Líderes chineses prometeram nesta quinta-feira (26) implementar "gastos fiscais necessários" para atingir a meta de crescimento econômico deste ano de 5%, reconhecendo novos problemas e aumentando as expectativas do mercado em relação a novos estímulos, além do pacote que já foi anunciado nesta semana.
As falas, que incluíram orientações ao governo para sustentar o consumo das famílias e estabilizar o conturbado mercado imobiliário, foram feitas em uma leitura oficial da reunião mensal das principais autoridades do Partido Comunista, o Politburo.
A reunião de setembro não costuma ser um fórum para discussões macroeconômicas, o que sugere uma ansiedade crescente em relação à desaceleração do ritmo do PIB (Produto Interno Bruto).
A segunda maior economia do mundo enfrenta fortes pressões deflacionárias devido a uma forte queda no mercado imobiliário e à fragilidade da confiança do consumidor, o que expôs sua dependência excessiva das exportações em um ambiente de comércio global cada vez mais tenso.
Uma ampla gama de dados econômicos nos últimos meses ficaram abaixo das previsões, levantando preocupações entre os economistas de que a meta de crescimento está em risco e que uma desaceleração estrutural de longo prazo poderia estar em jogo.
"Novas situações e problemas" exigem um senso de "responsabilidade e urgência", informou a mídia estatal, citando a reunião do Politburo.
O banco central da China divulgou na terça-feira seu mais agressivo afrouxamento monetário desde a pandemia de Covid-19, em 2020, sinalizando cortes em uma ampla gama de taxas de juros e uma injeção de liquidez de 1 trilhão de iuanes (R$ 780 bilhões) no sistema financeiro, entre outras medidas.
Pequim está considerando injetar até 1 trilhão de iuanes em seus maiores bancos estatais para aumentar sua capacidade de sustentar a economia, principalmente por meio da emissão de novos títulos soberanos especiais, informou a Bloomberg News nesta quinta-feira.
As ações do setor imobiliário chinês saltaram mais de 8% e seus pares de Hong Kong subiram 9% após o anúncio do Politburo, liderando ganhos amplos no mercado de ações. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, saltou 4,23%, enquanto o índice SSEC, em Xangai, fechou em alta de 3,61%. O iuan e os rendimentos dos títulos chineses também subiram.
O Politburo disse que o governo deveria "promover a estabilização do mercado imobiliário", expandir uma lista de projetos habitacionais que podem receber mais financiamento e revitalizar terras ociosas, de acordo com a leitura da reunião.
As autoridades "responderão às preocupações das pessoas, ajustarão as políticas de restrição à compra de moradias, reduzirão as taxas de hipoteca existentes e melhorarão as políticas fundiárias, fiscais, tributárias e financeiras o mais rápido possível para impulsionar o novo modelo de desenvolvimento imobiliário", afirmou.
O endosso do Politburo para novos estímulos "representa uma mudança estratégica na política macroeconômicas, de políticas fragmentadas para um pacote altamente orquestrado na direção certa", disse Bruce Pang, economista-chefe para a China da Jones Lang LaSalle.
"Um aumento nos gastos do governo provavelmente será suficiente para impulsionar uma reviravolta na confiança das empresas, no sentimento do mercado e nas atividades econômicas, ajudando a China a alcançar a tendência de crescimento potencial."
EMISSÃO DE R$ 1,5 TRILHÃO EM TÍTULOS
A China fará bom uso de seus títulos soberanos especiais ultralongos e títulos especiais de governos locais para apoiar o investimento do governo, prometeu o Politburo. Ele se comprometeu a aumentar a renda dos grupos de baixa e média renda e a apoiar o consumo.
De acordo com duas fontes com conhecimento do assunto, a China planeja emitir títulos soberanos especiais no valor de cerca de 2 trilhões de iuanes (R$ 1,56 trilhão) este ano como parte de um novo estímulo fiscal.
Folha Mercado
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Os títulos especiais, que são lançados para uma finalidade específica, serão usados para aumentar os subsídios para a troca e renovação de bens de consumo e para a atualização de equipamentos comerciais de grande escala, disseram as duas fontes.
Os recursos também serão usados para fornecer um benefício mensal de cerca de 800 iuanes (R$ 624,90) por criança a todas as famílias com dois ou mais filhos, excluindo o primeiro filho, disse uma das fontes.
A China também pretende levantar mais 1 trilhão de iuanes por meio de uma emissão especial de dívida soberana separada e planeja usar os recursos para ajudar os governos locais a resolver seus problemas de dívida, acrescentou a fonte.
A maior parte do estímulo fiscal da China ainda vai para o investimento, mas os retornos estão diminuindo e os gastos sobrecarregaram os governos locais com uma dívida de US$ 13 trilhões (R$ 71,2 trilhões). Os gastos domésticos da China são inferiores a 40% do PIB (Produto Interno Bruto), cerca de 20 pontos percentuais abaixo da média global.