A verdade sobre dividendos: o preço importa mais do que você pensa

há 2 meses 4

Imagine que você comprou uma casa charmosa com a intenção de alugá-la e garantir uma renda extra. Você está feliz com o aluguel mensal pingando na conta, mas decide ignorar completamente o valor de mercado do imóvel. Afinal, o objetivo é o aluguel, certo? Mas o que aconteceria se, de repente, os imóveis do bairro começassem a perder valor rapidamente? Será que seu inquilino continuaria disposto a pagar o mesmo preço de antes, quando as casas ao redor estão todas com placas de "aluga-se" por valores bem menores?

Essa é a pergunta que muitos investidores fazem ao comprar ações, fundos imobiliários (FIIs) ou outros ativos focados em dividendos. O preço do ativo realmente importa se o objetivo é o rendimento? A resposta é um sonoro "sim".

Voltando ao exemplo do imóvel, se o valor do imóvel desaba, é provável que o aluguel também caia. O preço do imóvel, afinal, reflete as condições do mercado local, as perspectivas do bairro, e, claro, o potencial de valorização e locação.

A mesma lógica se aplica a ações e FIIs. Quando o preço de uma ação começa a cair consistentemente, pode ser um sinal de que o lucro da empresa, e consequentemente seus dividendos, podem diminuir no futuro.

O mercado está sempre antecipando mudanças, seja nos resultados financeiros, seja nas condições econômicas de forma geral. Quando falamos das condições econômicas, um crescimento menor do país ou uma restrição do crédito por aumento de juros podem reduzir as vendas e, consequentemente, os lucros da empresa. Lembre-se, seu dividendo é uma proporção do lucro e você sabe que o preço da ação acompanha o crescimento dos lucros. Logo, se o preço está caindo, isso quer dizer que seus dividendos vão cair. Ou seja, a trajetória do preço do ativo importa muito.

Mas, preço cair nem sempre é um sinal negativo sobre os lucros da empresa ou sobre o FII. Também pode ser uma simples condição relativa de mercado. Por exemplo, uma queda no preço também pode refletir o aumento do custo de oportunidade para outros investidores.

Por exemplo, se as taxas de juros sobem bastante, como agora. O investidor, que antes estava satisfeito com seus dividendos, agora começa a se perguntar: "Será que não é melhor migrar para algo com menos risco e um retorno garantido?" Para compensar essa mudança de cenário, o mercado pode exigir uma taxa de dividendos maior, ou seja, um retorno adicional pelo risco do ativo. Isso significa que, para atrair investidores, o preço das ações ou cotas de FIIs precisa cair, aumentando o retorno percentual dos dividendos. Parte do movimento de mercado negativo de ações e FII atual pode ser explicada por este efeito.

O que fica claro é que, positivo ou negativo, o preço do ativo carrega informações importantes. Ignorar o valor de mercado pode resultar em uma surpresa desagradável quando os dividendos esperados não se concretizam como planejado. Lembre-se: o rendimento total de um ativo é composto tanto pelos dividendos quanto pelo ganho (ou perda) de capital. Não adianta se apegar aos rendimentos de um lado se o preço do ativo está desabando do outro.

Essa questão do rendimento total fica ainda mais evidente quando o investidor compreende a dinâmica de ajuste de preço quando o dividendo é pago. Quando um dividendo de ação ou FII é declarado, o preço do ativo diminui do mesmo valor monetário do dividendo. Afinal, seu dividendo saiu do caixa do ativo. Muitos investidores não compreendem esse ajuste e não percebem que, em muitos casos, o retorno recebido foi muito menor do que o imaginado.

Portanto, da próxima vez que você pensar que só os dividendos importam, pare e dê uma olhada no preço. Ele pode estar tentando te dizer algo importante sobre o futuro daquele ativo. Afinal, você quer ganhar dinheiro ou perder oportunidade? Acompanhar o preço e valor de um ativo não é só uma questão de curiosidade, é uma estratégia inteligente para proteger seu patrimônio. Então, da próxima vez que o mercado piscar uma luz vermelha, esteja atento. Um bom investidor sempre escuta o que o preço tem a dizer.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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