Acordo com FMI, eleições e reservas baixas do BC: Argentina vive “estresse” cambial

há 1 dia 3

A Argentina entrou numa fase de estresse cambial preocupante em março, que ficou mais aguda nas duas últimas semanas. As cotações paralelas de dólar, como o “blue” (a mais usada nas ruas) e as financeiras “MEP” e “CCL” bateram nos 1.300 pesos, um valor não observado há pelo menos seis meses. Com isso, a “brecha” em relação à cotação oficial do BC (por volta de 1.100 pesos) passou dos 20%. Tudo isso está ligado a incertezas em relação a um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em negociações adiantadas.

Na semana passada, para tentar acalmar o mercado, o ministro da Economia, Luís Caputo, revelou que as conversas com o Fundo giram em torno de US$ 20 bilhões e que não haverá exigência de desvalorização acentuada da moeda. Mas é cada vez mais clara a convicção que o organismo vai exigir mudanças na política cambial, para um modelo mais flexível.

O regime em vigência na Argentina hoje é o de câmbio fixo e com rigoroso controle, o famigerado “cepo”, que impõe limites para a compra de dólares e sobre operações de comércio exterior.

O governo vem adotando a estratégia de fazer pequenas desvalorizações (“crawling peg”), de 1% ao mês, mas como esse patamar é inferior à atual inflação mensal, o câmbio local está “atrasado”, tornando o país mais caro em dólar.

Especialistas em dólar e fontes citadas em “off” têm dito à imprensa local que o FMI vai pedir a estipulação de regras para uma transição entre esse modelo rígido e um de câmbio flutuante, provavelmente passando pela adoção do sistema de bandas.

Esse regime, que foi usado pelo Brasil na segunda metade dos anos 1990, estipula a adoção de uma margem de tolerância onde o câmbio pode operar e, quando essa banda é rompida, o Banco Central pode intervir comprando ou vendendo moeda.

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Desde a campanha eleitoral, o presidente Javier Milei vem criticando o “cepo”, por entender que ele limita o potencial de investimentos estrangeiros no país, entre outros problemas. Mas ele também colocou etapas para que seja possível flexibilizar o regime sem gerar uma volatilidade muito intensa, que acelere a inflação.

Uma dessas etapas é que o Banco Central consiga um colchão de reservas cambiais mais confortável para reagir a pressões. Embora as reservas brutas do BC hoje estejam em US$ 26 bilhões, calcula-se que o Banco tem reservas líquidas negativas entre US$ 6 bilhões e US$ 8,5 bilhões. Por isso, alcançar um bom acordo com o FMI é tão importante.

Mas nem os US$ 20 bilhões anunciados seriam suficientes. Esse acordo se refere, na verdade, a um adiantamento para pagar o próprio fundo: a Argentina tem vencimentos próximos, do acordo anterior, que somam cerca de US$ 15 bilhões. Além disso, qualquer valor em negociação hoje teria desembolsos graduais.

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Assim, será necessário recorrer a outros organismos, como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Corporação Andina de Fomento (CAF) para ajudar a erguer esse “muro” cambial. A estimativa é que viriam mais US$ 25 bilhões dessas entidades.

Todo esse momento de estresse com a moeda acontece em meio à preparação para as eleições parlamentares na Argentina, que vai renovar metade da Câmara e um terço do Senado em novembro. Essa disputa pode ser crucial para que o partido do presidente Javier Milei (“A Liberdade Avança”) consiga eleger representantes suficientes para facilitar a tramitação de reformas estruturais sem depender dos votos de apoiadores eventuais, como os partidos PRO (do ex-presidente Mauricio Macri) e da União Cívica Radical (UCR).

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