Blue Origin recria gravidade lunar em cápsula pela primeira vez

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A empresa Blue Origin pegou alguns limões na semana que passou e fez uma interessante limonada. O voo NS-29 do seu veículo New Shepard, realizado na última terça-feira (4), no Texas, seria apenas mais um voo suborbital trivial para a condução de experimentos em ambiente de microgravidade, não fosse por um detalhe: pela primeira vez a companhia simulou a bordo o equivalente da força gravitacional existente na superfície da Lua.

Nosso satélite natural tem cerca de um quarto do diâmetro da Terra e uma massa muitas vezes inferior, o que implica que sua gravidade na superfície é bem mais fraca que a que temos por aqui, mais precisamente um sexto. É por essa razão que vemos, nos vídeos das missões Apollo, os astronautas saltitando com extrema facilidade, mesmo usando pesadíssimos trajes espaciais.

Já temos um bom conhecimento do que acontece ao organismo humano, bem como a outros seres vivos, quando são expostos a uma situação de imponderabilidade –ausência de peso–, como ocorre com as tripulações lançadas à órbita da Terra. Vários efeitos deletérios se apresentam durante uma exposição prolongada, como perda muscular e óssea. Mas o que acontece a quem estiver não sob uma situação de virtual gravidade zero, mas com gravidade de um sexto da terrestre?

As missões Apollo foram curtas, o máximo que os astronautas ficaram por lá, em 1972, foi três dias, o que não permitiu um estudo mais detalhado do que acontece com eles. O mesmo se aplica a praticamente tudo que pretendermos levar à Lua: como um dado equipamento vai se comportar sob gravidade reduzida?

Os estudos de fisiologia de longo prazo terão mesmo de esperar expedições humanas à Lua, o que americanos e chineses pretendem fazer até o final da década. Mas, para testar efeitos mais simples sobre dispositivos e equipamentos, ou mesmo fazer estudos biomoleculares dos efeitos da gravidade lunar, surge agora uma opção mais simples, com o voo do New Shepard.

O truque para gerar gravidade lunar na cápsula foi puro suco de física. Durante sua jornada suborbital pelo espaço, chegando a 105 km de altitude, o veículo passa alguns minutos em queda livre, o que equivale, do ponto de vista do que está dentro dele, a ausência de gravidade. O que o pessoal da Blue Origin fez para mudar a situação foi colocar a cápsula para girar em torno de seu próprio eixo. A rotação gera uma força centrífuga que age essencialmente como a gravidade. E, quanto mais rápido ela gira, maior é esse efeito de gravidade artificial.

A equipe da empresa de Jeff Bezos calibrou direitinho a cápsula para rotacionar a um ritmo de 11 voltas por minuto, produzindo por pouco mais de dois minutos, na baía onde estavam instalados 29 cargas úteis, o equivalente à gravidade lunar.

A nova capacidade permitirá o teste de equipamentos, dispositivos e experimentos destinados a operar na Lua de forma muito mais barata do que se fosse preciso mandá-los para lá. É um exemplo de que mesmo com voos especiais limitados, com perfis suborbitais, é possível fazer ciência de qualidade e desenvolver diversas aplicações. As duas já reconhecidas eram a realização de experimentos rápidos em microgravidade e o turismo espacial. Agora a Blue Origin soma mais uma, com a possibilidade de experimentos em situação de gravidade lunar.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.

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