Blue Origin funga no cangote da SpaceX

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Fique esperta, SpaceX, a concorrência vem aí. A empresa americana Blue Origin, do bilionário Jeff Bezos, está correndo para lançar ainda neste ano seu foguete New Glenn –sério candidato a ser o segundo veículo de grande porte com primeiro estágio reutilizável, a exemplo dos lançadores Falcon 9 e Falcon Heavy, da SpaceX.

O voo inaugural está em fase final de preparação, no Complexo de Lançamento 36 da Estação da Força Espacial de Cabo Canaveral, na Flórida, e aguarda autorização da FAA (agência que regula aviação civil e foguetes comerciais nos EUA) no que será essencialmente um lançamento de certificação. A bordo, uma carga útil da própria empresa, chamada Blue Ring, um veículo de transferência para colocar satélites em diferentes órbitas, capaz de comportar até três toneladas deles.

Contudo, o principal teste é mesmo do foguete em si. Seu desenvolvimento foi anunciado em 2016, e então a Blue Origin esperava o primeiro voo para 2020. Já são quatro anos de atraso, mas agora parece que vai. E a confiança é tão grande que a empresa pretende tentar recuperar o primeiro estágio em uma plataforma marítima no oceano Atlântico –uma balsa similar às usadas pela SpaceX.

Não se espante se não der certo na primeira tentativa —basta lembrar que também foi assim com a empresa de Elon Musk, nas primeiras tentativas de pousar o estágio inicial do Falcon 9. Mas, desta feita, já sabemos que é possível, de modo que é só uma questão de tempo até que o evento de recuperação se torne corriqueiro também para a Blue Origin.

Diz a empresa que cada primeiro estágio do New Glenn terá capacidade de realizar ao menos 25 reutilizações. O do Falcon 9 que teve mais voos até agora realizou seu 24º pouso no último dia 4. A SpaceX tem como meta reutilizar seus estágios até 40 vezes. São claramente competidores nesse quesito.

As duas empresas também disputarão mercado pelos mesmos lançamentos, já que o New Glenn tem uma capacidade intermediária entre o Falcon 9 e o Falcon Heavy; o da Blue Origin pode levar até 45 toneladas à órbita terrestre baixa; já os dois lançadores da SpaceX transportam 23 e 64 toneladas, respectivamente. Voos do New Glenn e do Falcon 9 saem pelo mesmo preço, cerca de US$ 69 milhões.

Mesmo sem ter realizado um voo sequer, o novo lançador da Blue Origin já tem contratos com a Nasa, a empresa de telecomunicações Telesat e com o Projeto Kuiper, constelação de satélites de internet da Amazon, outra empresa de Bezos. No ano que vem, o New Glenn também deverá lançar uma missão lunar robótica da Blue Origin, com o módulo Blue Moon Mark 2.

Moral da história: a recuperação e reutilização de foguetes de grande porte tem data para deixar de ser exclusividade da SpaceX. É um caminho sem volta para o futuro da exploração espacial, que promete reduzir ainda mais o custo de futuras missões e abrir novas oportunidades. É nessa hora que temos de admitir que isso é muito mais do que uma disputa fútil entre bilionários apaixonados pelo espaço. É uma nova realidade econômica que se descortina diante dos nossos olhos. Quem viver, verá.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.

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