Ações dos EUA sobem mais de 20% pelo segundo ano consecutivo

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O índice S&P 500 dos EUA subiu mais de 20% pelo segundo ano consecutivo, à medida que o entusiasmo dos investidores com a inteligência artificial impulsiona ganhos em ações de tecnologia de megacapitalização.

Apesar de fortes movimentos de venda em dezembro, o índice de ações de primeira linha —apelidadas de "blue chips", no jargão econômico— terminou 2024 com alta de 23,3%, após subir 24,2% em 2023. O índice, com isso, registrou ganhos anuais de mais de 20% quatro vezes nos últimos seis anos.

O desempenho do S&P 500 contrasta com os mercados europeus, com o Stoxx 600 ganhando 6% e o FTSE 100 subindo 5,7%. O índice MSCI, de ações asiáticas, subiu 7,6%.

"O mercado dos EUA raramente tem um desempenho tão excepcional como esse", diz Michael Metcalfe, chefe de estratégia macroeconômica da State Street Global Markets.

As ações de Wall Street também foram impulsionadas por cortes nas taxas de juros pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) pela primeira vez desde a pandemia de Covid-19 e por dados econômicos resilientes que tranquilizaram os investidores de que os EUA estão caminhando para um pouso suave.

As expectativas de cortes de impostos e regulamentações mais flexíveis durante o segundo mandato de Donald Trump como presidente também impulsionaram os ganhos nos últimos meses.

Benjamin Bowler, estrategista do Bank of America, afirma que a política econômica de Trump, que presa por liberalismo, cortes de impostos e desregulamentação, significa que a boa maré provavelmente vai continuar em 2025, somada à potencial "revolução de IA".

Embora 2024 tenha sido indubitavelmente "um bom ano" para o mercado de ações dos EUA, "pode ser apenas o começo", disse ele.

Mas Chris Jeffery, chefe de macroeconomia da gestora de fundos Legal & General Investment Management, com ativos de US$ 1,4 trilhões (R$ 8,6 trilhões) diz que há "sinais de alerta que devem impor um pouco de cautela".

A diferença entre as futuras relações preço-lucro de ações dos EUA e da Europa só pode ser justificada se "você acreditar que os últimos 10 anos [de crescimento dos lucros impulsionado pela tecnologia nos EUA] podem continuar, e continuar por um tempo bem longo".

Folha Mercado

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Os investidores também tiveram que reduzir as expectativas de cortes nas taxas ao longo do próximo ano. Com a inflação ainda acima da meta, as previsões divulgadas pelo Fed sugerindo que as taxas de juros cairão em 2025 menos do que se esperava anteriormente causaram a pior sessão do S&P 500 em quatro meses no início de dezembro. Isso diminuiu o entusiasmo dos investidores após a vitória eleitoral de Trump em novembro e ajudou a empurrar o índice para baixo em 2,5% em dezembro.

As ações de tecnologia de megacapitalização, incluindo as chamadas Magnificent Seven ("as sete magnifícas"), —Apple, Microsoft, Meta, Amazon, Alphabet, Nvidia e Tesla— , foram novamente a força dominante no mercado dos EUA.

Os otimistas argumentam que o crescimento dos lucros das Big Tech e o potencial da IA para impulsionar a produtividade justificam as avaliações.

Mike Zigmont, co-chefe de negociação e pesquisa do Visdom Investment Group, afirma que, salvo um colapso na receita, as Magnificent Seven permanecerão populares em 2025 devido aos retornos desproporcionais que entregaram no passado. "Os investidores simplesmente as procuram", disse ele.

Mas os ganhos levam comentaristas pessimistas a fazer comparações entre o mercado concentrado de hoje e a bolha tecnológica que estourou na virada do milênio.

Em contraste com os ganhos do setor de tecnologia, as empresas de materiais industriais estiveram entre os piores desempenhos do S&P 500 em 2024, à medida que a economia em dificuldades da China e os temores de uma recessão nos EUA, que ainda não se materializou, prejudicaram o apetite dos investidores.

Períodos de volatilidade interromperam brevemente a ascensão constante do S&P 500. Além da queda de dezembro, as ações caíram acentuadamente no início de agosto, com perdas se estendendo além do setor de tecnologia.

No entanto, no início de dezembro, a exposição líquida longa dos gestores de ativos ao S&P 500 havia subido para o nível mais alto em mais de 20 anos, de acordo com a pesquisa mensal do Bank of America com gestores de fundos globais, indicando um "sentimento super otimista". Enquanto isso, o entusiasmo dos investidores de varejo pelos ganhos do mercado de ações no próximo ano nunca foi tão alto, de acordo com o Deutsche Bank.

No entanto, o índice de surpresas econômicas dos EUA, amplamente observado pelo Citi, caiu nas últimas semanas, indicando que o momento econômico está tendendo a ser mais fraco do que o esperado. Alguns analistas dizem que o crescimento lento na quantidade de dinheiro circulando na economia dos EUA, os altos rendimentos do Tesouro e o dólar forte apontam para uma potencial contração econômica em 2025.

Os investidores venderam ações de tecnologia nos últimos dias, enquanto o índice Russell 2000 de ações de pequena capitalização caiu ainda mais em relação ao recorde de novembro. O S&P 500 ponderado igualmente, que dá um peso de 0,2% a cada componente, perdeu 6,6% no último mês.

A concentração de retornos nas Big Tech permanecerá um "negócio doloroso" para fundos de investimento que só podem deter uma quantidade limitada de ações individuais, diz Charlie McElligott, estrategista da Nomura.

Os investidores "simplesmente não conseguem ter o suficiente" das maiores empresas, acrescentou.

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