Um ato na PUC-SP na noite desta segunda-feira (31) reuniu nomes da esquerda em lembrança ao golpe de 1964 e em protesto contra a chance de perdão a envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023.
O ex-ministro José Dirceu (PT) foi um dos presentes e disse que é importante promover eventos do tipo porque "não é possível que de novo uma tentativa de golpe sairá impune no Brasil", em referência ao 8 de janeiro.
Participaram também o ex-deputado federal José Genoíno (PT-SP), os deputados federais Orlando Silva (PC do B) e Ivan Valente (PSOL-SP) e a vereadora Luna Zaratini (PT). O cantor Chico César também compareceu.
O evento foi organizado pelo grupo de advogados Prerrogativas —que é alinhado com o governo Lula e conta com ao menos cinco integrantes em cargos públicos na gestão .
Pelo segundo ano consecutivo, o governo Lula não realizará atos oficiais em memória do golpe militar de 1964.
No ano passado, no aniversário de 60 anos da ruptura democrática, o presidente orientou os ministérios a evitar tanto críticas quanto cerimônias sobre o tema, numa tentativa de não acirrar a relação com os militares.
Integrantes do governo demonstraram certo incômodo com o ato, segundo interlocutores. Como mostrou a Folha, um membro da Secretaria Nacional do PT, que não quis se identificar, afirmou que a discussão sobre anistia não deveria ser abordada no evento, pois poderia aumentar a tensão no país.
O coordenador do Prerrogativas, Marco Aurélio de Carvalho, no entanto, defendeu que o tema é essencial, argumentando que os atos de 8 de janeiro representaram uma tentativa "indiscutível e violenta" de abolir o Estado democrático de direito.
"Exatamente porque vivemos 21 anos sob um regime autoritário duríssimo, precisamos dizer ‘nunca mais’. Não podemos banalizar qualquer tentativa de golpe, para que isso não volte a ocorrer no país", afirmou Marco Aurélio.
Dirceu disse a jornalistas durante o evento que atos simbólicos relembrando o início da ditadura são de responsabilidade da sociedade civil e que o "mais importante" é que não houve nenhuma celebração nas Forças Armadas.
"Antes se comemorava nos quartéis, agora não se comemora mais. O governo fez em relação a memórias, arquivos, mortos e desaparecidos."
Genoíno afirmou que "não é questão de olhar para trás", mas de saber que, sem mudanças, haverá outras tentativas de golpe.