Como decepcionar os outros e não se importar com isso

há 2 meses 3

Nos últimos anos, várias celebridades ganharam os holofotes ao dar um passo atrás para priorizar sua saúde mental.

Primeiro, foi Simone Biles que se retirou das Olimpíadas de 2020 mais cedo. Depois, Naomi Osaka evitou falar com a imprensa no Aberto da França de 2021, e o cantor Shawn Mendes cancelou uma turnê em 2022. Mais recentemente, a estrela pop Chappell Roan desistiu de duas apresentações em festivais de música.

Esses atos de autopreservação destacam uma verdade incômoda: embora o autocuidado seja importante, colocar suas próprias necessidades em primeiro lugar geralmente significa decepcionar os outros. Quando você estabelece limites, há uma boa chance de que "algumas pessoas sintam mágoa, raiva e decepção", diz Juliane Taylor Shore, terapeuta licenciada e autora do livro "Setting Boundaries That Stick" [Estabelecendo limites que permanecem, não traduzido para o português].

A perspectiva de desapontar alguém pode fazer com que você deixe de lado suas próprias necessidades, afirma Shore, mas é possível melhorar a capacidade de dizer "não" sem se culpar. Pedimos a ela e a outros especialistas em saúde mental que compartilhassem algumas estratégias.

ENTENDA POR QUE DIZER 'NÃO' É DESCONFORTÁVEL

Amy Wilson, 54, se autodenomina uma pessoa que sempre agradou os outros. Mas no início da pandemia ela se viu sobrecarregada enquanto cuidava de uma criança com um problema de saúde crônico. Pela primeira vez, ela teve que aprender a se sentir à vontade para dizer "não".

Quando anunciou a difícil decisão de deixar o cargo de presidente do conselho de uma organização onde era voluntária, ela disse que se seguiu um "silêncio estranho".

"A parte difícil, se você gosta de agradar as pessoas, é não preencher esse silêncio. Não dizer: 'Ah, mas não importa, talvez eu consiga resolver isso'", disse Wilson, autora de "Happy to Help" [Feliz em ajudar], uma coletânea de ensaios sobre o assunto que será lançada em janeiro nos Estados Unidos.

Estabelecer limites pode ser um desafio porque somos criaturas inerentemente sociais, diz Kathleen Smith, terapeuta e autora de "True to You" [Fiel a você].

É "automático" para o cérebro humano se preocupar com o que os outros pensam, diz Smith, "e por uma boa razão! Fomos criados para cooperar e manter as pessoas calmas e felizes".

Entender isso pode dar coragem para estabelecer limites de qualquer forma, sejam eles grandes —como recuar em um local de trabalho que acumula mais trabalho do que você pode suportar— ou relativamente pequenos, como não atender ao telefonema de sua mãe quando você estiver ocupado, mesmo que isso a deixe ansiosa, acrescenta ela.

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OFEREÇA UMA EXPLICAÇÃO, MAS NÃO MUITA

"'Não' é uma frase completa."

Gregory Scott Brown, psiquiatra e autor de "Os Cinco Pilares do Autocuidado", ouve muito essa frase. "Parece bonitinha", diz ele. "Mas acho que, na vida real, é muito difícil simplesmente dizer 'não' a todos.

"É claro que você não deve a ninguém detalhes específicos sobre sua saúde ou bem-estar, observa Brown. Mas compartilhar um pouco do contexto pode ajudar a promover a compreensão.

Sinta-se à vontade para manter a simplicidade, como: "Não, não posso fazer isso porque preciso me concentrar um pouco mais em minha saúde mental", sugere ele, e não se deixe levar por um vai e vem.

Ele aconselha os pacientes a terem em mente que "estabelecer limites não é o mesmo que queimar pontes". Você sempre pode mudar de ideia ou estabelecer limites incrementais para o seu tempo. "O 'não' não precisa ser algo permanente", afirma.

TENHA CALMA COM VOCÊ MESMO

A autocompaixão consiste em encontrar um ponto ideal entre nossas necessidades e as necessidades dos outros, diz Kristin Neff, professora associada de psicologia educacional da Universidade do Texas em Austin, que escreveu vários livros sobre o assunto.

Depois de decepcionar alguém, Neff recomenda que você respire fundo algumas vezes e feche os olhos. Pense na pessoa que você decepcionou e no que aconteceu e passe alguns momentos com os sentimentos de dor ou culpa que surgirem.

Em seguida, lembre-se de que você é humano e incentive-se a aceitar quem você é. Se quiser, pode ser útil colocar a mão no coração ou em outra parte do corpo e imaginar a compaixão fluindo da mão para si mesmo durante a inspiração, diz Neff.

E tente não ver a reação da outra pessoa como um reflexo de você. Shore enfatizou que você não é responsável pelos sentimentos de ninguém, que podem ser moldados pelo histórico da pessoa ou pelo dia que ela está tendo.

PENSE COMO UM PAI AUTORITÁRIO

Muitos pais se tornam hábeis em tolerar a angústia de seus filhos sem deixar de estabelecer limites, ressalta Smith. E há pesquisas que demonstram que esse tipo de "paternidade autoritária" é benéfica para as crianças.

"Acho que não somos muito bons em nos lembrar disso com outros adultos", diz. Os mesmos pais que são autoritários em casa podem ter dificuldades para dizer "não" ao chefe, observa Smith, ou a um amigo exigente.

Portanto, pode ser útil canalizar a mentalidade dos pais. Lembre-se de que a angústia de outra pessoa não o matará e que a preservação de seu bem-estar acabará fortalecendo seus relacionamentos.

"É assim que ajudamos as crianças a crescer", diz Smith sobre o estabelecimento de limites, "e é assim que ajudamos uns aos outros a crescer também".

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