Cientistas e professores universitários argentinos repudiaram, nesta sexta-feira (10), uma resolução do governo de Javier Milei que planeja avaliar a continuidade dos programas científicos. Na avaliação deles, a medida pretende eliminar a pesquisa em ciências sociais e ambientais e "aprofundar o ajuste" no setor.
"A nova resolução publicada ontem (quinta) só pode ser entendida como um prelúdio para o aprofundamento do ajuste", disse o comunicado da Rede de Autoridades de Institutos de Ciência e Tecnologia da Argentina, publicado na rede social X.
Outro comunicado conjunto das federações de Docentes Universitários e Trabalhadores Científicos da América Latina disse que a resolução "planeja a eliminação das pesquisas científicas relacionadas com as ciências sociais, o meio ambiente, o aquecimento global, entre outras".
A resolução oficial publicada nesta quinta-feira (9) dispõe que, perante a "emergência econômica", o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação deverá realizar uma "avaliação completa da totalidade dos programas criados" para decidir se devem ou não ser continuados.
O governo solicita que a avaliação seja feita "verificando sua correlação com o Plano Estratégico definido para 2024-2025", que propõe o "desenvolvimento de tecnologias a serviço do crescimento econômico e do desenvolvimento estratégico do país, com foco em agroindústria, energia e mineração, economia do conhecimento e inovação e saúde".
"É apropriado encerrar os programas cujos objetos não são cobertos pelo Plano Estratégico acima mencionado", diz a resolução.
O bioquímico Rodrigo Quiroga, pesquisador do instituto de ciência Conicet, compartilhou no X esse trecho da resolução. "Eliminam todos os programas científicos do país, exceto nas áreas de agronegócio, energia, mineração, saúde e economia do conhecimento", escreveu ele.
"O governo de Milei acaba de destruir o sistema científico argentino com o toque de uma caneta."
Ao longo de 2024, multiplicaram-se as vozes de cientistas argentinos que denunciaram um drástico ajuste orçamentário e a paralisação de programas de bolsas de estudo e pesquisa como parte do "Plano Motosserra" do governo para obter um superavit fiscal, o que resultou em uma redução de 26% nos gastos públicos durante o ano, de acordo com dados da Associação Argentina de Orçamento.