Esta é a edição da newsletter FolhaMercado desta segunda-feira (26). Quer recebê-la de segunda a sexta, às 7h, no seu email? Inscreva-se abaixo:
Folha Mercado
Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.
Falta de chuva custa caro
A estiagem na maior parte do Brasil tem um custo social e econômico alto. Os incêndios nas plantações de cana-de-açúcar do interior de São Paulo, por exemplo, causam um prejuízo de ao menos R$ 350 milhões aos produtores.
Foram 59 mil hectares atingidos, incluindo parte ainda com mudas para a primeira colheita, que foram perdidas. Os números são da associação do setor Orplana.
↳ As regiões mais atingidas foram as de São José do Rio Preto, Piracicaba e Ribeirão Preto.
Por que importa: o impacto do fogo é significativo para o agronegócio paulista. Jacyr Costa, presidente do Coagro (Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp), afirma que diversas atividades realizadas ao ar livre estão paralisadas devido à fumaça e às chamas.
A agricultura e a pecuária, que foram motores do crescimento econômico do Brasil no último ano, são setores extremamente sensíveis a eventos climáticos.
↳ A produção de etanol e açúcar é um dos pilares da economia do estado de São Paulo.
↳ O clima e as catástrofes naturais foram dois dos maiores riscos apontados por empresários para a paralisação dos negócios no Brasil em 2024, segundo a Allianz Commercial.
Impactos globais. Um estudo recente aponta que um aumento de 3°C na temperatura global pode reduzir pela metade o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) dos países até 2100.
Entre os efeitos previstos está o aumento da inflação, impulsionado por ciclos de escassez de produtos agropecuários — uma preocupação crescente entre economistas.
A grande maioria dos países, signatários do Acordo de Paris, comprometeu-se a limitar a elevação das temperaturas a até 1,5ºC.
Tarcísio, Lula e Marina. O governador de São Paulo, o presidente da República e a ministra do Meio Ambiente se pronunciaram sobre os incêndios no fim de semana. Tarcísio de Freitas sobrevoou as áreas afetadas e afirmou que os focos começaram a ser controlados.
Em Ribeirão Preto, os incêndios forçaram alguns moradores a deixar suas casas no sábado, já que o fogo se aproximou dos muros devido aos fortes ventos. Veja relatos de moradores.
O governador prometeu também ajuda aos produtores de cana afetados. Já Lula e Marina Silva destacaram que os incêndios têm origem criminosa. A Polícia Federal está investigando.
↳ A hipótese já havia sido levantada por produtores rurais e pelo grupo sucroalcooleiro Raízen, uma das grandes empresas impactadas.
↳ Havia 48 cidades em alerta máximo para riscos de incêndios no estado na tarde de domingo (25), principalmente na região de Ribeirão Preto.
Mudanças climáticas. A estiagem é comum para esta época do ano no centro-sul do país, durante o inverno. Mas a seca na Amazônia agravou a situação no sudeste devido ao menor volume de nuvens que normalmente se deslocam da floresta para a região.
Parte dos cientistas considera a seca deste ano uma continuação da registrada em 2023, quando rios praticamente desapareceram no norte.
↳ O Rio Solimões corre risco de ficar abaixo de sua mínima histórica (-86 cm), registrada em 2010. Na Ilha de Marajó, Pará, os incêndios já duram três semanas.
↳ Pesquisadores concluíram que as mudanças climáticas foram uma das causas da seca de 2023.
Além dos incêndios. No interior de São Paulo, o racionamento de água afeta a população, especialmente nas regiões de Bauru e Piracicaba.
O ar seco e as fuligens das queimadas agravam os problemas respiratórios, aumentando a demanda por atendimento médico.
Na capital. A região metropolitana de São Paulo, por outro lado, apresenta bons níveis em seus reservatórios e teve pancadas de chuva no fim de semana, melhorando a qualidade do ar depois de 14 dias sem precipitação.
Seca. A estiagem atual traz alerta para o risco de secas ainda mais severas nos próximos anos. Há expectativa de atrasos na volta das chuvas nos próximos meses, que não seriam suficientes para encher as represas até o início do período seco de 2026.
↳ O governo do estado de São Paulo afirma que um programa para a perfuração de poços artesianos está em implementação.
↳ Em editorial neste fim de semana, a Folha apontou a necessidade de se criar diagnósticos que permitam alguma previsibilidade aos fenômenos extremos.
Acabou a espera?
Mais uma semana começa com a expectativa de que o presidente Lula indicará o próximo comandante do Banco Central. O atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, é o favorito para assumir a instituição.
A equipe econômica espera a indicação até a sexta-feira (30). Isso garantirá maior clareza aos agentes do mercado financeiro sobre o cenário futuro.
↳ Na semana passada, o ministro Fernando Haddad afirmou que Lula já escolheu o substituto de Roberto Campos Neto.
↳ O jornal O Globo revelou neste fim de semana que Gabriel Galípolo já coordena equipes para estruturar sua futura gestão, com o aval de Campos Neto.
Ansiedade. A incerteza sobre a administração do Banco Central a partir de 2025 é apontada como um dos motivos para a alta do dólar e das expectativas de inflação nos últimos meses.
Falas recentes de Galípolo foram vistas como uma indicação positiva de sua independência em relação às pressões do Planalto. Na última semana, porém, houve um engasgo na comunicação do diretor. Ele disse que foi mal-interpretado após dizer que subir juros não faz parte de cenários "difíceis".
↳ A próxima decisão sobre a taxa de juros é fortemente esperada. Há economistas que defendem uma alta.
Selic. Os juros básicos do Brasil estão hoje em 10,50% ao ano. Eles serve como piso para todos os outros juros da economia, como usados para remunerar investimentos. Também impacta o crédito.
A queda da taxa entre 2023 e 2024 ajudou a Bolsa a ganhar força, mas o patamar necessário para saída de investidores da renda fixa ainda é considerado distante.
Desafios no Senado. As indicações ao Banco Central precisam ser aprovadas pelo Senado. Reportagens da Folha mostraram que Lula e o núcleo político do Palácio do Planalto buscam diminuir atritos com os senadores antes de oficializar a indicação.
Uma das pendências é o avanço nas negociações da PEC que garante autonomia financeira ao Banco Central.
Mais atritos. A relação entre governo e os parlamentares ficou tensa nas últimas semanas, após o STF (Supremo Tribunal Federal) atender a pedidos do Planalto e bloquear as emendas impositivas feitas pelo Congresso no Orçamento.
Representantes dos três Poderes se reuniram e chegaram a um acordo para aumentar a transparência das emendas, um dos pontos mais criticados.
Quem é Galípolo? O diretor de Política Monetária é economista, com graduação e mestrado pela PUC-SP. Aos 42 anos — idade média de outros presidentes de bancos centrais —, foi auxiliar de Haddad na Fazenda em 2023 e colaborou com a campanha de Lula.
↳ Antes, presidiu o banco Fator. Isso é visto como facilitador do seu bom relacionamento com o mercado financeiro.
Seu pensamento. Galípolo é próximo de Luiz Gonzaga Belluzzo, um economista de esquerda, com quem escreveu três livros. É visto como um "heterodoxo light".
↳ Reportagem de Alexa Salomão detalha o perfil de Galípolo e analisa suas principais publicações. Recomendo a leitura aqui.
Outras indicações. Caso ele seja confirmado, Lula precisará fazer outras três indicações até o final do ano: uma para substituir o próprio Galípolo e duas para os diretores cujos mandatos terminam em 31 de dezembro, junto com o de Campos Neto.
↳ Na semana passada, o ministro Fernando Haddad também informou que as indicações poderão ser feitas em bloco.
↳ Um nome cogitado para a diretoria de Política Monetária é o de Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco.
Tchau, São Francisco
O X, antigo Twitter, trocará a cidade de São Francisco, na Califórnia, pelo Texas, seguindo o movimento de outras empresas de Elon Musk, como a SpaceX.
↳ A decisão de Musk reforça a mudança que a rede social enfrenta desde a aquisição em 2022, por US$ 44 bilhões.
Por que importa: desde a fundação em 2006, o Twitter tinha sua sede em São Francisco, simbolizando o status da cidade como capital das startups. Em 2011, quase deixou o local, mas permaneceu após a prefeitura conceder isenções fiscais. Como contrapartida, a empresa se comprometeu a revitalizar um bairro abandonado, ação seguida por empresas como Uber e Zendesk.
A iniciativa da prefeitura foi considerada um sucesso, impulsionando a economia local, gerando empregos e estabelecendo um novo polo tecnológico. O momento de glória do bairro de Mid-Market, no entanto, passou.
Sem despedida. Segundo reportagem do The New York Times, o X hoje pouco lembra o antigo Twitter. Anos atrás, a sede era motivo de orgulho para a cidade.
"Compartilho a perspectiva da maioria dos sanfranciscanos: Já vai tarde", afirmou o procurador David Chiu, que em 2012 apoiou a isenção fiscal concedida ao Twitter.
↳ Próximo a figuras políticas de direita, Musk não é exatamente um líder admirado em São Francisco, cidade conhecida por seu perfil progressista.
Aqui no Brasil: Outra mudança anunciada pela rede social foi o encerramento das operações no país. A empresa acusou o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), de ameaçar seus funcionários com prisão. Entenda aqui.
Elon Musk critica as decisões da justiça brasileira em relação a publicações na plataforma.
De olho na Bolsa
Cogna Educação, cujas ações subiram 7,5% apenas na última sexta
Os investidores estarão de olho no desempenho das ações da Cogna Educação nesta semana. Na última sexta-feira (23), as ações da empresa subiram 7,5%, impulsionadas pelo otimismo do mercado e pela autorização concedida pelo Ministério da Educação (MEC).
↳ O MEC autorizou o início de um curso de Medicina em uma das faculdades da Cogna no Maranhão. A graduação é altamente desejada devido à grande demanda entre os estudantes.
↳ Analistas do Itaú BBA recomendaram a compra das ações da Cogna no início do mês, antes mesmo da autorização do MEC.
A Cogna. A companhia atua no setor de educação privada, abrangendo desde o ensino básico até o superior, e também é proprietária de editoras de material didático. A marca Kroton, pertencente à Cogna, administra universidades como Anhanguera, Unopar e Uniderp.
↳ São 1,1 milhão de alunos de graduação em toda a rede.
↳ Apenas no segundo trimestre, registrou um faturamento líquido de R$ 1,4 bilhão.