: Caos de Ca7riel e Paco Amoroso dá alívio a um Lollapalooza protocolar

há 1 dia 3

Imagens de rostos retorcidos, como se tivessem passado por uma harmonização mal feita —ou por uma plataforma de inteligência artificial—, eram exibidas nos telões antes de a dupla Ca7riel e Paco Amoroso começar o seu show no Lollapalooza.

É uma pena que o duo tenha sido escalado para a tarde deste domingo, num horário nada nobre, com o festival ainda pouco cheio. Desconhecidos da maioria dos brasileiros, os dois argentinos trazem o misto de irreverência, frescor e invencionice que sempre foram a marca do Lollapalooza —e que faltou a esta edição.

Ca7riel e Paco Amoroso são crias de um viral de internet, mas não pelos motivos errados. Explodiram no TikTok e no Twitter depois de gravarem o Tiny Desk Concert, programa de vídeos da rádio americana NPR que convida artistas para cantar por cerca de 20 minutos umas cinco músicas, de forma intimista, de frente para uma bancada, sem toda a aparelhagem de um show comum.

Os argentinos lançaram seu episódio em outubro, e chamaram atenção da geração Z por causa da sua esquisitice. Paco Amoroso usava um adereço de veludo azul na cabeça; e Ca7riel, um colete de corações vermelhos feitos de pelúcia. A estranheza vai além do visual —o som deles é uma mistureba, com ritmos latinos, pop comercial, rap, trap, jazz e música eletrônica.

É caótico, mas harmônico, original sem soar conceitual demais. Um alento ao lineup muito burocrático do festival, que este ano escalou o bom moço Shawn Mendes, a diva dos adolescentes Olivia Rodrigo, e outros nomes que, como a dupla argentina, também vieram do TikTok, mas por causa de uma música viral, Benson Boone e Tate McRae, que não surpreenderam, com seu pop industrial e pouco inspirado.

Escondidos num palco lateral, o Mike’s, Ca7riel e Paco Amoroso convenciam quem se aproximava. Se o show começou com pouco público, dali uns 20 minutos as fileiras de trás já estavam cheias e enchiam a cada música. Ainda que quase ninguém soubesse as letras, era difícil tirar os olhos do palco.

Superperformáticos, os dois dominam o palco. Mostram a língua, rebolam, dão gritinhos esganiçados, sacodem o microfone, sensualizam, saltam de um lado para o outro, levantam o público. Não há momentos de calmaria.

Essa inquietude existe também nos temas que eles tocam. No Tiny Desk, levaram os músicos da banda vestindo camisetas com as estampadas de seus vistos americanos, o que foi entendido como uma indireta à politica anti-imigração de Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos. Depois que ganharam projeção, Ca7riel e Paco gravaram um curta, com músicas inéditas, que tiram sarro da indústria, com críticas à estética, padrões de beleza e à obviedade que hoje domina a música pop.

A barulheira se estendeu por uma hora, que deve ser a mais eufórica do dia, antes do show de Justin Timberlake, que encabeça a programação com seu som protocolar. Paco Amoroso terminou o show no chão, batendo as mãos nas dos fãs. Do palanque, Ca7riel mostrava o dedo do meio para a plateia.

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