É como um jogo confuso de cadeiras, mas para espaçonaves.
Originalmente, o plano era simples: a Nasa queria enviar um rover para procurar água congelada perto do polo sul da Lua. Ela contratou uma empresa privada, a Astrobotic Technology, de Pittsburgh, para fornecer a espaçonave que o colocaria na superfície lunar.
A estratégia da agência espacial está cada vez mais voltada para novas empresas espaciais que possam fornecer soluções mais rápidas e baratas do que ela própria poderia fazer.
Mas, em janeiro do ano passado, a primeira missão lunar da Astrobotic usando um módulo de pouso menor falhou em alcançar a Lua.
Depois, em julho, representantes da Nasa anunciaram o cancelamento da missão para coleta de gelo conhecida como Viper (Volatiles Investigating Polar Exploration Rover, algo como rover de exploração polar para investigação de voláteis).
As dúvidas da Nasa sobre o Viper abriram uma oportunidade para que outra pessoa reservasse essa viagem à Lua. Afinal, só porque a carga foi cancelada não significava que a jornada da Astrobotic estava cancelada —ela continua programada para o final deste ano. E, recentemente, uma pequena startup chamada Venturi Astrolab Inc. anunciou que havia aproveitado a oportunidade para acelerar seus próprios planos de um rover lunar.
"Estamos animados para colocar as rodas no chão neste ano e ver o desempenho da nossa tecnologia", disse Jaret Matthews, CEO da Astrolab. (Apesar dos nomes semelhantes, as duas empresas não são relacionadas.)
Muitas pessoas dentro e fora da Nasa ficaram perplexas com o cancelamento do Viper, porque o rover, embora acima do orçamento e atrasado, já estava concluído. Ele precisava apenas de mais uma rodada de testes antes de estar pronto para o lançamento. Representantes da Nasa disseram que, em vez disso, o rover concluído seria desmontado.
Além disso, a Nasa ainda deve pagar US$ 323 milhões à Astrobotic. Assim, cancelar a missão traz uma economia para a agência de uma quantia relativamente pequena —US$ 84 milhões— depois de ter gasto cerca de US$ 800 milhões.
Pelo seu pagamento, a Astrobotic conduziria a missão conforme planejado, mas a espaçonave de pouso, conhecida como Griffin, carregaria um peso fictício não funcional em vez do Viper.
Representantes da Nasa afirmaram que, para a Astrobotic, realizar um pouso lunar com sucesso já era um exercício valioso, e que a empresa estava livre para vender o espaço de carga no Griffin para outro cliente, caso conseguisse, substituindo o peso fictício.
"Tivemos mais de 60 organizações de todo o mundo batendo à nossa porta", disse John Thornton, CEO da Astrobotic.
A Astrolab, disse Thornton, foi a melhor combinação. "Eles podiam se mexer rapidamente", afirmou o CEO. "Eles tinham uma carga que já correspondia às interfaces do módulo de pouso."
O rover que será carregado pela Astrolab nesta missão também é aproximadamente do mesmo tamanho que o Viper. Matthews se recusou a dizer quanto a Astrolab estava pagando à Astrobotic.
A Astrolab está desenvolvendo um rover do tamanho de um Jeep Wrangler que poderia conduzir autonomamente cargas ou pessoas pela superfície lunar. A empresa o chama de Flex, abreviação de Flexible Logistics and Exploration Rover (algo como rover flexível de logística e exploração).
O Flex é muito grande e pesado para caber no módulo de pouso da Astrobotic. A Astrolab já reservou espaço para o Flex em um voo futuro do Starship, a espaçonave gigantesca em desenvolvimento pela SpaceX, a empresa de foguetes fundada por Elon Musk.
Mas antes de enviar o Flex para a Lua, a Astrolab quer enviar um rover menor, de pouco mais de 450 kg, chamado Flip —abreviação de Flex Lunar Innovation Platform (plataforma de inovação lunar flex)— para testar tecnologias como baterias, motores, sistemas de energia e comunicações. Um objetivo particular é estudar como minimizar problemas causados por partículas de poeira lunar, que são angulares e afiadas.
O pequeno Flip é o que o Griffin da Astrobotic levará para a Lua.
Matthews disse que o Flip também carregará algumas cargas comerciais que seriam anunciadas mais tarde.
Apesar do fracasso da Astrobotic no ano passado, Matthews disse que tinha confiança na Astrobotic. "Do nosso ponto de vista, é na verdade uma maneira de reduzir o risco para nossas missões subsequentes. Se não tivéssemos total confiança na Astrobotic, não estaríamos fazendo isso."
Thornton afirmou que o ano passado foi de introspecção para a empresa.
Apesar dos esforços da Nasa para encerrar o Viper, o rover não está morto nem ainda desmontado. Ela pediu e recebeu propostas para continuar a missão sem investimentos adicionais próprios.
A agência espera tomar uma decisão neste verão. Mas, com a nova administração Trump indicando mais interesse em Marte do que na Lua, tudo pode mudar em breve.
Thornton disse que a Astrobotic não estava se preocupando com essa possibilidade ainda. "Certamente há muita conversa em Washington. Mas agora estamos focados no que a Nasa nos contratou para fazer, que é entregar o Griffin à superfície da Lua."
Segundo Matthews, se a Nasa realmente fizesse uma mudança brusca em direção a Marte, a Astrolab poderia se adaptar também. "Sempre nos consideramos um negócio multiplanetário", disse ele, "e ficaríamos animados em ir para Marte também."