Ava Rocha pensa o cíclico e o imprevisível em performance com músicas inéditas

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Ava Rocha quer que o público entre em seu universo, onde as artes não se dividem em disciplinas separadas —a música, o cinema, o vídeo, a literatura—, mas se integram em harmonia.

É assim, como um amálgama, que a artista define seu novo espetáculo, misto de performance e instalação visual chamado "dentro de fora de dentro", em letras minúsculas, a ser apresentado por ela no próximo sábado (8), na galeria Millan, em São Paulo.

Durante uma hora, a cantora e performer interage com objetos do seu repertório, como copos, mesas, facas, lanternas, barquinhos de papel e adereços. A encenação, da qual o público é convidado a participar, vem embalada com a projeção de imagens e a apresentação de composições inéditas de Rocha, que fazem parte do processo de criação de seu novo disco.

"Eu misturo surrealismo, butô [dança teatral japonesa], 'happening', o ordinário com o mítico", diz Rocha, ao definir a performance em uma conversa por vídeo. "É uma obra que trabalha a questão do deslocamento e como esses deslocamentos são cíclicos. As coisas se deslocam para retornarem para os mesmos lugares e se transformarem, e nesse movimento está o imprevisível."

A performance é o desdobramento de um poema de mesmo título no qual a artista trabalha a ideia do cíclico com a repetição de palavras, que podem ou não trazer um novo sentido à frase dependendo de como são lidas, a exemplo de "açúcar de cana-de-açúcar" e "nada de graça de nada".

Filha do cineasta Glauber Rocha com a também cineasta Paula Gaitán, Rocha, de 45 anos, se destacou nos anos 2010 como uma importante cantora e compositora da nova geração da música brasileira, carregando a tocha da tropicália para o século 21. Seu disco "Ava Patrya Yndia Yracema", de 2015, foi considerado um dos melhores do ano pelo jornal The New York Times.

Mas, como multiartista, Rocha se não limita à música. Ela já trabalhou no cinema, montando alguns filmes para Tunga, um dos maiores nomes das artes plásticas no país, morto em 2016, de quem era amiga e com quem diz ter uma ligação "espiritual". Foi por meio de Tunga, aliás, que Rocha conheceu André Millan, galerista fundador do espaço onde a artista vai se apresentar.

Depois da performance, o cenário e os elementos usados pela artista ficarão expostos na galeria, como uma instalação. Questionada se o espetáculo está ligado ao processo de criação de seu novo disco, ela diz que sim.

"O trabalho me coloca nessa posição política de trazer o disco não dentro do Spotify, mas dentro de mim. Eu sou o meu próprio disco. Tem que me acessar para ouvir o disco."

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