Agro precisa ir além do 'dever de casa' para enfrentar queimadas

há 4 meses 15

O interior de São Paulo foi salvo pela chuva deste fim de semana da possibilidade de incêndios de vegetação ainda mais catastróficos do que os que andaram acontecendo em várias regiões do estado. A diminuição do problema em solo paulista, é claro, não deveria trazer complacência, em especial porque boa parte do país, em especial no Centro-Oeste e na região amazônica, continua sob ameaça das chamas. Mas, mesmo dentro das fronteiras estaduais, é ilusão achar que conflagrações desse tipo não correm risco de acontecer de novo em breve.

Incêndios desse tipo são quase invariavelmente criminosos, mas até agora a situação parecia se resumir a crimes de pequena escala -- gente descuidada querendo limpar chácaras, terrenos ou loteamentos da maneira mais preguiçosa possível, provocando um fogo que depois se alastra sem controle. Desta vez, há alguns indícios preocupantes de atividade mais coordenada, pela aparente simultaneidade de muitos focos de incêndio, mas ainda é cedo para dizer de onde estaria vindo essa coordenação, se é que ela existe. Qualquer coisa que se afirme agora é especulação.

Além de reforçar o monitoramento dos incêndios e a resposta rápida a ele em todos os níveis governamentais, dos municípios ao governo federal, há ao menos uma coisa que precisa ser feita a partir de agora. O agronegócio, a começar pelas associações de produtores de cana, afirmam defender a sustentabilidade e serem contrários ao uso do fogo em seu trabalho. Pois bem: é hora de o agro ir além disso, e com urgência.

Para começo de conversa, já está claro que o clima da maior parte do país já se tornou quente e seco demais para que o uso do fogo para manejo agrícola, EM QUALQUER ESCALA, seja aceitável. As associações do agronegócio deveriam patrocinar, para ontem, um pacto nacional de "fogo zero", no mesmo formato do organizado para a moratória da soja e da carne oriundas do desmatamento ilegal, que funcionou nas primeiras décadas deste século.

Há muito mais a fazer, no entanto. Parte da vulnerabilidade ao fogo que está se contabilizando em grande parte das paisagens naturais e antrópicas (moldadas pelo homem) no Brasil não depende só da crise climática global, mas também de fatores locais. Isso inclui a magnitude gigantesca da conversão de ambientes florestais em monocultura.

Se o agro realmente quer mostrar seu compromisso com a sustentabilidade, e quer evitar mais canaviais devorados pelas chamas no futuro, deveria mostrar esforços muito mais consistentes para repor e ampliar reservas legais de vegetação nativa e áreas de preservação permanente, que continuam sendo mera ficção legal em muitos lugares, inclusive no estado de São Paulo.

Algo me diz que o compromisso com a sustentabilidade do agro, nesse caso, irá apenas até a página 2. Mas é o que precisa ser feito.

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