Imagine que você vai a um restaurante e tenha duas opções: pagar apenas pelo que pedir ou pagar valor fixo. Qual das duas formas costuma ter um melhor custo-benefício? Não há uma resposta única para todos. Cada escolha tem suas vantagens e desvantagens, e o custo final depende do que você valoriza mais. No mundo dos investimentos, a forma de remuneração do assessor é parecida com essa escolha: você decide entre o comissionamento, ou seja, pagar pelo tipo de produto que investe e o fee fixo, que é uma taxa fixa.
Com a nova resolução 179/23 da CVM, que obriga instituições financeiras a divulgar os valores de remuneração pagos pelo cliente, a discussão sobre essa decisão ficou mais frequente. Afinal, agora será possível entender mais claramente quanto custa cada opção e quais interesses estão envolvidos de ambos os lados.
O assessor de investimentos pode ser remunerado por dois modelos básicos: comissionamento e fee fixo (taxa fixa), também conhecido como fee based. Não existe um modelo "melhor" ou "pior"; cada um pode ser vantajoso, dependendo do perfil do cliente e da natureza do serviço prestado. O segredo está em fazer as contas e encontrar o que oferece o melhor custo-benefício, levando em conta o que o cliente valoriza e o que o assessor considera justo pelo serviço prestado.
Comecemos pelo comissionamento, a forma de remuneração mais tradicional. Nesse caso, o assessor recebe uma porcentagem da receita ou comissão da instituição financeira com os produtos oferecidos. Esse valor não representa um custo adicional para o cliente, mas gera uma divisão do ganho entre a instituição e o assessor.
Esta remuneração varia conforme o tipo de produto, com algumas categorias oferecendo valores mais altos que outras. A tabela abaixo apresenta valores médios de comissão para algumas categorias de produto. Também há uma alocação média de um investidor moderado e o resultado da comissão ponderada por esta alocação. Todos os dados de comissão estão em base anual. Isso deve ser feito, pois em alguns produtos a instituição recebe toda a comissão no início e não se recebe mais nada mesmo que o cliente fique 20 anos com o ativo, por exemplo: títulos de renda fixa, ações, fundos imobiliários e produtos estruturados.
Com essa tabela de comissões em mãos, é possível calcular que, para uma carteira moderada como na distribuição acima, com cerca de 65% em renda fixa e 35% em produtos de risco, a média de remuneração do assessor fica em torno de 0,25% ao ano sobre o patrimônio do cliente. Esse valor pode variar dependendo do perfil da carteira; quanto mais conservadora for, menor tende a ser a remuneração do assessor, pois produtos de renda fixa oferecem comissões mais baixas.
Então, qual é o ponto fraco do comissionamento? A crítica mais comum é a percepção de falta de transparência. Como o cliente não vê diretamente o valor pago ao assessor, é normal que ele se pergunte se está pagando um valor justo e se o assessor está oferecendo um produto que é melhor ou que lhe convém. A nova legislação visa reduzir essa dúvida, permitindo que o cliente tenha uma visão mais clara dos custos e aumentando a confiança no trabalho do assessor.
O fee fixo, ou taxa fixa, é uma alternativa para quem prefere saber exatamente quanto vai pagar. Entretanto, essa certeza tem se mostrado cara na maioria das vezes. Nesse modelo, o cliente paga uma taxa anual sobre o patrimônio, geralmente entre 0,5% e 1% ao ano. Um dos argumentos principais a favor do fee fixo seria uma eventual ausência de conflito de interesses, pois o assessor teoricamente não teria incentivo para sugerir produtos com comissões mais altas. Entretanto, outros conflitos afloram neste modelo e poucos falam.
Na prática, o modelo de taxa fixa nem sempre representa o custo-benefício mais vantajoso. Em média, essa taxa fixa é de 0,75% ao ano, o que, comparado aos 0,25% de comissionamento mencionado acima, resulta em um custo substancialmente maior para o cliente. É essencial fazer as contas para entender o real custo da "transparência".
Que o fee fixo tem potencial de ser mais caro não deveria ser novidade. Para ilustrar, vamos voltar ao exemplo do restaurante que dei no início. Qual das duas formas você acha que pagaria mais caro no restaurante: pagar pelo que pede um uma taxa fixa?
Um ponto bastante argumentado a favor do fee fixo é o rebate – a devolução ao cliente do valor que iria para o assessor no modelo comissionado. Entretanto, essa vantagem leva a um potencial conflito para consultores e assessores que escolhem este modelo.
Em carteiras compostas por muitos títulos de renda fixa, o rebate tende a ser menor, o que pode gerar um viés contra esses produtos. Também, dada a menor liquidez de títulos de renda fixa, fica difícil justificar ao cliente e ele aceitar pagar constantemente sem nenhuma mudança ser feita. Assim, esse modelo pode fazer com que o assessor e consultor prefira recomendar produtos que tornem o modelo do fee fixo mais justificável, com um potencial conflito de não recomendar produtos conservadores.
Resumindo, o comissionamento e o fee fixo têm seus pontos fortes e fracos, e a escolha do modelo ideal depende do perfil e dos objetivos de cada cliente. Um bom assessor sempre buscará manter a transparência, explicando ao cliente como funciona sua remuneração, independentemente do modelo adotado. Muitos assessores, oferecem a possibilidade de escolha de ambos os modelos e cabe ao cliente decidir sua preferência.
A resolução da CVM é um passo importante para trazer mais clareza ao cliente. Entretanto, mais importante do que como está pagando, a principal pergunta é: para quem você está pagando? Mais do que decidir entre comissionamento ou fee fixo, a verdadeira importância está em escolher um profissional de confiança que entenda suas metas e cuide de sua carteira como se fosse a dele. Portanto, uma dica prática: converse com seu assessor sobre as formas de remuneração e veja qual oferece o melhor custo-benefício para o seu caso.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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