A Ciência brasileira atende ao chamado

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Começou, no dia 30 julho, a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI) do Brasil. É a primeira vez, em 14 anos, que governo e sociedade civil se reúnem com o objetivo de atualizar a Política Nacional de Ciência e Tecnologia, e o encontro vem em um momento não apenas oportuno, mas urgente.

Nesses 14 anos, enfrentamos uma pandemia que deixou mais de 700 mil mortos no Brasil. Essa pandemia veio acompanhada por uma onda de negacionismo, capitaneada por aqueles, como o ex-presidente Jair Bolsonaro, que deveriam estar atuando para salvar vidas e proteger a nação.

Mas isso não é tudo: a década que se passou foi marcada por cortes orçamentários nas universidades, responsáveis por 90% da ciência e tecnologia produzidas no Brasil. Enquanto o mundo aposta no investimento em pesquisa para tentar encontrar soluções para alguns dos graves problemas coletivos enfrentados pela humanidade, a realidade brasileira foi de cortes que chegaram a mais de 50% em instituições de pesquisas e universidades como mostra o Painel do Financiamento do SoU_Ciência.

Neste mesmo período vivemos uma pandemia, que foi a maior crise sanitária de nossas gerações. Apesar de termos um cenário tão desfavorável em termos de político e de investimentos, a ciência brasileira nos mostrou sua capacidade instalada, o compromisso de pesquisadores e pesquisadoras e de nossas instituições, como universidades e institutos, que entregaram soluções a partir de evidências científicas. A pandemia abriu os olhos dos próprios cientistas e da sociedade para a possibilidade de criar e proteger, não só a saúde, mas a vida.

E é nesse clima que a 5ªCNCTI realizou ontém a sua abertura histórica. A partir de uma solicitação do Presidente da República, a comunidade científica se mobilizou e entregou um Plano Nacional para o desenvolvimento da Inteligência Artificial. A entrega ocorrida durante a cerimônia de abertura foi uma resposta, mas também uma demonstração da enorme capacidade instalada que pode ser bem conduzida, apoiada com investimentos e levada a trazer benefícios a toda população. Com investimentos de 23 bilhões de reais, o plano visa a integração de diversas bases de dados, a utilização de instrumentos e ferramentas em nosso próprio idioma e que estarão voltados a dar respostas rápidas em diversas áres. O Brasil se destaca por ter grandes bases de dados em diversas áreas mas que estão segmentados. A palavra de ordem agora é formação de uma grande base nacional que utilizada ferramentas em portugues.

A Conferencia segue até o dia 1 de agosto, depois de discutir diversos outros temas e as possibilidades de criação de novos Planos para a área de energia renováveis, de mudanças climáticas, para a produção de fármacos e tantas outras que poderão trazer soluções e a formulação de uma Estratégia Nacional. O objetivo é apresentar muitos planos, factíveis, viáveis, mas também ousados e à altura do que o Brasil precisa.

Tudo isso e o investimento necessário, serão importante para que a produção científica brasileira, que já ocupa o 13º lugar no mundo, possa recuperar o espaço perdido durante os anos de cortes e de pandemia e que hoje se reflete, como mostrou o relatório produzido pela Agência Bori e pela Elsevier e que aponta que científica brasileira enfrenta seu segundo ano consecutivo de queda. Essa queda, é importante destacar, é resultante de um efeito de médio prazo, que os especialistas afirmam estar relacionado principalmente à queda de investimentos.

Cabe destacar, ainda, que, de acordo com o mais recente relatório de ciências da Unesco, o Brasil se destaca principalmente em publicações de temas relacionados ao conhecimento tradicional, pequenos produtores de alimentos, uso sustentável de ecossistemas, e biodiversidade terrestre, que impactam em alguns dos principais desafios da humanidade, como a garantia da segurança alimentar e a preservação da biodiversidade no planeta.

Por outro lado, o momento da 5ª Conferência se destaca, trazendo um clima positivo para uma recuperação. Desde sua preparação, a CNCTI demonstrou a tônica positiva, a partir da realização de Conferências Livres, que permitiram levar o debate sobre ciência e tecnologia para além das universidades, ampliando o alcance da discussão pelos vários cantos do país. As Conferências Livres organizadas pelo SoU_Ciência trouxeram debates sobre a participação dos movimentos sociais e da democracia na ciência.

O momento, portanto, é de debate, que deve acontece a partir de uma reflexão séria, não apenas sobre a ciência que queremos, mas como essa ciência pode atuar de forma efetiva diante dos maiores desafios do Brasil e dos brasileiros e brasileiras, e quais são os recursos e os caminhos necessários para permitir essa atuação. A comunidade científica brasileira já demonstrou que é capaz de realizar e apresentar e quer continuar.

A expectativa, agora, é que a Conferência Nacional reúna cada vez mais essas vozes em planos estratégicos e em uma política plural, robusta e atualizada diante dos desafios do planeta e do país, e que essa política seja efetivamente implementada, para que possamos avançar na construção de uma ciência nacional forte, descentralizada, democrática e cidadã.

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