Por anos, falamos da rivalidade entre Toyota e Honda como um dos exemplos de como cada montadora olha para sua principal concorrente. Com a chegada das chinesas, BYD e GWM seguem esta cartilha, com a vantagem da velocidade de desenvolvimento, correção e adaptação que essas marcas conseguem ter em comparação com as tradicionais.
BYD Song Plus e GWM Haval H6 têm muito em comum: SUVs médios híbridos, que fizeram correções recentes em suas linhas; pacote de equipamentos semelhantes e preços muito próximos. Se as duas marcas estão pegando clientes das tradicionais, fica a dúvida para este comprador já convencido por um Made in China: qual levar para casa na faixa dos R$ 240 mil?
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Ambos são SUVs médios maiores que Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, por exemplo. De porte semelhante, as diferenças nas medidas são quase imperceptíveis. O Haval H6 parece ser maior que o do Song Plus pela altura, com 1,73 m contra 1,68 m, mas no restante é menor. Há também um efeito de design que amplia essa sensação no Haval H6.
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Por dentro, ambos oferecem uma boa dose de espaço e conforto. O Song Plus é mais aconchegante no desenho e tamanho dos bancos, mas o Haval H6 é mais amplo tanto na dianteira quanto traseira. Os dois usam a solução de console central elevado entre os bancos dianteiros e um assoalho traseiro plano, com portas grandes para facilitar o acesso. Ambos tem as saídas de ar-condicionado e duas portas USB para os ocupantes traseiros.
No porta-malas, ambos tem a abertura elétrica. Em capacidade, o GWM tem 560 litros, contra os 574 litros do BYD, que tem um compartimento mais alto, enquanto o Haval é mais largo pela forma com que as caixas de rodas e acabamentos invadem o compartimento.
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São carros muito semelhantes nesse quesito. Porte, espaço interno e porta-malas são pontos fortes da dupla que, em muitos casos, acabam servindo como argumento de venda principalmente na comparação com os SUVs médios das marcas tradicionais, que são menores.
Vantagem: empate
As marcas chinesas apostam bastante em uma qualidade de acabamento para surpreender um comprador nas lojas. Enquanto o Song Plus já tinha esse interior com mistura de cores, o GWM Haval H6 PHEV19 recebeu essa mistura que foge do cinza e preto das demais versões. A montagem de ambos também não tem ressalvas ou problemas, ao menos aparentes.
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O Song Plus impacta mais com o uso maior de materiais suaves ao toque. Até o retrovisor interno é sem moldura, uma peça bonita, e as luzes internas são sensíveis ao toque, sem um botão físico para ligar. Há LEDs configuráveis, o que dá um requinte, mas é um conceito mais carregado e cheio de informações, cores e materiais.
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No Haval H6, há também materiais suaves ao toque, mas mais pontos em plástico rígido ou material apenas emborrachado. Por outro lado, é um ambiente mais limpo, o que ajuda na sensação de amplitude da cabine. Só que pontos como seu volante de aro fino é um reclamação recorrente dos compradores, assim como o couro dos bancos não tão suave como o do BYD.
Em ergonomia, a mania dos chineses de optarem por comandos em telas acaba atrapalhando. No GWM, por exemplo, você pode acionar o ar-condicionado por botão físico, mas a temperatura é na tela que, se estiver espelhando algo, terá que sair - pode fazer por voz, mas não é algo tão didático. O BYD também usa a tela, mas tem o botão pra ligar o automático e o ar no console central e, se espelhar na tela, os ajustes aparecem se arrastar o dedo pra cima, uma evolução que foi feita em atualizações recentes do software do carro.
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Pelo acabamento melhor, o BYD Song Plus leva esse quesito, além de já pensar mais na usabilidade de diversos sistemas pela tela de forma mais intuitiva ou, se precisar, com alguns botões físicos, como o volume do som, seletor de modos de condução e alguns assistentes de condução no console central.
Vantagem: BYD Song Plus
A grande aposta das chinesas é em pacotes bem completos em versões únicas. Em ambos, temos chave presencial (com partida remota no BYD), teto-solar panorâmico, rodas de 19", faróis e lanternas em LEDs, porta-malas com abertura elétrica, ar-condicionado de duas zonas com filtros especiais e outros itens. São detalhes que separam os dois SUVs quando analisamos a lista por completo.
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O Haval H6 tem a abertura do porta-malas por sensor, bancos dianteiros elétricos com ventilação e câmera 360 com a função de capô transparente. No BYD Song Plus, os bancos recebem ventilação e aquecimento, sistema de som Dirac, LEDs internos, abertura de portas e partida por NFC (chave ou smartphone) e câmera 360 com efeito 3D. A diferença entre eles aparece mesmo na parte de assistência, o próximo quesito do comparativo.
Falando em telas, o GWM é mais conservador, com o painel de instrumentos em 10,25" e a central multimídia com 12,3", enquanto o BYD recebeu na linha 2025 uma tela (ainda giratória, lógico...) com 15,6" fazendo par com o painel de 12,3". O Song Plus guarda essa tela do painel em uma moldura mais tradicional, enquanto o GWM tem o estilo de uma tela no dashboard, sem uma moldura.
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Os dois já estão usando espelhamentos sem fios para Apple CarPlay e Android Auto, em par com um carregador por indução - curiosamente, nenhum deles tem portas USB-C, mais moderno e rápido que o USB-A. O GPS nativo está em ambos, mas o Haval H6 tem o Live Traffic, que usa informações para criar rotas com menor tráfego.
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Em usabilidade, o sistema de GWM é mais rápido, com menos menus e mais direto. O BYD tem a tela bem maior, mas não tão rápida quanto o do Haval e precisa de mais tempo para achar alguns menus e funções, como a tela de opções do sistema híbrido. O Haval também tem conectividade com aplicativo próprio e serviços de concierge e socorro, inclusive automático. Por essa vantagem e da operação do software, leva esse quesito, mas com pouca folga pelos equipamentos.
Vantagem: GWM Haval H6 PHEV19
Se hoje cobramos tanto a BYD sobre a ausência de assistentes de condução nos lançamentos mais recentes, muito vem do Song Plus e um pacote bem completo. Quando chegou um pouco demais, o Haval H6 também não vacilou e trouxe até algumas coisas a mais ou já mais avançadas.
Mais uma vez, temos muitas semelhanças. Piloto automático adaptativo com Stop And Go, sendo que o Haval reconhece pedestres, ciclistas e diferencia caminhões; alerta de colisão com frenagem automática, assistentes de mudança de faixa e alerta de ponto-cego; assistente e centralizados de faixas; leitor de placas de trânsito; além de 6 airbags, algo praticamente obrigatório nesse preço.
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O Haval H6 PHEV19 tem alerta de tráfego cruzado na traseira, como o BYD, mas também evita acidentes em cruzamentos. Como assistentes, além do estacionamento automático, tem um sistema que grava o trajeto de até 50 metros para repetir em marcha ré. Em caso de colisão, ele freia para evitar uma segunda batida, enquanto o BYD alerta se há tráfego antes da abertura das portas.
O GWM leva esse quesito não só pelos features extras, mas o funcionamento dos sistemas é mais refinado que no BYD, principalmente o piloto automático adaptativo e o assistente de faixas.
Vantagem: GWM Haval H6 PHEV19
E aqui temos a dupla que mudou para poder brigar. Enquanto o BYD Song Plus chegou com uma bateria pequena e recebeu uma nova na linha 2025, o Haval H6 estreou a versão PHEV19 para ser uma opção abaixo da PHEV34, mais cara. Nisso, temos carros plug-ins com capacidade semelhante de energia e autonomia elétrica, mas com uma boa diferença na combustão.
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O BYD Song Plus tem uma bateria de 18,3 kWh na linha 2025. Além do motor elétrico, tem o 1.5 aspirado que, em conjunto, produzem 235 cv e 40,8 kgfm, só que bem dependente do elétrico e da carga nas baterias para entregar essa força. O câmbio é automático transeixo, um sistema que aproveita bem o que o motor elétrico entrega.
Em modo elétrico, rodou 110 km antes de entrar em uma faixa de redução de potência. Em modo híbrido, continua priorizando bastante o elétrico, mas consegue jogar o 1.5 aspirado se precisar de mais força, mesmo que seja para gerar energia para as baterias e alimentar mais esse elétrico ou, em poucos momentos, como tração conjunta. Chama a atenção como é bem isolado acusticamente e para as vibrações - os vidros dianteiros duplos isolam até de ruídos externos.
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Novidade da linha 2025, o Haval H6 PHEV19 tem, como diz o nome, uma bateria de 19 kWh. É um pouco maior que a do Song Plus, mas foi aos 97 km de autonomia elétrica, assim como o BYD, antes de precisar do motor a combustão para suprir a energia - ele não reduz a potência antes, como faz o Song Plus. Sua maior diferença para o seu oponente é um motor 1.5 turbo embaixo do capô, além de uma transmissão automatizada de embreagem simples, que trabalha duas marchas. A GWM não fala os números individuais, apenas o total de 326 cv e 54 kgfm.
Mesmo com um motor a combustão mais potente, seu modo híbrido usa menos o 1.5 turbo que o BYD pede o 1.5 aspirado pois, apesar de não divulgar, podemos perceber que o elétrico do GWM é mais potente e responde melhor quando precisamos de mais força antes de solicitar ajuda. O sistema de duas marchas é bem curioso, mas funciona muito bem em alguns momentos, como já vou explicar.
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No dia a dia, temos comportamentos e calibração de sistemas diferentes. Na cidade, o Haval consumiu menos em modo Hybrid Auto, com 63,7 km/litro, tanto por pedir menos o 1.5 turbo, quanto pelo motor mais moderno, com injeção direta. O BYD é mais suave em funcionamento e não dá para ignorar os 55,5 km/litro que ele registrou na cidade - o sistema híbrido estava no modo Auto de recarga -, só que como já dito, parece ignorar menos o motor a combustão.
Na estrada, o BYD colocado em modo automático segue priorizando o elétrico, colocando o 1.5 mais como um gerador que como tração, que devolve um consumo de 24,3 km/litro enquanto tiver bateria. Por outro lado, o Haval H6 praticamente esquece o elétrico, poupando baterias, e trabalha seu câmbio de duas marchas para manter o 1.5 turbo em uma faixa eficiente de consumo, onde registramos 16,6 km/litro e menor preocupação com a carga da bateria.
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Sim, o BYD segue com uma necessidade de controle de carga de bateria para ter um bom desempenho. Há quem jogue com o sistema para forçar a recarga, mas isso derruba o consumo consideravelmente e, se a bateria chegar a um nível bem baixo, o 1.5 não dá conta de levar o peso do SUV e, ao mesmo tempo, colocar carga na bateria para voltar a usar o motor elétrico. Uma falha que a BYD resolveria com uma gestão melhor desse sistema ou o motor 1.5 turbo que eles tem no exterior.
Os dois tem modos Eco, Sport e Normal, mas o GWM tem o Neve, que pode ser usado também em lama ou outro piso de baixa aderência. Mais potente, o Haval H6 tem até controle de largada e as provas de aceleração deixam claro que ele é mais rápido, com 0 a 100 km/h em 7 segundos, contra os 8,5 segundos do BYD, nada ruim também. As retomadas seguem também nessa casa de vantagem para o GWM.
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O GWM tem o câmbio de duas marchas que, como tem o torque inicial do motor elétrico, só entra em ação depois de arrancar e faz a troca para a segunda como uma forma de reduzir a rotação do 1.5 turbo em busca de consumo melhor. É um sistema que parece complexo, mas é relativamente simples.
Ao volante, o BYD é mais confortável com uma suspensão da escola chinesa, só que o Haval H6 tem um acerto mais parecido com modelos japoneses e europeus, além de repassar muito menos o que passa no asfalto para o volante. Sua posição de dirigir é menos ergonômica por um range menor de ajustes de altura e profundidade da coluna, o que incomoda em períodos maiores ao volante. Nos dois casos, há poucas batidas secas quando passam por buracos mais fundos ou mais rápido em lombadas, mas existem.
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Aqui, a briga é até mais acirrada. O BYD roda mais no modo elétrico, mas tem recarga apenas em AC (6,6 kW) e um consumo híbrido na cidade pior que do oponente. O Haval anda mais por ser mais potente, mas roda menos em modo elétrico mesmo usando uma bateria maior, que aceita a recarga AC (6,6 kW) e DC (33 kW), um diferencial.
O que pode fazer você decidir entre eles é o ajuste da suspensão, apesar dos dois precisarem de alguns refinamentos, e como eles se comportam em estrada, sendo que o Haval depende bem menos da carga da bateria para ter um bom consumo e ainda ter um bom desempenho, principalmente em retomadas. O GWM leva este quesito, mas o BYD não fica longe, principalmente na autonomia elétrica.
Vantagem: GWM Haval H6 PHEV19
São R$ 800 que separam GWM Haval H6 PHEV19 e BYD Song Plus, sendo o GWM o mais barato. Até aqui, você pode dizer que ele leva por ser, além de mais barato, mais equipado e mais potente. Vamos vamos falar sobre garantia, algo que faz a diferença principalmente em marcas que ainda estão conquistando seu espaço no mercado.
O Haval tem 5 anos para o carro, sem limite de quilometragem, e 8 anos para o sistema elétrico de alta, como motores elétricos e a bateria, com uma observação de 200.000 km. Enquanto isso, o BYD tem 6 anos para o carro e 8 para o sistema elétrico, ambos sem a limitação de quilometragem. Empate? Sim, empate.
Vantagem: empate
A velocidade de atualização dos chineses deixou esse comparativo interessante. De um lado, a correção de um problema com a bateria de menor capacidade; do outro, uma nova versão intermediária plug-in para suprir essa lacuna ocupada pelo...BYD Song Plus, que também ganhou equipamentos e atualizou problemas de software que o atrapalhavam bastante.
Em pontos corridos, o GWM Haval H6 PHEV19 leva o comparativo por ser mais potente e um pouco mais equipado, só que o BYD Song Plus anda mais no modo elétrico e tem melhor acabamento, então não podemos o colocar fora de uma indicação de compra nesta faixa de preço a depender do perfil e prioridades do comprador. Está pronto para um chinês ou ainda fica com Compass e cia?
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Fichas técnicas
BYD Song Plus | GWM Haval H6 PHEV19 | |
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.498 cm3, comando duplo com variador na admissão, gasolina + 1 elétrico | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.499 cm3, comando duplo com variador no escape e admissão, injeção direta, turbo, gasolina + 1 elétrico |
POTÊNCIA/TORQUE | 105 cv a 6.000 rpm e 13,8 kgfm a 4.500 rpm (combustão); 194 cv e 33.1 kgfm (elétrico); Combinada: 235 cv; 40,8 kgfm | 326 cv e 54 kgfm (combinados); individual não informado |
TRANSMISSÃO | automática transeixo; tração dianteira | automatizada de embreagem simples, 2 marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO E RODAS | McPherson na dianteira; multilink na traseira; rodas de 19" com pneus 235/50 | McPherson na dianteira; multilink na traseira; rodas de 19" com pneus 235/55 |
BATERIA E RECARGA | 18,3 kWh; AC: 6,6 kW | 19 kWh; AC: 6,6 kW; DC: 33 kW |
PESO | 1.790 kg em ordem de marcha | 1.890 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.705 mm, largura 1.890 mm, altura 1.680 mm, entre-eixos 2.765 mm; | comprimento 4.683 mm, largura 1.886 mm, altura 1.729 mm, entre-eixos 2.738 mm |
CAPACIDADES | tanque 58 litros; porta-malas 574 litros | tanque 55 litros; porta-malas 560 litros |
PREÇO | R$ 239.800 | R$ 239.000 |
BYD Song Plus | GWM Haval H6 PHEV19 | |
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 4,1 s | 3,7 s |
0 a 80 km/h | 6,1 s | 5,2 s |
0 a 100 km/h | 8,5 s | 7,0 s |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 6,3 s | 5,0 s |
80 a 120 km/h em S | 5,6 s | 4,0 s |
Consumo | ||
Autonomia EV | 110 km | 97 km |
Ciclo cidade | 55,5 km/l | 63,7 km/l |
Ciclo estrada | 24,3 km/l | 16,6 km/l |