava-se de um protótipo do 901, que se apresentava antes da hora para ofuscar o lançamento do Mercedes-Benz 230 SL, revelado no mesmo evento.
O primeiro exemplar de produção em série sairia da fábrica de Zuffenhausen, na Alemanha, exatamente um ano depois, em 14 de setembro de 1964. Rebatizado, no entanto: como a Peugeot já havia adquirido o direito de nomear seus carros com três números e um zero no meio, a Porsche teve que escolher outra designação para o novo esportivo. Nascia assim o 911.
Enquanto a Porsche tomava a reta final no desenvolvimento de seu segundo produto, a Ford expunha na World’s Fair, em Nova York, em 17 de abril de 1964, aquele que se tornaria seu carro mais icônico e longevo.
Partindo de US$ 2.368 na época, o Mustang era o "Thunderbird do homem pobre", como definira o então vice-presidente e mentor do esportivo acessível da montadora norte-americana, Lee Iacocca. Seu nome remetia ao P-51 Mustang, avião usado na Segunda Guerra Mundial.
Aos poucos, o novato da Ford ia ganhando além de fãs, musculatura. Bastou dois anos para somar mais de 1 milhão de exemplares vendidos e ganhar uma versão mais poderosa, a GT500, com um V8 de 360 cv. Em 1969, surgiram 11 combinações diferentes de motor e câmbio.
Depois de quase dez anos de sucesso e versões icônicas, o Mustang foi atropelado pela crise do petróleo, que levou o "pony car" da Ford a uma fase conturbada. Além de abdicar dos motores V8, a linha 1974 diminuiu 48 centímetros no comprimento.
No mesmo ano em que o esportivo da Ford chegou à segunda geração com a força se esvaindo, a do Porsche se inflava com a versão Turbo.
Mas uma nova fase se iniciou para o Mustang em 1979 com a plataforma Fox, que deixou o modelo com cara de compacto europeu. Uma das novidades foi a chegada da injeção eletrônica no motor 5.0 V8, até então alimentado por carburador.
A Porsche se manteve fiel às linhas básicas do 911 ao longo dos anos, mesmo no período em que fez a transição do ar para a água na refrigeração dos motores.
FORD MUSTANG GT PERFORMANCE
Preço: R$ 549 mil (março/2025)
Motor: gasolina, dianteiro, aspirado, 5.037 cm³
Potência: 488 cv a 7.250 rpm
Torque: 57,1 kgfm a 5.000 rpm
Transmissão: tração 4x2 (traseira), câmbio automático, dez marchas
Pneus: 255/40 R19 (dianteiros) e 275/40 R19 (traseiros)
Peso: 1.836 kg
Porta-malas: 382 litros
Tanque: 61 litros
Comprimento: 4,81 m
Largura: 1,96 m
Altura: 1,40 m
Entre-eixos: 2,72 m
Aceleração (0 a 100 km/h, em segundos): 4,4
Retomada (80 km/h a 120 km/h, em segundos): 2,7
Consumo urbano (km/l): 6,2
Consumo rodoviário (km/l): 12,2
Autonomia rodoviária (a 90 km/h): 744 km
Já a Ford retomou os contornos originais do Mustang em 2005, quando a quinta geração estreou a nova fábrica de Flat Rock, em Michigan. Até então, o carro eraq produzido em Dearborn, no mesmo estado americano.
O modelo fabricado nos EUA está em sua sétima geração, enquanto o Porsche 911 conta o tempo em séries. A atual se chama 992, que pode ser considerada a oitava geração do modelo.
Desde a reabertura do mercado aos modelos importados, no início dos anos 1990, exemplares de ambos os esportivos sempre vieram para o Brasil. No início, chegavam por meio de importadores independentes. Talvez a mais famosa a trazer o esportivo alemão tenha sido a Distribuidora de Automóveis, Caminhões e Ônibus Nacionais, mais conhecida como Dacon, sucedida pela Stuttgart nos anos 1990.
Logo após completar 50 anos, na sexta geração, o Mustang, enfim, passou a ser importado pela própria Ford. O carro é o modelo de imagem da empresa no Brasil, tendo 672 unidades comercializadas em 2024. O dado é da Fenabrave (associação dos revendedores de veículos).
A Porsche assumiu as operações no país em 2015, ampliando a rede de concessionários e o volume de modelos importados. A marca fechou 2024 com 6.172 emplacamentos no Brasil, sendo 1.499 unidades do modelo 911.
A marca detém os recordes de desempenho do teste Folha Mauá, sendo o 911 Turbo S Cabriolet o carro mais rápido já avaliado. Equipado com motor boxer 3.8 turbo de seis cilindros (650 cv) conciliado ao câmbio de dupla embreagem e oito marchas, o esportivo acelerou do zero aos 100 km/h em 2,7 segundos.
O modelo que passou pela pista dessa vez foi o 911 Carrera T 3.0 (385 cv), que precisou de 3,9 s para cumprir a prova de aceleração. Apesar da clara vocação esportiva, foi até econômico no uso rodoviário: média de 14,1 km/l rodando a 90 km/h constantes, segundo a medição do Instituto Mauá de Tecnologia.
Equipado com um motor 5.0 V8 (488 cv) posicionado à frente do motorista, o Mustang foi do zero aos 100 km/h em 4,4 s. Como esperado, o consumo foi mais elevado: média de 12,2 km/l na estrada.
PORSCHE 911 CARRERA T
Preço: R$ 956.457 (março/2025)
Motor: gasolina, traseiro, turbo, 2.981 cm³
Potência: 385 cv a 6.500 rpm
Torque: 45,9 kgfm entre 1.950 rpm e 5.000 rpm
Transmissão: tração 4x2 (traseira), câmbio automatizado de dupla embreagem, oito marchas
Pneus: 245/35 R20 (dianteiros) e 305/30 R21 (traseiros)
Peso: 1.490 kg
Porta-malas: 135 litros
Tanque: 90 litros
Comprimento: 4,54 m
Largura: 1,85 m
Altura: 1,29 m
Entre-eixos: 2,45 m
Aceleração (0 a 100 km/h, em segundos): 3,9
Retomada (80 km/h a 120 km/h, em segundos): 2,7
Consumo urbano (km/l): 7
Consumo rodoviário (km/l): 14,1
Autonomia rodoviária (a 90 km/h): 1.269 km
O pequeno intervalo de tempo na prova de desempenho entre ambos é inversamente proporcional aos seus contrastes técnicos e percursos biográficos. Enquanto a Porsche aplica toda a evolução de seus motores a combustão no 911, a Ford segue receita mais tradicional em seu esportivo disponível no Brasil.
Ao longo dos anos, os modelos se distanciaram em preços. No caso das opções avaliadas neste teste, o Porsche é anunciado por R$ 956,5 mil, enquanto o Mustang custa R$ 549 mil.
Em comum, esses carros compartilham o tempo de vida e a dimensão histórica, e assim conseguiram entrar no século 21 mantendo-se como os esportivos mais influentes em seus países de origem.