Comprar ou alugar um imóvel? Essa é uma das decisões financeiras mais importantes da vida de qualquer pessoa. Muitos acreditam que comprar é sempre a melhor opção, mas será que faz sentido do ponto de vista financeiro? A resposta depende de dois cenários distintos: quem já tem o dinheiro para comprar e quem precisa financiar. Simplifico sugerindo uma regra de bolso para comparar as alternativas.
Primeiro, vamos analisar pela perspectiva de quem já tem recurso disponível para adquirir um imóvel. Nesse caso, é necessário comparar o custo do aluguel com o retorno que obteria investindo esse dinheiro.
Uma métrica prática é a regra dos 200, que diz que o aluguel vale a pena se o preço do imóvel for superior a 200 vezes o valor da locação mensal.
Por exemplo, se um apartamento custa R$ 1 milhão e o aluguel for inferior a R$ 5.000, financeiramente faz mais sentido alugar e deixar o dinheiro investido. Nesse caso, assume-se que, no longo prazo, o imóvel se valoriza com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Essa premissa é próxima da realidade quando se avalia longos períodos.
Com as atuais taxas de juros, um investimento seguro —como um título com retorno de IPCA + 7% ao ano— renderia muito mais do que os 5% anuais típicos do aluguel, gerando ganho de capital no longo prazo.
Folha Mercado
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Já para quem não tem o dinheiro e precisa financiar, que é o caso da grande maioria das pessoas, a conta muda. O custo de um financiamento hoje está entre 13%, o que representa aproximadamente IPCA + 7,5% ao ano.
Isso significa que, se uma pessoa comprar um imóvel financiado, estaria assumindo um custo financeiro superior ao que teria simplesmente alugando e investindo a diferença.
Muitos argumentam que estariam apenas trocando a despesa de aluguel pelo financiamento e que ainda terminariam com o imóvel no fim do período. Parece um bom argumento.
Entretanto, é importante considerar que esse recurso está sendo alocado em um ativo que tem o retorno do aluguel, ou seja IPCA + 5% ao ano. Afinal, é possível alugar o imóvel a um terceiro.
Portanto, surge uma importante questão a ser avaliada: compensa tomar dinheiro emprestado a um custo maior que o retorno esperado do ativo? A matemática financeira diz que não.
Portanto, no caso do financiamento, a regra dos 200 fica defasada e deveria ser elevada para incluir o custo do financiamento, que aumenta o valor pago pelo imóvel. Considerando que o financiamento eleva em pelo menos 50% o valor real do imóvel, a regra saltaria para 300.
Também devemos lembrar que quem aluga não está sujeito a uma série de despesas de manutenção exigidas do proprietário.
Para aqueles que ainda preferem a segurança de um imóvel próprio, uma alternativa inteligente é alugar e investir até conseguir comprar à vista ou dar uma entrada substancial. Assim, evitam-se os juros altos, e a compra se torna muito mais vantajosa no longo prazo.
No fim das contas, a melhor escolha não é apenas entre comprar ou alugar, mas sim entre ter liberdade financeira ou comprometer o patrimônio. O imóvel pode ser um sonho, mas um financiamento caro pode transformá-lo em um pesadelo financeiro. Se a decisão for bem planejada, é possível morar onde quiser sem sacrificar as finanças.