Com Trump ou Kamala, dívida americana seguirá crescendo após as eleições

há 2 meses 3

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É muito difícil apontar hoje quem sairá vitorioso das eleições de 5 de novembro nos Estados Unidos. A maior certeza é que as relações entre Brasil e Estados Unidos, já historicamente sólidas e consolidadas, não devem mudar significativamente, seja vencedor o republicano Donald Trump ou a democrata Kamala Harris. A afirmação é de Sol Azcune, analista político da XP.

“Não esperamos grandes impactos na relação entre os dois países, independentemente de quem seja o vencedor”, avalia ela, que participou, ao lado de Francisco Nobre, economista da XP, Paulo Gitz, estrategista global da XP, e Victor Scalet, estrategista macro da XP, do programa especial Expert Talks, no canal da XP, sobre as eleições americanas e suas influências políticas e econômicas.

Relação dívida/PIB crescente

“O principal problema dos Estados Unidos é a dívida crescente. Desde a pandemia, os Estados Unidos têm registrado um déficit fiscal ano após ano, e a relação dívida/PIB tem crescido muito”, afirma Nobre.

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“A perspectiva é de continuidade do déficit fiscal nos próximos anos, com juros em patamares elevados. O Fed (Federal Reserve) começou a cortar os juros, mas, quando ele estabilizar esse processo monetário, deve estabilizar com um juro neutro mais alto do que antes da pandemia, que era praticamente zero”, explica.

“Com os juros mais elevados em comparação com as últimas décadas, o custo da dívida fica alto. Então, a perspectiva para os Estados Unidos no futuro é de uma dívida crescente, sem perspectiva de estabilização”, complementa.

O economista explica que o problema não foi enfrentado por nenhum dos dois candidatos. O fato é que, para Francisco Nobre, “os dois candidatos continuariam sendo ruins para o cenário fiscal e a perspectiva da dívida americana”. Segundo ele, não há direcionamento de ambos para controlar os gastos públicos.

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Inflação e impostos

Para ele, o mercado tem preocupação com Trump devido a uma possível agenda inflacionária, inclusive já demonstrada nesse tempo de campanha, com efeito nos juros futuros mais elevados, além do fortalecimento do dólar frente a outras moedas globais.

A economista explica que a prevenção de imigrantes entrarem no país, proposta de Trump, pressiona ainda mais os trabalhadores. “E, hoje, a pressão salarial continua acima do que o Fed gostaria de ver”, afirma. Além disso, barreiras adicionais, principalmente de produtos da China, podem aumentar custos de importação de insumos e de produção.

Sobre possíveis ações de Kamala Harris, ele cita aumento de impostos. “Mas esse aumento de arrecadação não seria suficiente para compensar o aumento dos gastos, se traduzindo numa ‘rede elétrica’ do quadro fiscal”, ressaltou. A vitória da democrata poderia se refletir numa desvalorização global do dólar, com queda das taxas futuras, avalia Nobre.

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Próximas semanas

“A gente acredita que, marginalmente, o republicano tem uma chance maior de vitória”, diz Sol Azcune, acrescentando que isso se baseia nas atuais e no histórico desses levantamentos. “As próximas semanas serão fundamentais para o desenvolvimento dessa disputa”, acrescenta.

Ela lembra que, historicamente, nos Estados Unidos, as últimas semanas de eleição são marcadas por alguma surpresa, que acaba mexendo com a intenção de votos. Segundo o analista político da XP, os candidatos estão em intensa campanha nos chamados estados-pêndulo, aqueles de difícil previsão de resultado. São eles: Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin.

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Congresso também incerto

Azcune alerta que há muita preocupação também com a formação do Congresso americano nas eleições de 5 de novembro.

“Hoje, o Senado tem uma pequena vantagem dos democratas (eles são maioria) e, na Câmara dos Representantes, os republicanos levam uma pequena vantagem (com maior número de assentos). A expectativa é que os republicanos passem a ter uma pequena vantagem no Senado”, afirma.

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Na Câmara dos Representantes, por ter muitos assentos em disputa, fica mais difícil prever o resultado, aponta o analista da XP.

“A gente acredita que, diante do novo ímpeto que a candidatura democrata ganhou com a Kamala Harris na disputa (e saída de Joe Biden), a tendência é de que os democratas consigam a maioria pressionando na Câmara”, destaca.

“A vitória no Congresso seria importante para o candidato vencedor implementar sua agenda”, ressalta. Mas ela não descartou que, se Trump sair vencedor, ele tenha a maioria nas duas casas.

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“Por se tratar de uma eleição tão acirrada, é muito possível que não haja o resultado anunciado um dia após a eleição, como ocorreu em 2020, quando demorou quatro dias até a vitória de Joe Biden (atual presidente)”

Paulo Gitz, estrategista global da XP, acredita que as companhias listadas em Nova York se beneficiaram com um governo republicano, incluindo o setor financeiro e o de saúde, especialmente na parte de seguros, por conta de menor regulação.

Para o setor de petróleo e gás, também deveria ir bem em um governo republicano devido ao incentivo à exploração de combustíveis fósseis.

A fabricação doméstica, tanto por conta da proteção com tarifas de importação quanto por menos impostos, seria mais beneficiada na bolsa. Gitz lembrou também que Trump tem se mostrado favorável ao mercado de criptomoedas.

Já sobre os possíveis beneficiados com a eleição de um governo democrata, segundo o estrategista da XP, seriam o setor de infraestrutura e de temas ligados à eletrificação, muito por conta de incentivos fiscais, além de energia renovável.

Gitz vê também a indústria farmacêutica como beneficiária, caso os democratas se elejam, por conta de incentivos para pesquisa e desenvolvimento.

Ele cita ainda perspectivas positivas à indústria da construção de casas, já que o programa de Kamala Harris inclui mais habitação social.

O estrategista também inclui como beneficiários de uma vitória da democracia o setor de tecnologia, devido às políticas atuais do governo de Biden, que vêm, nos últimos anos, favorecendo o segmento.

Estabilização nas pesquisas

Victor Scalet, macro estrategista da XP, vê a eleição remota e indefinida. Ele relata que as pesquisas entre Trump e Kamala estão empatadas, inclusive nos estados-pêndulo.

Na pesquisa nacional, Kamala tem uma certa vantagem de 2 a 3 pontos percentuais no agregado, mas ele lembra que, como a eleição para presidente é indireta nos Estados Unidos, é preciso observar quantos delegados cada um poderá conquistar em cada estado, principalmente nos estados-pêndulo.

“Nas últimas semanas, houve uma estabilização nas pesquisas. E estacionou num nível muito apertado”, diz. Ele afirma que, no mercado de apostas, Trump está marginalmente na frente, mas o quadro é de completa indefinição.”

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