A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou nesta segunda-feira (4) uma nova terapia para câncer de pulmão chamada tarlatamabe, da farmacêutica Amgen. Segundo especialistas, a taxa de resposta do medicamento pode ser até três vezes maior do que a dos tratamentos disponíveis atualmente.
A tarlatamabe é indicado para pacientes que têm câncer de pulmão de pequenas células e que já tentaram outras linhas de tratamento, mas pararam de responder aos medicamentos.
Segundo Gilberto Castro, oncologista do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês e chefe da área de oncologia torácica no Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), o câncer de pequenas células é o tipo mais agressivo no pulmão, embora não seja o mais comum. "É um tumor muito agressivo, e quando é diagnosticado, o paciente já apresenta alguma metástase", diz.
O médico explica que, devido à metástase, a primeira linha de tratamento costuma ser a quimioterapia, seguida pela imunoterapia. "O problema é que, depois de cerca de nove ou dez meses, o tumor volta a progredir, e ele para de responder à medicação."
Os tratamentos usados hoje nesse estágio da doença, segundo o oncologista, têm uma baixa eficiência, com 10% de taxa de resposta, no máximo. A proposta da nova droga é ser aplicada nessa fase do tratamento.
A tarlatamabe é uma molécula que liga as células do sistema imunológico às células cancerosas. Assim, as células imunes conseguem produzir substâncias que causam buracos na superfície da célula do tumor e levam à morte dessa célula.
Nos ensaios clínicos, o efeito colateral mais comum do tratamento foi a síndrome de liberação de citocinas, uma condição que ocorre quando o sistema imunológico do corpo responde de forma agressiva a infecção ou medicamentos imunoterápicos.
No entanto, a taxa de resposta objetiva do medicamento é de 40%. "Esses pacientes finalmente tiveram uma esperança real de poder viver mais", ressalta Gilberto.
Nos EUA, o medicamento teve a aprovação da FDA (agência americana que regulamenta drogas e alimentos) em maio deste ano. O preço para o medicamento no país pode chegar a US$ 31.500 (cerca de R$ 161 mil) para o primeiro ciclo e US$ 30 mil (ou R$ 153 mil) para infusões adicionais. Para um ano de tratamento, o preço chegaria a US$ 781.500 (aproximadamente R$ 4 milhões).
Segundo a Amgen Brasil, após a aprovação da Anvisa, o medicamento ainda precisará ter o preço estipulado pela CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos) antes de ser disponibilizado para a população.
A maioria dos brasileiros com câncer de pulmão começa o tratamento já no estágio mais avançado da doença, segundo o levantamento "Câncer de Pulmão no Brasil: por dentro dos números", divulgado pela Fundação do Câncer em maio deste ano. A pesquisa revela que 63,1% dos homens e 63,9% das mulheres com o diagnóstico são atendidos já no estágio IV.
Alfredo Scaff, epidemiologista e consultor médico da Fundação do Câncer, diz que o diagnóstico precoce dessa neoplasia é um desafio para todos os sistemas de saúde do país, inclusive os da área privada, como os de planos de saúde.
Isso porque, além dos sintomas mais brandos no começo da doença, a sintomática inicial, como dores no peito, tosse e expectoração com sangue, são comuns a outras doenças, como tuberculose.
No Brasil, a incidência e a mortalidade associadas à neoplasia pulmonar ainda são consideradas altas. A estimativa do Inca (Instituto Nacional de Câncer) é de que, apenas em 2024, surjam mais de 32 mil casos novos de câncer de pulmão no país, sendo 18 mil entre homens e 14 mil entre mulheres. Em 2022, 29 mil mortes foram provocadas pela doença.
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