A Califórnia processou a petroleira ExxonMobil pela suposta realização, durante décadas, de uma campanha enganosa de reciclagem que, na prática, teria aumentado a compra e o uso de produtos plásticos, disse nesta segunda-feira (23) a Procuradoria do estado no oeste dos Estados Unidos.
A Procuradoria argumenta que os cidadãos ficaram mais propensos a comprar plásticos de uso único (os que são descartados após um uso, como canudos) diante dessa falsa promessa de reciclagem.
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"A empresa propõe soluções falsas, manipula o público e mente para os consumidores", disse o procurador Rob Bonta durante entrevista coletiva nesta segunda-feira, juntamente com organizações ambientalistas. "É hora de a ExxonMobil prestar contas", acrescentou.
"Nossa costa, nossos rios e baías estão inundados de contaminação por plástico, que demanda aos contribuintes da Califórnia mais de US$ 1 bilhão [R$ 5,5 bilhões] por ano (...), enquanto só no ano passado, a ExxonMobil lucrou US$ 36 bilhões", ou aproximadamente R$ 199,5 bilhões, na cotação da época.
A empresa comentou a acusação em um comunicado breve.
"As autoridades da Califórnia sabem há décadas que seu sistema de reciclagem não é eficaz. Não agiram e agora buscam culpar os outros", afirmou a ExxonMobil.
"Ao invés de nos processar, poderiam ter trabalhado conosco para solucionar o problema e evitar que o plástico acabe nos depósitos de lixo", acrescentou.
'Sacrificar nosso ambiente'
A Procuradoria acusa a empresa petroleira de usar estratégias, como a incorporação em seus produtos das três setas circulares, o símbolo da reciclagem, no final dos anos 1980, em uma tentativa de evitar as regulamentações.
Também sustenta que o programa de "reciclagem avançada" que a ExxonMobil promove como uma tecnologia inovadora para reaproveitar os resíduos plásticos "esconde fatos sobre suas limitações técnicas".
"O programa de reciclagem avançada da ExxonMobil não é mais que uma manobra de relações públicas para incentivar as pessoas a continuar comprando plásticos de uso único que alimentam a crise de poluição ambiental", diz a Procuradoria.
A ExxonMobil defendeu seu programa afirmando que já processou mais de 30 mil toneladas de resíduos plásticos para torná-las matéria-prima aproveitável.
Segundo a ação, a empresa expandiu sua produção no país para 7,7 milhões de toneladas de plásticos por ano em 2023.
Organizações ambientalistas e ativistas, algumas delas sentadas ao lado de Bonta no evento nesta segunda-feira, saudaram a ação, que busca que as empresas assumam sua responsabilidade ambiental.
"Não deveríamos sacrificar nosso ambiente e nossa saúde para proteger a Exxon", disse Allison Chin, presidente da organização sem fins lucrativos Sierra Club.
"Se vamos limpar as montanhas de resíduos plásticos, a Exxon tem que fazer o mesmo (...) Com o processo de hoje, esperamos aportar transparência à opinião pública sobre os verdadeiros danos dos resíduos plásticos".
Redução dos danos
A Procuradoria-Geral da Califórnia abriu investigação contra a indústria petroquímica em abril de 2022 para estabelecer seu papel nessa crise.
"Tínhamos uma ideia, graças a boas fontes, da conduta da ExxonMobil quando se tratava de mentir, de enganar e de perpetuar o mito da reciclagem do plástico", afirmou Bonta nesta segunda-feira. "Sendo assim, nos concentramos muito na ExxonMobil e em seu amplo ecossistema."
A ação busca que a "ExxonMobil financie, provavelmente com bilhões de dólares, a redução dos danos causados por seus enganos", disse o procurador.
Reeducação ambiental, pesquisa sobre métodos eficazes de reciclagem, a limpeza de milhões de toneladas de resíduos plásticos da natureza e a restituição de lucros são algumas das ações solicitadas na ação.