Apesar de a cotação do dólar operar em nível mais alto do que o registrado até maio — fator relevante de pressão inflacionária —, e com os índices de inflação, no acumulado em 12 meses, rondando na fronteira de uma alta de 4,5%, teto do intervalo de tolerância do sistema de metas, analistas do mercado financeiro, depois de publicada a ata, concluíram que, mesmo com "o dedo no gatilho", como registrou relatório do banco Itaú a clientes, não será preciso elevar a Selic além do patamar alto em que já se encontra, para conduzir as expectativas na direção da meta.
Ainda que a ata tenha enfatizado que o Copom não se compromete com estratégias futuras, as análises agora majoritárias levam à expectativa de que a taxa Selic será mantida em 10,5%, se não até o fim de 2025, pelo menos até meados do ano que vem. Para chegar nessa conclusão as análises também agregam argumentos que não constam da ata.
Mudança no ambiente
O primeiro desses argumentos é reflexo da chacoalhada pela qual passou o mercado global de ativos nesta segunda-feira (5), puxado por um início de crash no mercado japonês, e que, involuntariamente, deu à ata um caráter de declaração de princípios forte, mas envelhecida e já um pouco desnecessária.
Com o tumulto nos mercados, a convicção de que o Fed (Federal Reserve, banco central americano) está demorando em iniciar um ciclo de cortes na taxa de juros de referência no mercado americano se tornou predominante. A reversão parcial do clima de pânico que se instalou em bom número de praças financeiras, na terça-feira, não mudou essa convicção.
Além disso, apesar das juras do Copom de que "fará o que for preciso" para manter a inflação sobre controle, inclusive aumentando as taxas de juros, são poucos os que acreditam que haja clima político para elevar a Selic, no momento em que se aproxima o anúncio do substituto de Roberto Campos Neto, desafeto de Lula, na presidência do BC por alguém indicado pelo presidente.
Tudo considerado, assim como o efêmero tumulto nos mercados globais pareceu indicar mais um ajuste de posições, diante das bolhas que vinham se formando, a ata do Copom, talvez sem condições políticas de endurecer mais na prática a política de juros, parece ter conseguido realinhar expectativas no grito. A ponta desencapada desse fio se relaciona com a hipótese de persistência na escalada do dólar.