Região com o maior percentual de população parda e indígena do Brasil, o Norte tem apenas uma empresa entre as mais bem colocadas no levantamento Diversidade nas Empresas, feito pelo Centro de Estudos em Finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas) em parceria com a Folha, utilizando dados de 2023 de empresas de capital aberto declarados à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). O destaque local é o Banpará (Banco do Estado do Pará).
A pesquisa avalia de forma separada companhias de 100 a 5.000 funcionários, como o Banpará, e a partir de 5.000. No total, um universo de 418 empresas foi levado em consideração. A diversidade foi mensurada em cargos de média liderança, diretoria e conselhos de administração e fiscal.
Criado em 1959, o Banpará opera no formato de economia mista, tendo como maior acionista o governo do estado do Pará, que indica o presidente do banco. Hoje, a CEO é uma mulher, Ruth Pimentel Mello.
Com agências em todos os 144 municípios paraenses, a instituição evita que a população seja obrigada a se deslocar entre as cidades para ter acesso a serviços financeiros básicos, além de gerar empregos locais, segundo o governo estadual.
Esse pode ser um dos fatores que fomentam a diversidade dentro da instituição, na avaliação de Flávia Melo, cientista social da Ufam (Universidade Federal do Amazonas). "A existência dessas unidades no interior provoca empregabilidade em lugares ermos, pequenos, que atraem poucas pessoas de fora. Também incentiva uma formação superior e técnica para o mercado de trabalho", diz.
Melo destaca ainda que bancos públicos são mais suscetíveis às demandas da sociedade por equidade. É exigência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ter políticas voltadas à inclusão.
O fato de só uma companhia do Norte aparecer no levantamento expõe o modelo de geração de emprego e renda na região amazônica, acrescenta a socióloga. Melo afirma que no Norte, setores corporativos estão muitas vezes vinculados à exploração de recursos naturais e mão de obra barata. Ela cita como exemplo a Zona Franca de Manaus, onde muitos dos altos postos são ocupados por pessoas de fora —geralmente do Sudeste—, enquanto locais ficam com cargos de baixo salário e alto grau de rotatividade.
"Isso demonstra pouco compromisso de desenvolver a região", afirma.
Todas
Discussões, notícias e reflexões pensadas para mulheres
Além de questões regionais, as de gênero, raça e etnia se misturam. Quase 70% da população nortista é autodeclarada parda no Censo 2022, e o bioma predominante é a Amazônia. Ali, está concentrada a maior proporção de indígenas do país.
Nas organizações da região, mudar um quadro predominantemente masculino será tarefa longa, diz Ivânia Vieira, pesquisadora de questões de gênero e professora de comunicação social da Ufam.
No Banpará, entendemos que a diversidade é uma força que impulsiona a inovação e a inclusão. Nossas práticas são pautadas pelo respeito, equidade e valorização das competências de cada colaborador
"O problema se agrava nos rincões da Amazônia e gera uma série de efeitos sociais. A realidade mostra que mulher negra, indígena ou quilombola tem muito mais dificuldade que mulheres brancas para ascender a cargos de liderança."
Gigante corporativo e institucional de um maiores estados da região, o Banpará também foi bem colocado em outras categorias do levantamento. O banco está entre os destaques de diversidade no setor financeiro e na participação de pretos, pardos e indígenas no conselho fiscal, além de ter uma das melhores taxas de inclusão do grupo nos cargos de média e alta liderança.
Folha Mercado
Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.
"A realidade sociopolítica de nossa região reflete naturalmente uma riqueza de perfis em nossa equipe, e estamos comprometidos em fortalecer essa diversidade por meio de iniciativas estruturadas", diz Ruth Pimentel Mello, diretora-presidente do Banpar.á
Saiba mais sobre os destaques na categoria Região Norte
As notas de participação feminina e de pretos, pardos e indígenas, que vão de 0 a 100, foram calculadas levando em consideração a presença dos grupos em cargos de alta e média liderança. Os autores do estudo deram pesos diferentes para cada uma das categorias analisadas: enquanto diretoria e conselho de administração têm peso maior, uma vez que os membros têm maior poder decisório, a média liderança e o conselho fiscal têm peso menor.
BANPARÁ
Fundação 1959
Funcionários 2.600
Participação de pretos, pardos e indígenas 55,26
Participação feminina 24,64
Também levou nas categorias Bancos, Seguros e Serviços Financeiros e Participação Geral de Pretos, Pardos e Indígenas