O Brasil mudou nos últimos dois anos e a estratégia proposta pelo governo Lula para fechar as contas públicas, por meio do arcabouço fiscal, não é suficiente mesmo que o governo execute os planos a ferro e fogo. Esta é a opinião de Rodrigo Azevedo, ex-diretor do Banco Central (BC) e gestor de fundos da Ibiuna Investimentos.
Em painel sobre macroeconomia no segundo dia do Onde Investir 2025, promovido pelo InfoMoney, Azevedo afirmou que, mesmo quando o arcabouço foi proposto, o cenário em que ele poderia funcionar era uma “trajetória estreita” e não se materializou passados dois anos. Agora, o ex-diretor afirma que o governo precisa reconhecer a situação e mudar a rota.
Segundo ele, os agentes do mercado financeiro não olham para o governo com viés ideológico e, sim, com uma visão muito pragmática como a de um credor.
“O credor está, basicamente, avaliando se o devedor tem capacidade de pagar. Se há dúvidas sobre a capacidade de pagamento, o prêmio que se cobra do devedor é mais alto, isso é um fato básico”, diz Azevedo.
As dúvidas a que o gestor se refere tem como base a evolução da dívida pública do país. Azevedo afirma que, mesmo com os maiores esforços da Fazenda para entregar os objetivos do arcabouço fiscal, o crescimento da dívida ainda é muito alto. “O devedor perde a confiança.”
O resultado dessa perda da credibilidade é o cenário que temos visto: depreciação do real, abertura da curva de juros, cenário inflacionário. Para o ex-diretor, isso só será revertido quando houver uma convergência de visões do mercado e do governo em relação à trajetória da dívida pública. Sem isso, “fica difícil achar que a estratégia do Brasil pode melhorar significativamente”.
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Dólar + juros + inflação = 2025
Azevedo acredita que o cenário inflacionário em 2025 está dado. Segundo ele, o rompimento do teto da meta em 2024 foi só um primeiro passo, neste ano a pressão de preços deve atingir 6% na visão da Ibiuna.
Com isso, o Banco Central deve manter a sua postura mais dura em relação à inflação e elevar os juros até 15% ou mais (a projeção da Ibiuna é de 15,25%). Azevedo afirma que esse é um esforço necessário para trazer a expectativa de inflação de volta para a meta.
“O BC tem que desaquecer a atividade econômica e puxar o desemprego de forma forte, porque ninguém acredita no 3%, mas no 5%. Esse é o custo de desinflação, uma métrica de credibilidade do BC”, diz.
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Além da atividade econômica e do mercado de trabalho aquecido como componentes inflacionários, o câmbio também entra nessa conta. Porém, o dólar deve se sobrepor a diversas moedas globalmente neste ano.
Fator Trump
Dia 20 de janeiro será a posse de Donald Trump para o segundo mandato na Casa Branca. O dia é aguardado pelo mercado financeiro que busca respostas para as promessas de campanha do republicado. Deportações de imigrantes vão acontecer? E as tarifas? Desregulamentações internas?
Para Azevedo, o mercado precificou fortemente as medidas anunciadas por Trump e agora busca respostas para corrigir os movimentos ou aumentá-los. “Os mercados estão preparados para uma estratégia de choque. A próxima semana deve ser de volatilidade, quer as medidas se confirmem ou não”.
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“Acho difícil Trump não seguir na direção do que diz. Isso deve favorecer a economia dos EUA. que deve performar melhor do que seus pares: Europa, China e emergentes”, diz o gestor da Ibiuna. “Não é um ambiente bom para emergentes e o Brasil entra nessa.”
Os fundos geridos por Azevedo estão comprados em dólar contra uma cesta de outras moedas, Real incluso. Outras posições da casa em multimercados macro são posições tomadas em juros (expectativa de alta) em países desenvolvidos e aplicadas (expectativa de queda) em países emergentes.
Com exceção do Brasil, onde a Ibiuna está posicionada para juros e inflação mais altos. De Bolsa, o time de equities optou por posições defensivas, mas que Azevedo afirma estarem descorrelacionadas da estratégia macro.
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“Difícil encontrar empresas que conseguem performar num ambiente de juros em 15% de forma consistente. A visão geral é de indisposição em renda variável.”